Telemetria realmente funciona?

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Ainda não encontramos um transportador que não tenha apresentado resultados positivos, como redução de custos e acidentes, no uso da telemetria para o gerenciamento de frotas e do comportamento do motorista ao volante. E, desta vez, fomos conhecer os resultados da Expresso Nordeste, de Campo Mourão (PR), que utiliza as soluções de gerenciamento de frotas oferecidas pela Volvo Bus Latin America.

Fundada  em 1963, a Expresso Nordeste  conta atualmente com uma frota de 308 ônibus rodoviários nas configurações 4×2, 6×2 e 8×2, e idade média de 2,5 anos. Do total, 70 chassis são da marca Volvo e 24 estão sendo monitorados 24 horas por dia, sete dias por semana. O sistema de gerenciamento de frotas da Volvo conta com mais de 40 sensores que já saem de fábrica espalhados pelo chassi que fazem a coleta de várias informações que são enviadas via rede de celular para uma central. Os dados são analisados por software e apresentados em formas de tabelas e gráficos. Caso o ônibus esteja circulando por trecho rodoviário sem sinal de celular, o que é bastante comum no Brasil, os dados são armazenados e, assim que o sistema encontra o sinal de celular, os dados são enviados para a central.

São muitas as informações que o gestor de frota pode analisar, entre elas, velocidade média por trecho, número de ativação dos freios, ESP (controle eletrônica de estabilidade), frenagens bruscas e acionamento do ABS, curva brusca, consumo, rotação e temperatura do motor, percentual de operação em faixa econômica, em marcha lenta, anomalias em qualquer sistema do trem de força, freios, partes eletrônicas, emissões de poluentes, peso do ônibus (sendo possível ter uma ideia aproximada do número de passageiros a bordo e por trecho), desgaste de componentes como pastilhas ou lonas de freios, embreagem, horas rodadas, acompanharem a posição do ônibus em tempo real, paradas não planejadas, desvio de rotas, entre outros dados.

Os dados podem ser acompanhados a cada segundo. No caso da Expresso Nordeste, o gestor da área de telemetria, João Carlos, faz o acompanhamento dos dados relativos a forma de condução pelo motorista de hora em hora e os dados sobre o veículo (anomalias ou desgaste de componentes) uma vez por dia. Porém, em caso de anomalias mais graves, quando acende a luz vermelha no painel, um alerta é enviado para a central.

Os dados permitem à empresa conhecer os melhores motoristas (os 10 melhores são premiados) e focar ações de treinamento para os motoristas que não conseguem atingir os parâmetros de referência de uma condução segura, econômica e confortável para o passageiro.

O resultado no mundo real

Segundo Márcio Marlus Boiko, diretor da Expresso Nordeste, já houve caso de um motorista ser substituído no meio de uma viagem por causa da sua forma de condução estar muito fora dos padrões estabelecidos pela empresa. Nesses casos, eles são encaminhados para treinamento e, a demissão, só ocorrer caso o motorista não se enquadre ao padrão de qualidade exigido pela empresa após os treinamentos.

Segundo Vinícius Gaensly, responsável pela área de telemática da Volvo Bus, os resultados de redução de consumo conseguidos pelas empresas que utilizam a telemetria podem variar de 3% a 12%. Há também uma significativa redução na manutenção, já que uma condução melhor pelo motorista leva ao menor desgaste de componentes. Além disso, a telemetria auxilia na manutenção preventiva, o que permite paradas programadas e maior disponibilidade do ônibus para viagens. Por exemplo, quando a pastilha de freios e a embreagem estão cerca de 20% do fim de sua vida útil, o sistema já avisa. Novo aviso é feito quando chega a 10%. A condução mais cuidadosa também leva à redução de acidentes, consequentemente, com despesas com seguros e jurídicas.

A implantação da telemetria em uma empresa pode ser feita em três fases. A primeira fase é feita sem os motoristas saberem que estão sendo monitorados e o objetivo é mensurar o comportamento dele ao volante e poder verificar os pontos que precisam ser melhorados. Depois são apresentados os dados apurados para os motoristas e é comunicado o início do monitoramento. Já a partir daí já se percebe uma melhora. Depois é só trabalhar os motoristas com os resultados fora de padrões preestabelecidos. Para cada rota é criado parâmetros de consumo e ativação dos freios para serem as metas. Dois padrões têm zero como meta: freada brusca (principalmente quando há interferência do ABS) e curva brusca (quando há acionamento do ESP).

João Carlos, gestor de frota da Nordeste, apresentou alguns dados aferidos com uma equipe de motoristas por um período de três meses. O motorista que mais acionava o pedal de freio chegou a frear o ônibus 635 vezes em percurso de 300 km. Depois do treinamento, após esse motorista ter aprendido a planejar melhor as frenagens com o uso do freio auxiliar VEB (sistema de freio motor que tem condições de parar o ônibus sem usar o freio convencional), a ativação do freio de serviço reduziu para 170 vezes. Na média do grupo, houve uma redução de 55% no desgaste da pastilha e disco de freios e do uso de todo o sistema. Fora o maior conforto para os passageiros. Jefferson Cunha, gerente de ônibus rodoviário da Volvo, lembra que também há um ganho na economia de pneus, pois trabalham em temperaturas menores sem as frenagens forte. Um pneu que roda abaixo de 80 °C podem durar até 60% mais. O mesmo motorista apresentava um consumo médio de 2,83 km/h. Após o treinamento, o consumo melhorou para 3,53 km/h, uma redução de 9% em todo o grupo.

Quanto custa

Segundo Jefferson Cunha, gerente de ônibus rodoviário da Volvo Bus Latin America, no mundo já são cerca de 3 mil ônibus que utilizam o gerenciamento de frota da Volvo. Desse total, 40% estão na América Latina. O país que mais utiliza é a Colômbia (com 600 unidades), não por acaso, considerado referência no mundo em transporte público por meio de ônibus. O Brasil é o segundo no uso da tecnologia, com 500 ônibus monitorados. O mesmo sistema pode ser aplicado em ônibus urbanos. São quatro níveis diferentes de pacotes de serviços oferecidos pela Volvo, com custo mensal que variam entre R$ 40 a R$ 140 por veículo.
Para conhecer a história da Expresso Nordeste, clique aqui.

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).