Há exatos dois anos a Scania apresentou ao mercado uma solução mais econômica em relação às composições biarticuladas. Trata-se do cavalo mecânico R 440 8×2, caminhão que foi desenvolvido como uma resposta da Scania às demandas do G10, conglomerado de empresas de transporte do Sul do país.

scania3
O 8×2 comparado ao 6×4 é mais econômico para a operação do cliente, ainda que transporte um pouco menos

O grupo estava desde meados de 2010 adaptando seus cavalos mecânicos 6×2 para 8×2 em oficinas independentes com intuito de transportar quase a mesma mercadoria que um bitrem, porém, numa única plataforma. Isso porque a resolução do Contran nº 210/211, de 2011, que definiu a obrigatoriedade de tração dupla tipo 6×4 para as combinações com PBTC superior ou igual a 57 t, impactou o bolso do transportador, que antes fazia essa operação com cavalos mecânicos 6×2. Contudo, de olho nesse mercado e tendo o G10 como um dos seus principais clientes, a Scania desenvolveu a solução com a vantagem da garantia e peças originais serem de fábrica.

Apesar de os números de vendas desde o seu lançamento até hoje serem tímidos, 257 unidades, deve-se lembrar que o mercado de caminhões, em função da crise política, sofreu grave retração nos últimos anos. Outro fato que também justifica esses números é que, diferentemente dos caminhões que são trocados em uma média de cinco anos, os implementos rodoviários têm vida útil maior nas transportadoras, em média 15 anos. E o implemento que se ajusta ao cavalo mecânico 8×2 é o de três eixos com balanço curto.

scania4

A solução está posicionada entre as composições de 3 eixos espaçados vanderleia e o bitrem. Em relação à vanderleia que possui 35.543 kg de carga líquida, o 8×2 transporta mais, ou seja, 36.200 kg, quantidade também não muito inferior ao bitrem que carrega 36.842 kg, com a desvantagem de ter uma composição a mais, dois pneus a mais. Portanto, mais pedágio, além de quinta-roda e um diferencial adicional. E por tudo isso rende mais peso ao veículo e a viagem fica mais demorada.

Para suportar o aumento de carga sobre o cavalo 8×2, a quinta roda utilizada é a mesma dos rodoviários 6×4, cuja capacidade é de 24 t. No modelo Scania, a altura da quinta roda sobe em comparação ao 6×2 para evitar o contato do chassi com o implemento em situações de tráfego por terrenos irregulares ou em rampas de acesso. Outra vantagem é o reposicionamento da quinta roda em relação ao eixo de tração para melhor distribuição de carga e garantir mais equilíbrio ao conjunto durante a viagem.

Uma possibilidade para reduzir custos

O 8×2, além de ser uma alternativa para a redução de custos do transportador, é um caminhão tecnicamente bem resolvido, tanto que nessa potência, se juntar todas as suas configurações de eixo – 4×2, 6×2, 8×2 e 6×4 –, o modelo está no top do ranking de vendas entre os caminhões pesados, com 13,76% de participação durante o primeiro semestre deste ano.

scania11

Mas a razão de ele povoar muitas garagens está no fato de possuir um motor forte chamado DC 13, que desenvolve potência de 440 cv a 1.900 rpm e torque de 234,7 mkgf de 1.000 a 1.300 rpm. É um motor de 13 litros, 6 cilindros em linha e 4 válvulas por cilindro, com injeção direta de combustível em conformidade com a P7 (equivalente à norma Euro 5) por meio da tecnologia SCR. Para completar seu sistema de injeção é PDE (exclusivo da Scania) com unidades injetoras, cabeçotes individuais e turbo compressor.

A transmissão que acompanha é a GRS905 conhecida por Opticruise de 14 velocidades, sendo duas superlentas. Completa o trem de força a relação de diferencial de 3,07:1 e o eixo traseiro simples de tração R885, também fabricado pela Scania, sem redutor nos cubos das rodas, porém projetado para o transporte de cargas pesadas já que é capaz de tracionar 78 t.

