Volvo: 88 anos de história, ônibus e caminhões

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Com investimentos de U$ 320 milhões no último triênio, a Volvo tem o Brasil como um dos principais mercados no mundo, cuja trajetória revela uma rica história, desde sua constituição aqui no país em 1977, ainda durante o regime militar. De sua origem europeia também há muito a se dizer sobre a empresa, cujo nome traduzido do latim  para o português significa “eu rodo”.

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Atualmente, o Grupo Volvo é o segundo maior fabricante de caminhões pesados do mundo e a maior empresa da Suécia. Essa retrospectiva é contada minunciosamente no livro “Fazendo o Brasil rodar – A História da Volvo no Brasil”, patrocinado pela Lei de Incentivo a Cultura do Ministério da Cultura, publicado em 2007. 

Em 24 de outubro de 1977 foi constituída a empresa Volvo do Brasil Motores e Veículos S.A, dando início a uma nova fase da história da marca no país. Construída em tempo recorde e de acordo com prazos estabelecidos, a fábrica começou a produzir os primeiros motores e os primeiros chassis de ônibus B58 em 1979. E os primeiros caminhões em 1980.
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EUROPA

Em 14 de abril de 1927, o primeiro veículo Volvo produzido em série saiu da linha de produção da fábrica de Lundby em Gotemburgo, Suécia, sede mundial da corporação. Era um modelo ÖV4. Assar Gabrielsson e Gustaf Larson fundam a Volvo, e decidem criar veículos seguros e de alta qualidade. No início, a Volvo era apenas uma iniciativa de empreendedores sem experiência direta com carros ou indústria automobilística. O primeiro caminhão da Volvo foi produzido em 1928 e tinha motor a gasolina de 28 hp. O modelo teve uma produção de 500 unidades. A marca percebeu, já neste período, que a chave do sucesso estava na exportação.

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Em 1965, a Volvo torna-se uma das maiores montadoras de caminhões da Europa, com a formação da Volvo Europa NV, com sede em Bruxelas, na Bélgica. A corporação passa de uma organização sueca para uma fabricante internacional de veículos com base continental.

O Grupo Volvo hoje, com cerca de 100 000 funcionários, tem instalações fabris em 19 países e comercializa seus produtos em mais de 190 mercados. As empresas e marcas do Grupo Volvo compreendem – Caminhões: Volvo, Renault Trucks, Mack e UD Trucks; ônibus: Volvo UD, Sunwin, Prevost e Nova bus, equipamentos de construção: Volvo e SDLG e Volvo Penta: marca da Volvo para motores marítimos e comerciais.

Os produtos feitos no Brasil são comercializados no mercado interno e exportados para toda a América Latina, menos México. A Volvo tem duas fábricas no Brasil e sede na Cidade Industrial de Curitiba. Na planta fabril de Curitiba são produzidos os caminhões das linhas F e VM e chassis de ônibus rodoviários e urbanos convencionais, articulados, biarticulados e híbridos. A companhia tem ainda uma unidade fabril em Pederneiras, interior de São Paulo. No total, a corporação conta com quatro mil funcionários.

Duas áreas de negócios importantes no Brasil são a de equipamentos de movimentação – escavadeiras,  carregadeiras, motoniveladoras, caminhões articulados para obras –, representada pela Volvo Equipamentos de Construção e a de motores marítimos representada pela Volvo Penta.

BRTs
Em 1992, para atender ao aumento da demanda do transporte urbano de passageiros em Curitiba, a empresa desenvolveu o chassi biarticulado, com 25 metros de comprimento e capacidade  para transportar 250 passageiros. Os ônibus da Volvo circulam no Transmilênio, sistema de transporte público colombiano, desde o ano 2001, quando Bogotá apostou no BRT (Bus Rapid Transit) para organizar o transporte urbano de passageiros. Os veículos articulados e biarticulados da marca operam nas vias troncais do BRT e os convencionais e híbridos nas linhas alimentadoras e complementares do SITP (Sistema Integrado de Transporte Público).

CRONOLOGIA
Seis anos após sua fundação na Suécia, em 1934, começam a chegar ao Rio de Janeiro os primeiros veículos Volvo, o cenário do Brasil era o de estradas precárias. Os produtos Volvo foram usados em diversos segmentos, mas a marca foi obrigada a deixar o país quando o governo brasileiro impôs restrições às importações com intuito de instalar um parque automobilístico nacional.

