Ford incrementa linha Cargo; Torqshift é novidade

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Em anos de crise, parar de investir pode ser a pior estratégia que uma empresa com história de sucesso pode fazer. Assim, mesmo sabendo que estamos em um mercado que é metade do que foi em 2014, a Ford segue investindo para garantir e, se possível, até aumentar a sua participação. Segundo dados da Fenabrave (federação que representa as distribuidoras de veículos), a Ford fechou 2015 com participação de 18% do mercado de caminhões, com crescimento significativo em relação a 2014, quando sua participação foi de 14,3%.
cargo

Lógico que é melhor ter uma participação de 14,3% de um mercado de quase 140 mil caminhões do que 18% de um mercado de cerca de 70 mil unidades. Porém, como não tem como a Ford reverter a queda sucessiva do PIB brasileiro, nem sozinha acabar com a maior recesso do Brasil, cabe a ela apenas garantir o seu espaço no promissor mercado nacional, oferecendo produtos que atendam a realidade local dos transportadores.  
 
Durante a apresentação, João Pimentel, diretor de operações da Ford Caminhões, lembrou que outro desafio que os fabricantes estão enfrentando é a pressão de aumento de custos por causa da alta do dólar. Mesmo assim, a Ford manterá uma qualidade reconhecida, que é a competitividade de seus produtos. Assim, a empresa apresenta a sua linha, já como 2017, com 10 novidades, entre novos modelos, versões e melhoramentos em um modelo da linha 2016.
 
Por que lançar já como modelo 2017? Antonio Baltar, gerente-geral de vendas e marketing da Ford Caminhões, explica que há, pelo menos, duas grandes vantagens para o comprador. A primeira é que garante um maior valor de revenda, pois o mercado de caminhões usados considera a cotação do ano-modelo, e não do ano de fabricação. A segunda é para transportador que tem contrato com empresa que exige idade mínima do veículo, geralmente de três ou quatro anos de uso. Nesses contratos também são considerados o ano-modelo e, com isso, o transportador ganha um ano a mais de trabalho com o mesmo veículo. Vale esclarecer que a legislação brasileira permite que qualquer veículo automotor tenha o ano-modelo um ano à frente ao do ano de fabricação.
 caixa torqshift
A maior novidade na linha 2017 é a introdução do câmbio automatizado em seis modelos: Cargo 1729R (chassi rígido), Cargo 1723, Cargo 1723 Kolector, Cargo 1729T (cavalo mecânico), Cargo 2429 6×2 e Cargo 1933T, que também ganha suspensão a ar. Os Cargo com o novo câmbio automatizado, fornecido pela Eaton, ganham um sobrenome: Torqshift. Este nome foi escolhido para lembrar a força, ou câmbio forte.
 
Os modelos Cargo 1723, 1729, 2423 e 2429 são equipados com a transmissão Eaton EA 11109LA de 10 velocidades. Já o Cargo 1723 Kolector, por trabalhar em condições severas e de intensas trocas, como em aterro sanitário, conta com a Eaton F-11109LB, também de 10 velocidades. E, por fim, o Cargo 1933, por ser um caminhão rodoviário, conta com a F-11E316D de 16 velocidades.
 1723 kolector
A sétima novidade da Ford para este início de ano fica por conta do Cargo 1419, que chega para substituir o Cargo 1319. Já o Cargo 1519 ficou mais forte e, em vez dos 14 500 kg de PBT técnico da geração 2016, ela agora tem 15 400 kg de PBT técnico. A nona e décima novidades da nova linha são os modelos off-road Cargo 3129 e Cargo 3129 Mixer, que complementam a linha vocacional 6×4 da Ford na faixa de 30 500 kg de PTB técnico, que já contava com os Cargo 3133 e Cargo 3133 Mixer. 

Antonio Baltar justifica os dois modelos com um pouco menos potência ao ouvir clientes que precisam de um caminhão 6×4 com um custo inicial menor do que um modelo de 334 cv de potência, sendo 290 cv suficientes para a operação deles. 