Para essa aplicação, o entre-eixos é de 3.900 mm, oferecendo boa manobrabilidade, ainda mais se levar em conta que se trata de um caminhão com dois eixos direcionais. A suspensão dianteira é composta por dois eixos, sendo o primeiro a mola e o segundo a ar. Já a traseira é pneumática com quatro bolsões, e suspensor no segundo eixo de apoio. O novo modelo dispõe de balança eletrônica integrada que permite o motorista ver no painel a informação precisa da distribuição do peso nos eixos.

Por segurança, há trava mecânica para impedir o contato da estrutura do eixo com o cardam quando o eixo for suspenso. Toda essa engenharia é percebida na prática. Andamos com o caminhão na nossa rota, que saiu de São Bernardo do Campo, precisamente da fábrica da Scania, até Peruíbe (SP) com o veículo pesando 50 t de PBTC, levando em conta que a capacidade legal é de 56 t de PBTC.

Na descida da serra, pela rodovia Anchieta, que estava livre de congestionamento, conseguimos descer a uma velocidade de 40 km/h em 7ª marcha a 1.700 rpm. Mas o que chamou a atenção é que nessa rotação o freio-motor estava acionado e conjugado ao retarder no 3º estágio. O que confirma a teoria de que o motor Scania é forte, mas não ultrapassa a rotação para mostrar a que veio. Tanto é que sua faixa verde vai de 1.000 a 1.500 giros. Seguimos a essa velocidade por todo o trecho de descida, com a rotação entre 1.600 e 1.800 rpm nas 7ª e 8 ª marchas.

scania10
Se o frotista optar por rodas convencionais de alumínio o veículo fica 264 kg mais leve

Ao nível do mar é notória a força do brutão do grifo e também onde se nota o porquê de o motor de 440 cv ser o preferido entre os frotistas. Basta uma pisada leve no acelerador para perceber a disposição do motor, inclusive nas ultrapassagens. Nessa situação, o caminhão na velocidade de cruzeiro a 75 km/h, em segundos foi para 85 km e o giro a 1.100. A transmissão, que nesse trecho foi 100% usada no modo automático, permaneceu na 12ª marcha.

Chama a atenção a maneira como o R 440 gruda no chão nas mais variadas situações. Nas retas, a direção é precisa e não há muita flutuação, o que deixa o motorista ainda mais seguro. Na subida da serra, pela rodovia dos Imigrantes, o desempenho é notório também. A 40 km/h em 8ª marcha a rotação foi a 1.400 rpm. O desempenho se destaca em comparação com os outros caminhões que estavam subindo no trecho que era o mais íngreme da rodovia. Quando a Opticruise optou passar para a 9ª marcha, a velocidade foi mantida a uma rotação de 1.200 giros e seguiu-se assim praticamente por toda a serra.

Para o motorista

O R 440 tem diversos sistemas que auxiliam o motorista a ser cada vez melhor com o Driver Support que serve como um tutor eletrônico instalado no painel, oferecendo dicas de melhorias na condução em tempo real. O ar-condicionado digital também é de série. Nos itens opcionais estão airbag, freio hidráulico auxiliar retarder de 4.100 Nm, rádio com GPS e faróis de xenônio.

scania5
No volante o condutor acessa o computador de bordo, rádio e telefone

O Scania 8×2 rodoviário está em conformidade com a Lei da Balança. Para isso, o modelo foi homologado com o limite de comprimento de 18,6 m, e os eixos direcionais são de rodagem simples, e os dois eixos traseiros são de rodagem dupla, tanto o trativo quanto o de apoio. Se fossem de outra forma, os eixos traseiros (segundo direcional mais o bogie traseiro) seriam caracterizados como tandem triplo, ferindo a lei.

scania2
Estiloso, o painel oferece todos os dados necessários

Conclusão

O sucesso do R440 tem a ver com o seu trem de força e o conforto da cabine. E todo transportador reconhece que ele é rentável e eficiente. Outro feito da marca é estar atenta às soluções que ajudem a melhorar o negócio do cliente e o 8×2 é fruto disso. Chego à conclusão que a economia do Brasil melhorando, o 8×2 vai vender bem. Basta fazer conta. Enquanto isso, o R 440 8×2 desfila com elegância no seu habitat natural: a estrada.