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Entretanto, a marca, importada entre 1934 e 1962, nunca foi esquecida, chegando a existir um grupo de caminhoneiros de Bragança Paulista (SP) que continuava a cruzar o país com veículos dos anos 50 e 60. Eles operaram até os anos 80 e tinham fama de fazer a carga chegar a qualquer ponto do Brasil. Era a “Turma de Bragança”.

Em 1931, durante uma reunião na Suécia, foi cogitada a hipótese de o Brasil tornar-se um possível mercado consumidor, mesmo distante. Os empreendedores suecos contaram com a importante influência do italiano Attilio Marchetti que tinha importantes relações comerciais em vários países e conhecia os brasileiros Carlo e Mário Pareto. Carlo Pareto era dono de banco próprio e controlava a usina Santa Luzia, no Rio de Janeiro, RJ. Foi dele o primeiro lote de cinco veículos importados, entre os quais um automóvel e quatro caminhões, que foram usados na Usina. Isso em 1933. Esses primeiros tornaram-se uma espécie de portifólio da marca.

“Em 1947 foi criada a Ind. e Com. Arno Gaertner & Cia Ltda., em Santa Catarina. No ano seguinte outra instalação da Volvo seria inaugurada em São Paulo. Mas, foi no início dos anos 50 que seriam lançados novos modelos de caminhões. Os mais importantes foram os modelos L385 “Viking” e o L395 “Titan”, também conhecido como “Super Volvo”.
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“O empenho do governo brasileiro em criar uma indústria automobilística local chegou a despertar o interesse da Volvo a se instalar no país, já nos anos 50, mas o suicídio do então presidente Getúlio Vargas, em agosto de 1954, sepultou também um projeto que previa a instalação de uma fábrica da marca em São José dos Campos (SP)”, (trecho do livro)

“O retorno começou a ser planejado novamente em 1966, em Gotemburgo, ao mesmo tempo em que a diretoria discutia a importância da criação de divisões específicas dentro do Grupo, para caminhões e ônibus. Um personagem importante surge nessa nova fase, o sueco Tage Karlsson, que viria a ser futuramente o primeiro presidente da Volvo no Brasil.” (trecho do livro). Estimulados pelos índices econômicos do “Milagre Brasileiro”, foi definido, em relatório interno, que a marca se instalaria por aqui. Por estar próxima ao Porto de Paranaguá e também do parque de autopeças de São Paulo, escolheram a cidade de Curitiba como localização.

Em 1977, o príncipe Bertil Bernadotte, da Suécia, participaria da cerimônia de colocação da pedra fundamental da fábrica da Volvo. “O presidente da República, João Figueiredo, inaugurou a nova fábrica oficialmente, a 4 de dezembro de 1980, mas a produção havia começado muito antes: motores e chassis de ônibus em 1979, o caminhão pesado N10 em 1980, com motor de 10 litros. Um ano mais tarde iniciou-se a produção do caminhão pesado N12, com motor de 12 litros”.O ano de 1985 trouxe outras novidades, como o lançamento da série F de motores, equipando a nova linha de caminhões Intercooler (resfriador do ar de admissão do turbo para o motor).

SEGURANÇA
Um destaque do histórico da Volvo é o Programa Volvo de Segurança no Trânsito (PSVT), criado em 1987, para reduzir um dado alarmante: o número de mortos em acidentes no Brasil. Em 2013, a empresa  focou suas ações no transporte comercial alinhado à Visão Zero acidentes para atingir a meta  de que nenhum acidente envolveria produtos da Volvo.

A visão Zero Acidentes, lançada na Europa em 2012 foi adotada no Brasil em 2014. A “Visão Zero” é um posicionamento de segurança no trânsito aprovado pelo Parlamento Sueco em outubro de 1997, segundo o qual ninguém será morto ou ferido gravemente em acidentes de trânsito. A Suécia já reduziu em mais de 50% o número de mortos e espera chegar à zero, ou muito próximo disso, em 10 anos. O PVST incentivou uma legislação mais rigorosa para o trânsito, para contribuir com a redução dos acidentes. Durante vários anos estimulou este debate até que, em 1997, nascia o novo Código de Trânsito Brasileiro.

