Criada em 1915 para produzir engrenagens para o Zepellin, a ZF ultrapassou o centenário como uma das empresas de mecânica mais inovadoras do mundo. No Brasil, há 60 anos, era inaugurada a sua primeira fábrica fora da Alemanha, mais exatamente, no dia 15 de agosto de 1958. A primeira unidade foi aberta em São Caetano do Sul (SP).

Fotos: ZF

Com 60 anos, a ZF está consolidada no País como importante fornecedora para a maioria das montadoras de automóveis, veículos comerciais, máquinas agrícolas, construção e industriais.  

Mundo digital e conectado

Com 103 anos no mundo, a ZF não envelheceu, apenas ficou mais sábia ao perceber que o mundo está ficando mais digital. Assim, ela não perdeu tempo e reformulou todo o seu negócio sem esquecer que o digital veio, não para substituir a mecânica, mas para fazer que o meio físico funcionar melhor, com maior eficiência e de forma mais amigável ambientalmente. Afinal, quem tem mais de 100 anos, sabe o quanto é importante se perpetuar e fazer a passagem entre gerações. Dessa reformulação nasceu o conceito See (ver), Think (pensar) e Act (agir), como para estar preparada para a quarta revolução industrial, envolvendo a logística e o transporte.

É fácil entender o slogan “See, Think e Act”. Para ver, a empresa devolve câmeras e radares, sistemas fundamentais para os veículos autônomos e semiautônomos “enxergarem” tudo o que ocorre ao entorno. O ato de pensar é feito por meio de supercomputadores que traduzem todas as informações colhidas pelas câmeras e radares. Após isso, é a hora de agir, ou seja, com as informações processadas, é o momento de realizar os comandos eletro-hidráulicos corretos para os sistemas mecânicos agirem, ou seja, para os sistemas de direção, freio e caixa de transmissão fazerem os movimentos mais assertivos para evitar um acidente, para reduzir o consumo de energia, poluir menos e, assim, levar cargas e pessoas do ponto “A” ao “B” da forma mais segura e com o menor impacto para o meio ambiente possivel.   

Diversificação

Wilson Bricio, presidente da ZF América do Sul

“A ZF foi uma das poucas multinacionais de autopeças que participou ativamente de todo processo de instalação, desenvolvimento e expansão da indústria automobilística brasileira”, afirma Wilson Bricio, presidente da ZF América do Sul.

De 1958 para cá, a ZF tem diversificado muito a sua atuação (veja abaixo), e agora, ela trabalha para reduzir o tempo para que as inovações apresentadas na Europa cheguem ao Brasil. Por exemplo, a caixa de marcha TraXon, apresentada pela primeira vez no IAA de 2016, já está sendo nacionalizada e será lançada no final deste ano. Câmeras e radares que vão aumentar a segurança dos veículos também já são testados no país. 

Telemetria

Segundo João Lopes, diretor da ZF Aftermarket, a solução digital Openmatics está em fase de homologação pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e está em teste em frotas pilotos. Trata-se de um sistema de gestão de frotas e logística independente para transportadores com possuem veículos de diversas marcas.  

Lopes explica que o Openmatics, diferentemente dos sistemas similares oferecidos por montadoras de caminhões e ônibus, pode ser customizado para cada cliente. Para exemplificar, em uma cervejaria, o sistema pode monitorar todos os freezers emprestados a bares e restaurantes. Quando o caminhão da cervejaria chega a um estabelecimento, o sistema, via Bluetooth, colhe informações sobre a temperatura do freezer e de quantas vezes as portas foram abertas. Isso é possível graças a uma TAG instalada no freezer e, com os dados de temperatura e abertura de portas, é possível saber como o cliente está cuidando da cerveja. Se o número de abertura de portas for muito maior do que o número de cervejas vendidas, a cervejaria descobre também que o estabelecimento está usando o freezer dela para colocar produtos da concorrência. 

Abaixo, confira a trajetória de seis décadas no Brasil contada pela própria ZF:

“Se em 1949 havia apenas 100 fabricantes de autopeças no Brasil, já em 1955 esse número mais do que quintuplicou, passando a 550 empresas no setor. O Brasil era o país da vez no cenário global para o setor automotivo. Em 31 de janeiro de 1956 Juscelino Kubitscheck assumiu a presidência do País com o slogan “50 anos de progresso em 5 anos de realizações”. No mesmo ano foi criada a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

Com o cenário nacional altamente promissor para o setor automotivo, a ZF decidiu montar no País sua primeira unidade fora da Alemanha. E a pós a fundação em 1958, em 1959 iniciou a produção de transmissões em São Caetano do Sul (SP).

A empresa chegou ao Brasil a princípio para fornecer sua caixa de transmissão para o DKW, que era produzido sob licença pela Veículos e Máquinas Agrícolas S.A. (Vemag), cuja fábrica ficava no bairro paulistano do Ipiranga.

Anos 60

O ano de 1960 termina com um número surpreendente: 1,2 mil fábricas de componentes automotivos instaladas no Brasil. Juscelino Kubitscheck verdadeiramente acelerou a economia. Em cinco anos, o Brasil, economicamente, dobrou de tamanho com um crescimento médio do PIB da ordem de 7%. A produção da indústria automotiva estava acelerada.

