Em 2016, o segmento de caminhões pesados despencou 18,5%, o de semipesados 37% e o de ônibus 33,5%. Nesses mesmos segmentos, a Scania retraiu 15,5%, 31,9% e 25,1%, respectivamente. Portanto, ela caiu menos que o mercado como um todo, o que pode ser visto como menos pior em comparação a quem caiu igual ou acima do mercado como um todo. A empresa também encerrou 2016 com o orgulho do modelo R 440 ter sido o caminhão mais emplacado entre os pesados.

Agora, com a casa ajustada e com perspectiva de o mercado voltar a crescer a partir do segundo semestre de 2017, o executivo Roberto Barral, responsável pela direção geral das operações comerciais da Scania Brasil desde 1º de junho de 2016, tem o desafio de dar continuidade a trajetória de sucesso da marca no Brasil e sem se descuidar dos valores de sustentabilidade e do padrão premium que a Scania construiu nos quase 60 anos no setor de transportes.

Roberto Barral entrou na Scania em 2005, possui formação em economia pela USP e pós-graduação em administração pela Fundação Getúlio Vargas. Ele concedeu a seguinte entrevista exclusiva à TRANSPORTE MUNDIAL:

Transporte MundialCom a crise econômica e os juros mais altos, como será o desafio de vender produtos premium para os transportadores?

Roberto Barral • Não trabalhamos apenas com a venda do caminhão como antes. O nosso compromisso é entregar rentabilidade. Para isso, há um conjunto de serviços que vão junto e a gente acompanha de perto para garantir que o negócio de nosso cliente seja rentável usando os nossos caminhões. 

TMAté há pouco tempo, antes da crise, faltava motoristas qualificados. E para reter os bons profissionais, muitos transportadores estavam investindo em caminhões mais sofisticados, pois é sabido que isso é uma maneira de reter os melhores motoristas. Agora, sobra motoristas, então, como continuar atrativo?

Barral • Sabemos que o nosso caminhão entrega o melhor consumo de combustível e conforto, de forma a entregar um produto premium. Mas não é só isso. Buscamos escutar o cliente, pois não adianta apenas entregar um produto global. Temos que entender cada necessidade e fazer um produto para cada realidade.

TMDurante o Salão de Hannover (realizado no final de setembro), pela primeira vez, o Grupo Volkswagen Trucks & Bus se posicionou com relação ao papel de cada marca (MAN, Scania e Volkswagen Caminhões & Ônibus). O posicionamento da Scania no Brasil continua o mesmo? 

Barral • O posicionamento continua o mesmo. O que teremos como novidade é cada vez mais serviços embarcados, como mais conectividade para garantir maior rentabilidade. A Scania também está cada mais seguindo o caminho da sustentabilidade. 

TMO caminho para o futuro da sustentabilidade apresentado no Salão de Hannover é a eletromobilidade para urbanos e curtas distâncias, e o híbrido e o gás para longa distância. Porém, são tecnologias ainda muito caras. Assim, o Brasil terá que achar soluções de sustentabilidade mais viáveis economicamente. A Scania já tem o ônibus movido a gás metano e o caminhão movido a etanol. Quais outras alternativas a Scania estuda para o transportador brasileiro?

Barral • São muitas tecnologias chegando para aumentar a sustentabilidade e a segurança, como a condução autônoma, partes eletrificadas, conectividade e a implantação dessas tecnologias dependerá do momento do país. O que a gente está apostando muito agora é nos combustíveis alternativos, como o ônibus movido a gás, e ônibus e caminhões movidos a etanol e biodiesel. Outro pilar é a própria eficiência energética, que são caminhões com consumos menores e a capacitação de motoristas para melhorar a performance do veículo. Se lá fora já estudam os caminhões autônomos para rodovias, algo difícil ainda para o Brasil, por que não pensar em caminhão autônomo para mineração? A Scania acredita em três pilares: sustentabilidade, urbanização e digitalização. A sustentabilidade já segue o passa a passo, mas vai vir mais rápido até mesmo por causa das pressões dos governos. Na Europa, a Scania já tem vários produtos em desenvolvimento avançado que podem chegar aqui no momento que for viável. Já temos o caminhão híbrido, com motor a gás, o platooning (comboio de caminhões conectados via Wi-Fi), caminhão autônomo, entre outras tecnologias. Existe todo um departamento de engenharia olhando para o futuro. 

