Cargas indivisíveis: Mercedes, Volvo e Scania duelam

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Há fabricantes que têm um astro para mostrar. Neste caso são Volvo, Mercedes-Benz e Scania, que chamam a atenção do setor para seus superpesados direcionados ao transporte de cargas especiais. Veja um comparativo técnico entre essas supermáquinas, realizado em 2014, na série Baú da TRANSPORTE MUNDIAL.

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O segmento exige caminhões capazes de suportar cargas superdimensionadas. São toneladas em máquinas, transformadores, colheitadeiras, pás eólicas, entre outros, geralmente transportados em implementos especiais do tipo pranchas carrega-tudo.

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Há implementos que, quando se soma aos eixos do caminhão, possuem mais de 40 eixos e 200 pneus – por isso são conhecidos popularmente por centopeias. Essas cargas podem exceder os limites legais de pesos e dimensões e, por isso, em alguns casos necessitam de AET (Autorização Especial de Tráfego). E isso acontece quando ultrapassam 80 t de PBT (Peso Bruto Total) ou a altura e largura, os 5 metros, pois, dependendo do trajeto do veículo, pontes e viadutos podem ser prejudicados, mesmo a uma velocidade máxima de 20 km/h (bastante comum nessa operação). Dependendo do tipo de mercadoria, para fazer essa logística com mais desenvoltura, há empresas que usam dois caminhões, um tracionado no outro.
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E de olho nesse mercado, que é exigente e fatura milhões de reais por ano, ainda mais com o crescimento do país na produção de usinas hidrelétricas e na montagem de polos petroquímicos, as marcas, atrás de competitividade, estão abrindo o leque de opções para conquistar esse cliente.

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Veja os diferenciais dos três modelos mais Premium dessa categoria. Todos têm em comum a CMT de 250 t. Mas o Actros chega a 500 t, em situações especiais como a 20 km/h e inclinação máxima da pista de 1%, por exemplo.

O MAIOR DO MUNDO
Com previsão de entrega a partir de março, o representante da Volvo, o FH16 750 8×4 é o caminhão mais cobiçado do mundo, mesmo porque é o mais potente. Uma máquina com motor de 16 litros, de 6 cilindros em linha, de 750 cv de potência e absurdos 362 mkgf de torque máximo.

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A Volvo importou um lote com 30 unidades do modelo, e até o fechamento desta edição, já haviam sido vendidas 16 unidades ao preço de R$ 1 milhão cada.Entre os seus atributos estão os dois eixos dianteiros direcionais cuja direção é eletro-hidráulica, ou seja, controlada eletronicamente. Será vendido exclusivamente na configuração 8×4, que segundo Álvaro Menoncin, gerente de engenharia de vendas da Volvo do Brasil, é adequada para a operação com cargas especiais.

Outra vantagem é que, mesmo se tratando de um veículo importado, todas as peças são as dos modelos FH vendidos aqui, por isso os preços de pós-venda e manutenção serão quase os mesmos praticados pelas concessionárias da marca no país. “O motor é da Volvo Penta para barcos. É um caminhão vitrine para o transportador, pois é o mais potente do mundo e capaz de transportar cargas mais pesadas, e isso traz confiabilidade”, diz Menoncin.

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A transmissão é a I-Shift ATO3512D de 12 velocidades, que ganhou a função roda livre I-Roll, para proporcionar redução no consumo de combustível. É a mesma caixa equipada nos outros modelos da marca, porém, para o FH 16 ela foi reforçada para atender potência, torque e CMT.  As engrenagens são mais largas para suportar a atividade.

O freio motor VEB+ tem até 580 cv de poder de frenagem e é integrado à I-Shift e ao piloto automático. Quando combinado com o retarder, a potência de frenagem chega a 1 180 cv. Os eixos com redução nos cubos são dimensionados para o alto torque e o transporte de até 250 t.

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A relação de eixo traseiro é de 7,21:1 justamente para operar em baixa velocidade. A suspensão dianteira é parabólica com dois amortecedores de dupla ação e barra estabilizadora, já a traseira é pneumática com ECS (Suspensão com Controle Eletrônico), com seis amortecedores de dupla ação e barra estabilizadora. O sistema ECS, além de oferecer um elevado nível de conforto, protege a carga, pois se ajusta automaticamente, mantendo o caminhão a uma altura constante, compensando distribuições de cargas desiguais.

Para a segurança o FH16 8×4 tem farol auxiliar de conversão (para uso em manobras, pois ilumina o lado para o qual o caminhão vira), controle de tração, auxílio de saída em rampa, controle eletrônico de frenagem, faróis de xenônio, airbag e alcolock – equipamento que bloqueia a partida quando detecta que o motorista consumiu bebida alcoólica –, sensor de chuva e controle eletrônico de estabilidade.
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A cabine é a Globetrotter XL, que está 12% maior, com 2,20 m de altura. E o teto solar em vidro fumê traz a sensação de mais espaço. O motorista vai se deparar com um caminhão confortável, pensado em todos os detalhes para uma boa vida a bordo, a começar pelos bancos, com suspensão pneumática, revestidos em couro. O volante é ajustável e facilmente retrátil para entrar e sair da cabine. E ainda a Volvo dispõe de duas camas de série.

FEITO SOB MEDIDA
O Mercedes-Benz Actros 4160 AK, por sua vez, é o único em terras brasileiras com configuração 8×8 de fábrica. Produzido em Wörth, na Alemanha, o modelo foi desenvolvido para atender um cliente da Mercedes-Benz no Brasil, a Megatranz (especializada no transporte de cargas indivisíveis), empresa brasileira que é a maior da América Latina e a 13ª do mundo no segmento de transporte terrestre de cargas com peso superior a 100 toneladas. Essa classificação baseia-se no ranking organizado pela revista inglesa International Cranes and Specialized Transport, conforme sua edição de agosto deste ano.

