A edição 103 da revista, de janeiro de 2012, trouxe na capa um caminhão movido a gás para operações urbanas, e que estava em testes na empresa Braspress. Confira reportagem da época, e todos os detalhes do modelo, na série Baú da TRANSPORTE MUNDIAL.  

Dentro de suas ações sustentáveis, a Braspress, gigante na entrega de encomendas, deu início aos testes com um caminhão a gás natural. Segundo Urubatan Helou, diretor-presidente da Braspress, o objetivo do projeto era colaborar com a redução dos níveis de emissões de gases na atmosfera e a redução dos custos com combustível. O caminhão, um modelo Mercedes-Benz Atego 1315, equipado com motor sistema diesel-gás flex está há quase dois meses operando com porcentagens de gás variáveis, que chegam a 95% de uso de gás natural. 


O projeto, ainda piloto, faz parte de uma parceria que a transportadora mantém com a Ecomotors – uma empresa que integra soluções nesse sentido, fazendo toda a implantação, desde o comodato do sistema de abastecimento de GNV (gás natural veicular) na garagem da companhia, até a instalação dos sistemas de gerenciamento do motor e armazenamento de GNV nos veículos.


Isso é possível porque a Ecomotors é uma empresa cujo seu grupo econômico está ligado a Petrobras – o que a permite implantar este sistema, inclusive em outras aplicações e veículos. O curioso é que a Ecomotors oferece a solução completa sem que a empresa, no caso a Braspress, tenha de fazer investimentos. Por se tratar de um projeto-piloto com a transportadora – há apenas um veículo em teste – ele está sendo tratado como uma parceria. 

“Na prática, toda a parte de instalação de sistemas que é realizada no veículo é por meio de um contrato de comodato e, posterior a isso, quando a Braspress implantar a tecnologia em outros veículos de sua frota, será viável fazermos toda a estrutura necessária de abastecimento, além de desenvolver a pós-venda e instalar sistemas de telemetria de frota, que ficam por nossa conta, inclusive a construção do espaço para colocar o tanque de abastecimento do GNV. A transportadora só pagará pelo combustível. Uma estrutura dessa só vale a pena ser feita, no caso da Braspress, quando 30 caminhões estiverem equipados com a tecnologia”, explica Luciano Vilas Boas Júnior, gerente de novos negócios da Ecomotors.

A Ecomotors mantém parceria com a DSA, empresa que há 15 anos desenvolve sistemas de gerenciamento para motor e que fez o propulsor DSA DualFlex para o Atego 1315. Para se ter uma ideia, o caminhão passou por 200 mil quilômetros de testes em dinamômetro, além de avaliações extensivas no intuito de ajustar a calibração do sistema às necessidades específicas da operação e manter o máximo possível as características originais do veículo. Trata-se de um motor de gerenciamento eletrônico, mas que gerencia a injeção de um segundo combustível que é o gás natural, neste caso, o combustível principal do veículo. 

Foi retirada a caixa eletrônica original e trocada por uma da DSA que controla a injeção de diesel e de gás, e para isso foi feita a instalação de injetores de gás. E por definição de projeto não houve a necessidade de alterar o chassi do veículo ou algo correspondente a sua estrutura, a não ser a implantação de dois cilindros de gás com 2,27 cm³ cada – que lhe confere uma autonomia de 250 quilômetros. Obviamente a quantidade ou dimensão de cilindros será de acordo com a aplicação do veículo. 

O caminhão pode andar 100% movido a diesel, mas não 100% a gás. “Como o motor não foi modificado, o diesel queima por compressão, os pistões sobem, esquentam o ar e injetam o diesel. Com o gás isso não é possível. Então para que o motor funcione, ou coloca uma vela de ignição (como nos carros de passeio) ou usa uma artimanha, em que o sistema eletrônico injeta um pouquinho de diesel, fazendo o papel da vela e foi o que fizemos. É por esta razão, é possível rodar com 95% de gás e o que tiver de diesel para fazer a queima”, explica Daniel Sofer, diretor de engenharia da DSA.


Ao longo dos testes foi encontrada uma porcentagem ideal para o uso de gás ou diesel. O sistema por ser inteligente possui um ponto ideal para qual combustível usar de acordo com cada rotação do motor. Esse é um diferencial da tecnologia GNV da DSA em relação ao convencional comumente usado na frota de táxi. Este possui um sistema único para toda frota e não é calibrado para cada modelo de veículo, sendo um kit de conversão padrão. Mas segundo Sofer, o sistema da DSA é o mesmo, são parâmetros que permitem otimizá-lo de acordo com o modelo do caminhão, seu tamanho e aplicação. Neste caso, tanto a Ecomotors como a DSA não veem restrições no uso dessas tecnologias em outras atividades de transporte. Inclusive as empresas vão iniciar testes com veículos para uso fora de estrada.

Apesar de o Atego da Braspress não ter sido homologado, pois ele é único nesse setor, pelas respostas dos testes ele mostra ser equivalente ao Euro 5 sem a injeção de Arla 32. Sobre a durabilidade dos componentes do caminhão com o uso de gás natural veicular, Sofer explica que o gás natural tende a reduzir desgastes. O óleo lubrificante é menos contaminado pelo diesel, os componentes que têm contato direto com o motor duram mais. “Mas isso é possível por causa do bom gerenciamento do sistema, do motor com calibração e mapeamento muito cuidadosos”.


Urubatan Helou Júnior, controller de frota da Braspress, comenta que o projeto veio ao encontro do que a Braspress almeja que é inovação e que até os próximos 12 meses possivelmente a transportadora estará com pelo menos os 30 caminhões rodando com GNV. “Vi duas pessoas jovens, o Daniel e o Luciano, que estavam fazendo algo novo. Nós da Braspress gostamos muito desse projeto porque ele não está à venda, não é um equipamento para compra, é um projeto que tem expertise no seu modo de operação. Além disso, ter a Petrobras ligada a Ecomotors aumentou ainda mais a credibilidade. Confesso que criei todas as dificuldades que impus a eles, mas todas elas foram desmistificadas”.