Com essas novidades, o portfólio de produtos da Ford Caminhões passa de 26 modelos (linha 2016) para 34 na linha 2017. Do total, oito são com câmbios automatizados, lembrando que os pesados Cargo 2042 e 2842 quando foram lançados já traziam de série a transmissão ZF 12AS1930TD de 12 velocidades.

TORQSHIFT
Atualmente, os câmbios automatizados estão presentes em quase 100% da produção de cavalos mecânicos. Na maioria das marcas, se quiser comprar um caminhão com câmbio manual, você precisará encomendar.

Os motivos são convincentes e está mais que provado que o custo inicial do câmbio automatizado é pago em pouco tempo. Um dos benefícios é a redução de consumo, pois iguala todos os motoristas a um bom motorista nesse aspecto. Em média, um motorista que roda 6.500 km por mês realiza 38 mil trocas de marcha. Assim, mesmo um bom motorista, depois de uma jornada exaustiva de trabalho, pode errar algumas trocas de marcha, o que pode aumentar o  consumo e o desgaste de componentes. O automatizado também faz reduzir o custo da manutenção, evitando os trancos e as trocas erradas.

Uma embreagem que trabalha com transmissão automatizada, em geral, dura três vezes mais que com câmbio manual. No caso da embreagem escolhida para o Cargo, de 395 mm e revestida com cerâmica, a durabilidade é quatro vezes maior, segundo João Filho, chefe da engenharia da montadora. A embreagem do Cargo conta também com proteção contra superaquecimento por meio da emissão de aviso sonoro no painel e com o fechamento ou abertura da embreagem antes que ela venha a sofrer danos permanentes. O ganho aqui não é só evitar o custo da troca da embreagem, mas também o do tempo que o caminhão ficaria parado para a realização do serviço. Em vez disso, o caminhão pode ficar trabalhando.

Sem se preocupar com as trocas de marchas, o motorista pode dar maior atenção ao trânsito e ao que ocorre à frente e ao redor do caminhão, o que significa maior segurança e tranquilidade. Além disso, o condutor menos cansado é um motorista mais atento à segurança. Vale ressaltar ainda o melhor funcionamento do piloto automático quando o veículo é equipado com câmbio automatizado.

torqshift 2429
Na apresentação inicial, nós, da TRANSPORTE MUNDIAL, dirigimos o Cargo 2429 na pista da Pirelli, em Sumaré (SP). Este modelo tem o preço de R$ 220 mil, mais barato que os seus principais concorrentes, o VW Constellation 24.280 (R$ 223 mil) e o Mercedes-Benz Atego 2430 (R$ 228 mil).

Até antes de dirigir o Ford Cargo 2429, tínhamos o câmbio I-Shift da Volvo como o melhor do mercado nacional em termos de trocas suaves e eficiência. Ainda faremos novas avaliações com modelos da Ford, mas podemos adiantar que a Torqshift do Cargo merece o nosso respeito, pois a sensação de guiar o Cargo 2429 foi a mesma de dirigir o Volvo VM com o câmbio I-Shift quando de seu lançamento, em agosto de 2014.

Uma montadora pode ter em seu caminhão um excelente motor e do mesmo nível uma transmissão automatizada. Porém, se a “conversa” entre os dois componentes não for boa, o resultado também não será, como já vimos em outras marcas. Nesse ponto as engenharias de Ford, Cummins e Eaton fizeram um bom trabalho. Lógico que a maior responsabilidade pelo software que faz motor e câmbio “conversarem” é da engenharia da Ford. “A Cummins e a Eaton estão muito bem alinhadas no desenvolvimento desses novos produtos”, reconhece Flávio Costa, gerente de marketing do produto da Ford Caminhões.