Em 1967, a ZF celebrou o marco de 25 mil transmissões fabricadas localmente para os DKW. As vendas para Vemag representavam 75% das vendas totais da ZF na época.  Neste mesmo ano, a Volkswagen comprou a Vemag e encerrou a produção do veículo.

Porém, neste período, a ZF já havia se consolidado no mercado brasileiro como a principal fornecedora de transmissões automotivas.

ZF, rapidamente, passou a ser a principal fornecedora de transmissões para a então incipiente indústria automotiva que começava a se posicionar na região do ABC Paulista. No final da década 50 e início da década de 60, Volkswagen, Scania e Ford levaram suas linhas de montagem do bairro industrial do Ipiranga para São Bernardo do Campo. A proximidade com o Porto de Santos foi um dos fatores.

De 1958 a 1967, a produção de veículos no Brasil quase quadruplicou: passou de 61 mil unidades em 1958 para alcançar mais de 225 mil em 1967. A ZF respondeu a esta expansão com fortes investimentos para aumentar sua capacidade produtiva e na nacionalização de novos produtos.

Família de caminhões MB LP. Foto: Arquivo

Em 1967, a empresa lançou a primeira transmissão para veículos pesados: a AK655 utilizada nos caminhões Mercedes-Benz LP 331.

Além das transmissões, outro produto desenvolvido pela ZF também contribuiu para tornar a marca alemã sinônimo de inovação automotiva. Corria o ano de 1969 quando a Chevrolet decidiu equipar seu esportivo de luxo, o Opala, com a direção hidráulica desenvolvida pela ZF. Nos anos seguintes, diversos modelos, como o Passat, da Volkswagen, e o Chevette, da GM, passaram a ser oferecidos ao mercado nacional com sistemas de direção tanto hidráulica quanto mecânica da ZF.

Anos 70

Com pouco mais de uma década produzindo no Brasil, a ZF decide ampliar seu portfólio diversificando sua atuação no mercado nacional. No ano de 1972, a empresa começa a produzir no País reversores marítimos que já eram consagrados na Europa. O primeiro foi o Reversor BW-26 de até 120 HP.

Em mais um avanço, a ZF passou a produzir, em 1974, direção hidráulica para caminhões e ônibus. As montadoras instantaneamente adotaram a nova tecnologia e os veículos aqui fabricados passaram a estabelecer um novo patamar de conforto para os motoristas profissionais.

A ZF celebrou 20 anos de Brasil em 1978 e, em apenas duas décadas, se tornou uma gigante do setor de autopeças. Neste ano a empresa já contava com mais de 2.250 colaboradores.

Já no ano seguinte, a ZF adquiriu uma área de 692 mil metros quadrados no Distrito Industrial de Sorocaba, SP, local onde se encontra até hoje. Em menos de um ano, em 15 de janeiro de 1980, inaugurava-se na região a chamada Fábrica II da ZF do Brasil.

Anos 80

A ZF foi uma das pioneiras na política de transferência tecnológica dentro do conceito de globalização dos processos. Em 1980, a empresa lançou simultaneamente na Alemanha e no Brasil a transmissão ZF-Ecosplit (família 16S). Foi incorporado nesta transmissão o conceito da sincronização. Por entregar mais eficiência à operação de transporte, essa transmissão rapidamente passou a ser utilizada pela maioria dos caminhões pesados produzidos no Brasil nesta época.

Cinco anos após inaugurar sua nova fábrica em Sorocaba, a empresa continuou crescendo e construiu, no mesmo terreno, a sua expansão, destinada a produzir caixas de transmissão para ônibus, caminhões, tratores e colheitadeiras, eixos tracionados para tratores e reversores marítimos. Neste ano a ZF apresentou ao mercado brasileiro seus eixos agrícolas da Família APL. Estes eixos permitiram a produção local de máquinas agrícolas de maior potência e contribuíram para revolucionar a produtividade dos tratores rurais do País. Até então, os tratores eram de menor potência e com tração 4×2.

Anos 90

Os anos 90 começaram com uma radical mudança no cenário econômico do País. O governo brasileiro decidiu liberar a importação de carros, o que causou forte impacto na indústria automotiva nacional. Com a queda das barreiras, a indústria se modernizou rapidamente para se tornar ainda mais competitiva.

Ao mesmo tempo a ZF começou a fabricar duas novas direções hidráulicas: a Servotronic, com comando eletrônico, para picapes; e a Servocom, para caminhões leves, médios e pesados. Com pesados investimentos na modernização de sua fábrica, em 1994 a ZF conquistou a certificação ISO 9001, mesmo ano em que teve início a produção das bombas de óleo FN4 e FN 3.1 para direções hidráulicas de veículos pesados.