A Volvo trouxe, pela primeira vez, airbags ao país, quando iniciou a importação do FH sueco, em 1994. Em 1996,  ao comercializar um caminhão – o EDC – com freios ABS, e, em 2003, ao propor um veículo com um sistema antiintrusão (FUPS). A empresa foi pioneira também, em 1980, com o N10 dotado de cinto de segurança de três pontos. E também o sistema alco-lock – uma espécie de bafômetro instalado dentro da cabine do veículo que trava a partida em caso de registro de quantidade de álcool no sangue acima do permitido pela legislação. Depois de 2003 vários lançamentos incluiram inovações tecnológica como computador de bordo, motores eletrônicos e rastreamento via satélite nos veículos Volvo.

“Em 2004, a Volvo do Brasil lançou o maior ônibus do mundo, o biarticulado com 27 metros de comprimento e capacidade para 270 passageiros. Foram 30 unidades introduzidas em um grande corredor de transporte de São Paulo – Av. 9 de Julho. Em 2005, a Volvo do Brasil realizou a maior venda de ônibus do mundo: 1.779 unidades para o inovador sistema Transantiago, que começou a operar em Santiago, no Chile, em outubro, com as primeiras 1.100 unidades”. (Trecho do livro “Fazendo o Brasil Rodar”).

RETROSPECTIVA BRASIL
Em 2010 foi lançado o ônibus híbrido e, no ano seguinte, o de veículos de passageiros com motor dianteiro. Em 2012, a Volvo apresenta na “Rio + 20” o ônibus híbrido da marca já produzido no Brasil.  Movido a eletricidade e a diesel fabricado só na Suécia. Era uma unidade de um lote de 30 que rodaria em Curitiba. Com dois motores (elétrico e a diesel) eliminava em 90% os gases poluentes. A capital paranaense foi a primeira cidade da América Latina a apostar em veículos menos agressivos ao meio ambiente.

Em 2013, a Volvo assinou com a Prefeitura de Curitiba um termo de cooperação técnica para testar o “Green Light”, um dos projetos desenvolvidos pelo Grupo Volvo, que contribui efetivamente para com a melhoria da mobilidade urbana. Além de Curitiba, a solução está em demonstração em Gotemburgo, na Suécia; em Viena, na Áustria; e em Salerno, na Itália.

A ano passado, a Volvo Bus Latin America apresentou soluções do sistema de transporte urbano de Curitiba, na European Mobility Exhibtion –Transports Publics. Esta acabou sendo a primeira vez que uma cidade não europeia foi homenageada; a capital do Paraná foi considerada modelo pelos organizadores do evento devido ao BRT (Bus Rapid Transit). Em outubro de 2014 um lançamento levou o transporte de cargas para a linha digital, com o lançamento dos caminhões da linha F com conectividade. Esse foi considerado o maior lançamento da história da Volvo.

Em junho de 2015, na cidade de Gotemburgo, na sede da Volvo, foi lançada a primeira linha de transporte de ônibus elétrico.  Operam em silêncio, não emitem poluentes e são movidos à base de eletricidade eólica e hidrelétrica na rota 55. A cidade colocou em operação, no dia 15 de junho passado, a primeira linha de transporte com ônibus elétrico. Três ônibus, totalmente elétricos, mais sete elétricos híbridos, todos da Volvo Buses entraram em operação. A linha tem vários veículos híbridos elétricos que funcionam a eletricidade em aproximadamente 70% do percurso.
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A rota, que vai de Chalmers Johanneberg até Chalmers Lindholmen, passando pelo centro de Gotemburgo, é equipada com Wi-Fi a bordo e estrutura para carregamento da bateria de telefone celular. A iniciativa é uma colaboração entre a Volvo, a região de Västra Götaland, Västtrafik, a cidade de Gotemburgo, a Chalmers University of Technology, a Swedish Energy Agency, Johanneberg Science Park, Lindholmen Science Park, a região empresarial de Gotemburgo, Göteborg Energi, Älvstranden Utveckling, Keolis, Akademiska Hus e Chalmersfastigheter. São 14 parceiros ao todo.

CULTURA

Considerando o ruído um dos maiores problemas de saúde pública, a Volvo, um dos parceiros do projeto ElectriCity,  também esteve envolvida na criação do “Silent Bus Sessions”. Em setembro último, uma campanha envolveu  artistas populares da Suécia. Os ônibus são tão silenciosos queas cantora Seinabo Sey  e Zara Larrson gravaram,  canções à capela, em modo acústico.