A cadeia e o roubo de carga

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Um tema em evidência, o roubo de carga sempre ocupa espaço nos programas de jornalismo na nossa TV. Há alguns dias, assisti a mais um episódio desse filme: a prisão de um dos maiores ladrões de carga do Brasil, um criminoso especializado que tinha sob seu comando mais de 40 pessoas envolvidas nessa atividade criminosa. Uma organização só funciona bem quando tem um bom retorno e quando está muito bem relacionada com seu mercado. Quando digo “a cadeia”, estou me referindo a toda a estrutura que existe de pessoas e empresas ligadas ao roubo de carga.

Essa estrutura dá condições aos criminosos de agirem com a certeza de que terão seus produtos comercializados. O nível de detalhamento chega até em emissão de notas fiscais falsas para que o produto se torne procedente novamente. O governo, o poder público, as associações setoriais e a sociedade vêm buscando formas e leis que possam inibir esses crimes. Porém, a sensação de impunidade mantém o criminoso estimulado a continuar roubando, que por sua vez, é alimentado por essa “cadeia”. No meu entender, essa rede deveria ser penalizada de forma exemplar, com medidas de cassação e anulação de direitos comerciais das empresas receptadoras de carga roubada, além das punições aplicadas para as pessoas envolvidas.

Nenhum roubo de carga acontece sem que tenha um planejamento e identificação de cargas de alto valor agregado e de fácil escoamento, a exemplo dos eletroeletrônicos. Isso demonstra o grau de envolvimento e detalhamento que exige essa “cadeia”.

Mas o prejuízo não fica apenas para quem é roubado ou para as seguradoras, na verdade, os custos de segurança, monitoramento e rastreabilidade de uma carga estão a cada dia que passa, mais caros, e esse custo é repassado diretamente ao consumidor final. Então não estamos falando apenas de um setor que está sendo prejudicado, estamos falando de um dos principais setores da economia, que transporta 61% do PIB pelas rodovias do nosso país, se expondo às condições precárias de segurança e infraestrutura, refletindo diretamente no que chamamos de custo Brasil. 

É possível ver alguns resultados positivos isolados, porém ainda é muito pouco representativo diante de tantos roubos. O que devemos fazer com foco e muita persistência é acabar com a conhecida “cadeia”, pois só acabando com  isso é que vamos liquidar com o roubo de carga no Brasil.