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O caminhão tem motor Mercedes OM-502 LA, de 8 cilindros em V, com potência de 598 cv a 1 800 rpm e torque de 286 mkgf a 1 080 rpm. Esse motor trabalha em conjunto com o câmbio, também Mercedes, o G-280 Powershift de 16 velocidades, automatizado e sem anéis sincronizadores. Trata-se de um veículo dimensionado para suportar as exigências desse perfil de transporte, tanto que possui dois radiadores, sistema de refrigeração (adicional para o câmbio) e é  equipado também com uma embreagem de acoplamento hidráulico que proporciona manobras e partidas isentas de desgaste da embreagem seca. Além disso, o veículo conta com retarder integrado na embreagem e refrigeração adicional.

A embreagem de acoplamento hidráulico proporciona ao Actros SLT melhor capacidade de manobras, de condução e de tração em baixa velocidade, o que dá maior flexibilidade possível na operação. As grandes quantidades de calor geradas pelo motor e transmissão são dissipadas pelo sistema de arrefecimento de alto desempenho, que fica atrás da cabine.

Na prática esse sistema possibilita o acoplamento de vários caminhões tratores com equalização do movimento de tração e, ainda, permite a partida com menores rotações e o máximo torque do motor (aproximadamente 1 200 rpm). E tem até 306 mkgf de torque de frenagem. A partida é suave, porque o sistema transfere o torque do motor para a transmissão através do fluido de óleo, sem contato mecânico. Tamanha é a sua robustez que o Actros 4160 AK possui engates laterais, e os para-choques dianteiro e traseiro, reforçados, entram no quadro do caminhão (para poder tracionar as 250 t).
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Os dois eixos dianteiros são direcionais, com redução nos cubos. A relação de eixo traseiro é 5,33:1. O chassi, extremamente reforçado, é rebitado e parafusado. A suspensão dianteira é composta por feixe de molas com amortecedores telescópicos de dupla ação com barra estabilizadora e sistema compensador de carga. Já a suspensão traseira é também com feixe de molas parabólicas do tipo boogie, com amortecedores telescópicos de dupla ação e barra estabilizadora. Com toda essa robustez, a bordo o Mercedes-Benz Actros 4160 AK entrega o mesmo nível de conforto dos seus irmãos rodoviários. E isso é incrementado pelo sistema de ar condicionado e do amplo espaço interno da cabine.

A Mercedes-Benz não informou qual é o valor do modelo, mas sabe-se que ele foi arrematado por mais de R$ 1 milhão. E por enquanto só existe uma unidade dele, que pertence à Megatranz.

PRAZER A BORDO
Com tara de 11 207 kg, PBT de 50 000 kg e CMT de 250 000 kg, o Scania R 620 Highline 8×4 foi preparado para suportar todas as demandas do transporte de cargas especiais. Por isso é que ele é considerado pela Scania um veículo especial.
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O modelo é equipado com motor Scania DC 16 17, e 8 cilindros em V, com potência de 620 cv a 1 900 rpm, e torque de 305,9 mkgf de 1 000 a 1 400 rpm, SCR. Esse motor trabalha junto com a caixa automatizada Opticruise, de 12 velocidades e 2 superlentas, com marcha overdrive opcional.

Em sua 4ª geração, trata-se de uma das mais modernas do mercado. Chama a atenção seus três modos de condução, concebidos para que o motorista tenha o melhor aproveitamento do veículo em qualquer situação, inclusive em alto torque e baixa velocidade, como é comum no transporte de cargas indivisíveis. Mesmo com a automação, o motorista pode selecionar o modo mais adequado para o momento da operação na própria alavanca localizada do lado direito do volante.

Além disso, a caixa está mais rápida no modo automatizado, sendo capaz de eleger a melhor marcha, fazendo a análise da topografia, do comportamento do caminhão e do motor de acordo com o peso do conjunto (cavalo, implemento e carga). Para essa operação, a caixa ganhou reforço, sobretudo nas primeiras marchas com tratamento térmico diferenciado e as engrenagens possuem esferas de metal, mais resistentes. O freio auxiliar retarder hidráulico é focado para baixas velocidades e possui 418 mkgf de torque. Outro diferencial é o Driver Support, sistema de apoio ao motorista. Instalado no computador de bordo, ele faz a leitura por meio de sensores, em tempo real, da maneira como o veículo é conduzido.

O caminhão tem eixo com redutor nos cubos de roda, chassi e eixos reforçados, tanto que, juntos, os eixos dianteiro e traseiro são preparados para suportar 32 t. Os dois eixos dianteiros são direcionais. E a relação de eixo traseiro 7,18:1. Para essa configuração o veículo tem de série, tanques de combustível de 500 e 300 litros.
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Uma das vantagens que a engenharia da Scania destaca é a versatilidade da configuração 8×4. Como comumente nas operações o veículo volta vazio,  pode alcançar velocidades médias de um rodoviário convencional, ganhando tempo. E aliado ao motor de 620 cv é possível rodar numa velocidade maior, em baixa rotação, reduzindo o consumo de combustível. O para-choque é produzido em aço, e o modelo está preparado para receber um engate especial.

A cabine Highline do R 620 8×4 é uma das mais confortáveis do segmento e junto com o motor V8 incorpora alguns diferenciais, que são exclusivos para o modelo, como volante, bancos, portas e tapetes com revestimento de couro, faróis de xênon, rádio com GPS e detalhes internos cromados com o símbolo VC8 da marca. Na época, com retarder e Bluetooth, o veículo custava R$ 750 mil.