Faz anos que a Eaton tenta emplacar o seu câmbio automatizado no Brasil. Parece que a demora valeu a pena. Segundo Flávio Costa, o futuro aponta para isso, e a tecnologia do automatizado vai chegar inclusive aos modelos leves. “Até 2023, 75% dos caminhões sairão de fábrica com câmbio automatizado, considerando todos os segmentos”, diz.

A transmissão Torqshift é uma das mais avançadas no Brasil e conta com recursos que tornam a vida do motorista mais fácil e confortável. Uma das função é a L (Low), usada em declives, e faz as marchas reduzirem gradativamente atuando como freio-motor. No Brasil, só os câmbios da Volvo e do Cargo contam com ela. Outro recurso é o Kick Down. No modo economia, quando o motorista pressiona o pedal do acelerador até 90% do seu curso, as trocas de marchas são feitas a 1.800 rpm. Já no modo performance, o motorista pressiona o pedal em 100% e assim as trocas são feitas a 2.300 rpm.

Outra função interessante é a assistência de partida em rampa (HLA). O sistema atua no freio segurando-o por três segundos para o que motorista possa tirar o pé do pedal de freio e acionar o acelerador evitando que o caminhão volte. Esse recurso já é bastante comum nos câmbios automatizados e automáticos. Porém, no modelo da Ford há uma característica exclusiva. Enquanto nos concorrentes a HLA atua apenas nas marchas à frente, no Cargo a assistência atua também na marcha à ré. O funcionamento da assistência de partida em rampa é a partir de 3º grau de inclinação. Testamos a função com o Cargo 2429 carregado com 10 toneladas, tanto à frente quanto de ré, e ela funciona perfeitamente, gerando uma sensação de segurança nas partidas.

Outro recurso bastante interessante e que até então só havia no Brasil nos Volvo, é o Creep (arrastamento). Essa função permite que o piloto automático atue com o caminhão a 8 km/h, o que facilita rodar em vias muito esburacadas ou em pátios de manobra com solavancos. É mais durabilidade para o trem de força. O Ford Cargo disponiliza o recurso nos modelos de uso on road.

cargo 1933
Gostamos também do fato da Ford Caminhões ter feito escolha pela caixa Eaton de 10 velocidades em vez de uma de seis velocidades. Isso permitiu adotar o Cargo com eixo traseiro simples (relação da reduzida de 17,04:1 no caso do Cargo 2429). Um eixo de simples redução significa menos peso e menos peças para quebrar ou dar manutenção, além de menor consumo de combustível.

CARGAS FRÁGEIS
Os benefícios da suspensão a ar (ou pneumática) são muitos, mas no Brasil há certa resistência a ela por causa das condições das nossas estradas. Na Europa, é padrão nos modelos rodoviários. Isso explica a baixa oferta de modelos com esse tipo de suspensão. Porém, embarcadores que trabalham com cargas frágeis, como fabricantes de tintas e eletrônicos, por exemplo, estão exigindo caminhões com suspensão pneumática e, por isso, a Ford passou a disponibilizar no cavalo mecânico Cargo 1933.

CONCORRÊNCIA
A estratégia para o posicionamento dos seus produtos neste ano de crise tem alvo certo: Volkswagen e Mercedes-Benz, marcas que têm, respectivamente, 26,9  e 26,1 de participação do mercado. Além disso, junto com a Iveco, são as três marcas que fabricam caminhões para quase todas as categorias do mercado. Mas é mais fácil tirar clientes de quem tem muito, como Volkswagen e Mercedes-Benz, do que quem tem pouco, como Iveco (6,3%).

torqshift
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Ao reformular a sua linha com foco no câmbio automatizado, a Ford se coloca em condições de competir com os seus dois principais concorrentes nesse quesito e deixa a Iveco para trás, pois fica sendo a única sem a opção desse tipo de transmissão em modelos semipesados. A Volkswagen conta com 14 modelos com câmbio automatizado. A Mercedes-Benz também oferece 14 modelos com o câmbio Powershift (automatizado), sendo em todos os pesados Actros e Axor rodoviários e no semipesado Atego 2430. 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).