O big brother dos pesados

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Com o FleetBoard, pode-se customizar um treinamento com foco nos pontos fracos do motorista

Com o FleetBoard, pode-se customizar um treinamento com foco nos pontos fracos do motorista

Somente quem não conhece os benefícios da telemetria para reduzir os custos e aumentar a segurança na gestão de uma frota ainda não lançou mão dessa ferramenta. Geralmente, os maiores fornecedores desse serviço são empresas especializadas em monitoramento e rastreamento. Existem dezenas delas no mercado brasileiro, portanto é preciso muito cuidado na hora de selecionar uma para o resultado não ser frustrante. Outra opção, que começa a crescer muito, é comprar o serviço do mesmo fabricante do caminhão, que vem como tecnologia integrada ao veículo já na linha de montagem e carrega a confiabilidade na marca.

 
A então Volkswagen Caminhões e Ônibus, hoje MAN Latin America, foi a primeira a oferecer a telemetria como item original de fábrica em 2007, seguida da Mercedes-Benz em 2010. As demais marcas que já disponibilizam a tecnologia (Ford, MAN e Volvo) começaram em 2012 e, a partir deste mês, a Mercedes-Benz relança o seu FleetBoard agregado de novos serviços, com rastreamento e monitoramento contra furto e roubo. Porém, vender esse tipo de serviço no Brasil não é tarefa das mais fáceis.

Para se ter uma ideia, vamos considerar apenas a quantidade de caminhões vendidos no Brasil de 2012 até 2014. Totalizamos 430.825 unidades nesse período. Já a quantidade de modelos que estão com o equipamento ativo, somando quatro das cinco marcas que oferecem o serviço de fábrica (a Ford não quis divulgar quantos caminhões utilizam o serviço dela), chega a 6 mil unidades (ou seja, 1,40%). A MAN Latin America, além dos 2.000 caminhões (VW e MAN) pagantes pelo serviço, conta ainda com outros 2.400 modelos que estão em período de experiência.
 
No geral, o serviço de telemetria é muito similar entre as marcas. Oferece dezenas de dados em tempo real que ajudam o administrador da frota a mensurar o comportamento do motorista, fazer a prevenção de acidentes, gestão da jornada de trabalho, tempo de viagens, paradas, e de gastos, principalmente, de combustível, entre outros. A lista de dados possível é muito grande, então vamos citar apenas alguns exemplos.

Além dos óbvios (consumo médio, distância, tempo de viagem etc., que o computador de bordo fornece), pode-se ter velocidade média  dentro do limite do trecho selecionado, velocidade máxima atingida também por trecho, comparativo de rotas previstas versus realizadas, controle de áreas de risco, nível do tanque de combustível, alerta de frenagens de emergência, temperatura e rotação do motor, controle de velocidade na chuva, uso das marchas (tempo, distância e velocidade de cada marcha e neutro) etc. Geralmente, os dados colhidos podem ser customizados para a necessidade ou interesse do transportador. 

Todas as informações ajudam a criar estratégias de treinamento, administração e premiação dos melhores motoristas. Tudo isso, comprovamente, resulta em redução dos custos operacionais. Durante o lançamento da nova geração do FleetBoard, o vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz do Brasil, Roberto Leoncini, comentou que, em situações reais de uso no Brasil, a redução pode chegar a até 15% do custo operacional, considerando consumo, manutenções e também a disponibilidade da frota, o que resulta em mais produtividade e rentabilidade.

No exemplo citado por Leoncini, os 15% de redução no custo de operação do caminhão foi conseguido por um motorista de Mercedes-Benz Actros que, no início, tinha uma péssima média de consumo, de 1,40 km/l. Depois de passar por treinamento, o mesmo motorista chegou a conseguir um consumo de 2,70 km/l (no melhor resultado), com uma média de 2,25 km/l no período de teste. Com os dados coletados pelo. E o treinamento não trouxe benefício somente para o consumo de combustível, mas para todo o conjunto mecânico, como menor desgaste dos pneus, freios e transmissões.  

No entanto, o que mesmo diferencia entre uma marca e outra são os serviços agregados aos seus sistemas, como faz agora a Mercedes-Benz no relançamento do FleetBoard, que no momento, é o mais completo do mercado. Conheça um pouco do que cada montadora oferece (resumo no boxe da página ao lado).
    
Mercedes-Benz
 
O FleetBoard foi desenvolvido na Alemanha e é utilizado por mais de 100 mil caminhões no mundo todo. Porém, a empresa no Brasil entendeu que ele precisava ser mais completo, pois as transportadoras valorizam mais ter o monitoramento e o rastreamento contra furto e roubo do que a telemetria em si. Para isso, buscou um parceiro (Zatix) no Brasil com experiência no assunto, já que, nesse tema, a Alemanha não poderia ajudar muito, pois, afinal, não contam com esse tipo de problema por lá. 

