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Muitas pessoas, entre elas jornalistas e economistas, leigos a questão do abastecimento das cidades, gostam de dizer o clichê de que o Brasil priorizou as rodovias em detrimento às ferrovias. Primeiramente, não temos rodovias como conhecemos no Sudeste, já qie 87% delas são sem pavimento, principalmente no Nordeste, Norte e Centro-Oeste. O país, muito dependente das rodovias, porque somos muito grande, com mais de 5.500 de municípios para interligar. Segundo, que ferrovias e hidrovias também são muito imporantes para melhorar a nossa logística. Não devemos, para valorizar um modal, desmerecer o outro. Mas vamos a alguns fatos, porque o Brasil precisa e vai continuar precisando dos caminhões para as funções genuinamente deles e onde o trem pode ajudar muito no desenvolvimento do país:

12 fatos entre trem e caminhão

  1. Um país que tem cerca de 87% das suas rodovias sem pavimento não pode ser considerado um país rodoviário. Também não é ferroviário por ter apenas 29 mil quilômetros de estradas de ferro e em péssimas condições, além de desatualizadas.
  2. Se a greve fosse apenas dos caminhoneiros que fazem hoje o trabalho dos trens, como a transferência da soja produzida no Centro-Oeste para os portos e depois para exportação para China não estaria havendo esta comoção nacional.
  3. A comoção nacional é por causa do desabastecimento de postos de combustíveis, supermercados, sacolões, farmácia etc.
  4. É impossível que o trem abasteça os mais de 5.500 municípios brasileiros e seus milhões de estabelecimentos comerciais. Somente os caminhões e veículos utilitários podem fazer isso em um custo viável. Mesmo que tivessemos 290 mil km de ferrovia, precisaríamos dos caminhões para levar as mercadorias dos portos secos para os supermercados, postos de combustíveis, farmácia etc. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos hoje contam com uma frota de 141 milhões de veículos comerciais para fazer o transporte de cargas e passageiros; e o Brasil, pouco mais de 9 milhões. Só de caminhões, estima-se 30 milhões nos Estados Unidos e 2 milhões no Brasil. Se a greve fosse nos Estados Unidos, lá também haveria problemas de abastecimento urbano. O que devemos nos perguntar é por qual motivo que os caminhoneiros não precisam fazer greve lá?
  5. A transferência de tomate, alface, cebola, batata, frango, carne de milhares de fazendas para as cidades não pode ser feita por trem, só por caminhão.
  6. O Just-In-Time não pode ser feito por trem, só por caminhão. No Brasil, a velocidade média do trem é de 22 km/h, enquanto que a média mundial é de 60 km/h (estamos falando só de trem de carga). Por exemplo, a Fiat, em Betim, conta com dezenas de fornecedores em distâncias de até 300 km da fábrica que precisam enviar peças para a linha de montagem de forma cronometrada. Mas as exportações da Fiat podem sair da fábrica para os portos de trem.
  7. A transferência dos carros das fábricas para as milhares de concessionárias Brasil afora não pode ser feita por trem, só por caminhão. Pode-se até fazer a transferência de grandes lotes do Sudeste para o Nordeste, mas o caminhão terá que completar o percurso.
  8. O trem é muito útil para o transporte de commodities, tanto que a Vale investe bastante neste modal, apesar das locomotivas ultrapassadas e nossa malha ferroviária também bastante velha. Realmente falta investimento em ferrovias, principalmente pelo setor privado.
  9. Para os transportadores rodoviários, as viagens de longa distância geralmente são pouco lucrativas e desgastantes. É mais vantajoso levar a carga até um terminal de trem e depois pegar no terminal de destino e transportar até o consumidor final.
  10. Porém, para a maioria dos tipos de cargas, o trem não tem a velocidade e flexibilidade desejada para os tempos atuais. As empresas e os consumidores querem “transit time” mais curto. Se possível, de avião, mas custa caro. Aliás, o modal aéreo conta com 1% de participação no transporte de carga exatamente por questão de custo.  
  11. É fato que ferrovias e hidrovias podem ajudar no transporte de diversos tipos de cargas, principalmente, para exportação. Mas não resolve a necessidade do abastecimento urbano. O ideal da composição ferroviária moderna é que ela transporte 100 vagões com 100 toneladas cada. Ou seja, 10 mil toneladas de carga em uma viagem só.    
  12. Portanto, trem e caminhão não competem, mas são complementares, cada um com sua função em razão do tipo de carga, quantidade, prazo para a entrega, número de remetentes e destinatários. Muitos gostam de lembrar que há muito transporte ferroviário nos Estados Unidos. Lá há muito de tudo, ferroviário, rodoviário, hidroviário e aeroviário. A produção de veículos comerciais (caminhões, vans, picapes e ônibus) lá em 2017 foi de mais de 8 milhões, ou seja, em um ano produziram mais do que o Brasil em 20 anos. 
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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).