TMEm quanto tempo teremos caminhão ou ônibus autônomo no Brasil?

Barral • Capacidade técnica para ter, nós temos. Já acompanhei a operação de um caminhão autônomo da Scania dentro de uma mineradora. Mas é difícil imaginar quando teremos infraestrutura para isso. As rodovias e as cidades precisam estar preparadas para isso. O veículo autônomo já pode atuar em ambientes que têm toda a operação padronizada, como portos, minas e fazendas, por exemplo. 

TM • Já existem tecnologias que podem reduzir muito os acidentes, como controle de estabilidade e a frenagem autônoma, conhecida como piloto automático inteligente que, inclusive, será obrigatória na Europa a partir de 2018. Porém, elas estão demorando muito a chegar no Brasil de forma mais ampla, apensar de um ou outro caminhão topo de linha já tê-las. 

Barral • Aí é uma questão da própria sociedade, junto com o governo, começar a demandar. Tenho certeza que todas as empresas estão preparadas para isso. No caso específico da Scania, ela não espera o governo demandar. Veja o caso do novo Scania S que lançamos na Europa com airbag lateral, tecnologia não é obrigatória por lei. Quando a gente fala de sustentabilidade na Scania, a gente vai além do tema meio ambiente. Pensamos também na sustentabilidade social e econômica. Quando investimos no treinamento do motorista, não é só para aumentar a rentabilidade do transportador, mas também para preservar a vida dele e das famílias. No ano passado, de novo, com a competição Scania Driver Competitions, tivemos mais de 40 mil motoristas inscritos. Para gente isso é um orgulho, pois é uma ação que valoriza quem sai do seu ambiente familiar para conduzir o caminhão na estrada.

TM • A Scania já tem o ônibus movido a gás no Brasil. Quando teremos o caminhão?

Barral • Há possibilidades. A tecnologia já existe. O que precisa ser estudado é o mercado, ver onde ele se encaixa. A nossa gama de motores atende tanto ônibus quanto caminhão. 

TM • Qual o maior segmento de clientes dos caminhões semipesados Scania?

Barral • Lançamos recentemente o semipesado 8×2, então, estamos trabalhando mais o varejo. Já estamos com 5% a 6% de participação em um segmento bastante concorrido. 

TM • Qual a expectativa para 2017?

Barral • Estamos esperando um crescimento de 10% a 15% para mercado de caminhões acima de 16 toneladas, o que não é muito, pois estamos saindo de um mercado totalmente deprimido, com o volume do ano passado com pouco menos de 30 mil unidades. Mas pelo menos é uma expectativa positiva e há vários fatores, como a produção de grãos, cana de açúcar, retomada da indústria, entre outros. Já outros segmentos continuam parados.

TM • E o segmento da construção civil?

Barral • A gente ainda vê esse setor um pouco deprimido. O que a gente vê com um pouco de expectativa é o plano de investimento do governo para fazer infraestrutura em portos, aeroportos, rodovias, entre outros. Se isso realmente sair do papel podemos ter uma recuperação na construção civil. 

TM • Qual a expectativa com a Fenatran 2017?

Barral • Grande. Principalmente porque vamos fazer 60 anos de Brasil em 2 de julho. Então, vamos ter um ano comemorativo. Temos expectativas de trazer coisas bacanas para feira e fazer lançamentos, mostrar em mais profundidade e novas soluções de serviços e conectividade. 

TM • A Brasil sempre foi o maior mercado da Scania no mundo. E agora com os volumes atuais?

Barral • Não mais. Hoje o maior mercado é a Inglaterra e depois a Alemanha. Mas a gente vai voltar a ser o maior em breve. 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).