Esse serviço, até o mês passado, somente era oferecido para os modelos pesados Actros e Axor. A partir de março deste ano, passa a ser ofertado para toda a linha de caminhões. Outra vantagem oferecida pelo FleetBoard é poder fazer o diagnóstico de todo o caminhão a distância e em tempo real. O acesso às informações pode ser feito por computador, tablet ou smartphone do cliente. O rastreador já sairá de fábrica integrado ao gerenciamento eletrônico do veículo (rede CAN) para evitar a manipulação ou a retirada do aparelho, o que já tem sido feito por Volvo, Volkswagen/MAN e Ford.
 
Durante a apresentação da nova geração do FleetBoard, podemos fazer um teste com um Actros para sentirmos o funcionamento do bloqueio. A velocidade do caminhão, primeiro, foi reduzida para 40 km/h e depois para 10 km/h, para evitar acidente ou que o veículo fique parado no meio da via pública. O caminhão pode rodar a 10 km/h quantos quilômetros o condutor quiser, porém, ao ser desligado, já não é possível religá-lo. Além de ser impossível ir muito longe a 10 km/h, a tendência é que a pessoa que está roubando o veículo pende que há algum problema e o pare.     
 
Ford  

A Ford começou a oferecer o FordTrac em 2012 e, desde o ano passado, o equipamento sai como item de fábrica em todos os caminhões das famílias Cargo e Série F, ficando para o cliente a decisão de ativar ou não o serviço. 
No caso da Ford foi desenvolvida uma parceria com a Autotrac, empresa que ficou muito conhecida por ter entre os sócios o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. Assim como o sistema da Mercedes-Benz, o FordTrac oferece ampla cobertura contra roubo e furto, como bloqueio do caminhão através da rede CAN (central eletrônica do motor), trava eletrônica das portas do baú, localização etc. A Ford não oferece o diagnóstico do caminhão, porém, em caso de falha do motor ou algum sistema integrado à rede CAN, ele emite um alerta.  

FordTrac bloqueia caminhão através da rede CAN (central eletrônica do motor) 
Volkswagen/MAN
 
O mais antigo no mercado, o VolksNet também foi lançado por meio de uma parceria com a Zatix, a mesma que a Mercedes-Benz. Inclusive, os serviços oferecidos para os caminhões Volkswagens e MAN são muito similares aos ofertados por Mercedes-Benz e Ford. A exceção fica por conta do diagnóstico remoto que, segundo a assessoria de imprensa da MAN, está em desenvolvimento.

Volvo

A Volvo, ao lançar a linha 2015 da família F (FH, FM e FMX), apresentou também um novo conceito, o do caminhão conectado. Trate-se de novos serviços que complementam o de telemática Dynafleet oferecido pela marca de 2012. São eles o MyTruck, Voar On Call e I-See que serão implementados no decorrer deste ano.  

Como nas demais marcas, o hardware já sai como equipamento de série e com os serviços do MyTruck ativados gratuitamente por dois anos e o Voar On Call de série. O MyTruck permite ao dono do caminhão, via smartphone ou tablet, acompanhar o que acontece no veículo em tempo real e a distância. Com o Voar On Call, caso precise da assistência técnica, basta ao motorista acionar uma tecla no painel do caminhão que ele será atendido por um especialista que já terá todas as informações sobre o caminhão e o diagnóstico do problema em mãos. Lógico que tudo isso demanda conexão com a rede de celular ativa, o que no Brasil, ainda é muito difícil em nossas estradas por causa da baixa infraestrutura oferecida pelas empresas de telecomunicação.

O I-See memoriza a topografia da estrada para melhorar o desempenho do veículo na segunda vez que o caminhão passar pelo trajeto. A Volvo ainda não conta com os serviços de rastreamento contra furto ou roubo, mas já estuda uma solução que será semelhante a que as outras marcas possuem, em uma parceria com uma empresa especializada. 
Outro diferencial que somente a Volvo tem é que todas as informações colhidas dos caminhões da marca podem ser integradas a outros sistemas (software) da transportadora, caso a empresa tenha caminhões de outras marcas e utilize um software próprio. Segundo Christiano Blume, responsável pela área de telemática da Volvo, a tendência é que os sistemas de diferentes marcas sejam integrados para que a informação possa ser lida em uma tela só, pois esse é o desejo do transportador.  

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).