No ano de 1996, a ZF lançou no Brasil a transmissão 16S-1650, a segunda geração da transmissão Ecosplit, com maior capacidade de torque e maior vida útil chegava para que os caminhões enfrentassem ainda com mais rigor o transporte pesado no Brasil e ainda reduzia em 30% o esforço físico do motorista. Com a fábrica de Sorocaba modernizada e inteiramente ajustada para atender as demandas do Brasil e também da América do Sul, em 1997 a ZF anunciou a transferência definitiva de suas atividades na unidade de São Caetano do Sul, local onde começou sua história no Brasil, para a planta de Sorocaba.

Anos 2000

A ZF entrou em alta velocidade no ano 2000. Começou a década anunciando a inauguração da linha de produção da transmissão automática ZF-Ecomat, destinadas para ônibus urbanos e caminhões com aplicações especiais.  No ano seguinte, Mannesmann Sachs AG foi comprada pela ZF Friedrichshafen e passou a chamar-se ZF Sachs AG.

No Brasil as plantas de São Bernardo do Campo e Araraquara tornaram-se a Divisão ZF SACHS Powertrain e seguiram produzindo as embreagens para veículos comerciais e de passeio para montadoras como Ford, General Motors, Mercedes-Benz, Volkswagen e Volvo. 

Ainda em 2001, a ZF Lemförder do Brasil inicia as operações no complexo industrial de Sorocaba e, em 2004, conquistou liderança do mercado de barras de direção e suspensão para veículos de passeio. Dois anos depois, essa unidade foi integrada à ZF do Brasil, tornando-se Divisão ZF Lemförder Tecnologia de Chassis Para Veículos.

Em 2005 a transmissão automatizada para caminhões pesados, a AS Tronic, desenvolvida para veículos comerciais com motores gerenciados eletronicamente e que realiza as trocas de marcha nas partidas e paradas sem necessidade de atuação do motorista, passa a equipar o Pace Truck da Fórmula Truck. Com isso, a ZF demonstra ao mercado os atributos da transmissão como menor consumo de combustível, maior durabilidade ao trem de força, reduzida emissão de poluentes, além de conforto e segurança para o motorista.

Anos 2010

Em 2012, aqui no Brasil, a ZF iniciou a produção da primeira transmissão automatizada aplicada em ônibus urbano, a AS Tronic Lite. Dois anos depois, a ZF anunciou a nacionalização da transmissão automatizada AS-Tronic, contribuindo para que os clientes atinjam os atuais requisitos governamentais de conteúdo local.

O ano de 2015 marcou um aniversário importante para a ZF: há 100 anos, em 1915, a “Zahnradfabrik GmbH” foi fundada. Em setembro de 1915, a “Zahnradfabrik GmbH” apareceu pela primeira vez em um registro comercial. E no ano de seu centenário, a empresa anuncia o processo de aquisição da gigante americana TRW Automotive. A união das duas empresas sob o guarda-chuva da ZF criou o terceiro maior fornecedor automotivo no mundo, com um volume de vendas de mais de 30 bilhões de euros (US$ 41 bilhões) e cerca de 130.000 trabalhadores.

Em fevereiro de 2015, com a presença de executivos da ZF do Brasil e Alemanha, a ZF inaugurou uma nova linha de montagem com a nacionalização de sua transmissão automatizada de 16 marchas para caminhões pesados, a AS Tronic, em Sorocaba, SP. Esta caixa equipa caminhões da Volkswagen, Iveco e DAF.

Em março, a ZF e a Mercedes-Benz firmaram uma parceria para a nova planta da montadora em Iracemápolis, SP. Com isso, a ZF passou a montar sistemas de chassis, eixos dianteiros e traseiros completos, bem como o conjunto de powertrain para veículos Classe C e GLA, produzidos em Iracemápolis.

E no ano em que completa seis décadas de Brasil, a ZF é considerada a melhor empresa sistemista para se trabalhar no País e, no ranking geral, de acordo com pesquisa da plataforma de empregos Indeed com o apoio da Revista Forbes Brasil, a empresa ficou em nono lugar entre todas companhias aqui instaladas.

Transmissão TraXon com sistema hybrid – com motor elétrico. Versão básica está sendo nacionalizada para lançamento no Brasil até o final deste ano

Em 2018 as transmissões automatizadas TraXon e Ecotronic, que tiveram sua nacionalização anunciada em 2016, passam pelas últimas etapas de testes no mercado brasileiro e já iniciaram sua produção em escala.

A nacionalização tanto da transmissão modular TraXon como da Ecotronic são uma amostra de que as melhores tecnologias existentes na Europa voltadas ao mercado de veículos comerciais são realidades introduzidas pela ZF no Brasil.  A TraXon é para caminhões pesados e possui um projeto básico que pode ser configurado de acordo com a decisão do cliente, desde embreagem convencional ou dupla, conversor de torque, tomada de força ou módulo híbrido.

A EcoTronic foi desenvolvida para caminhões médios e semipesados. Ambas apresentam custos operacionais reduzidos, como menor consumo de combustível, menor desgaste dos elementos de atrito da embreagem e freios, direção padronizada, tempo de manutenção reduzido e maior segurança e conforto

Ainda na área de transmissões automáticas, a ZF lançou a Powerline — uma automática de 8 marchas inspirada 8HP aplicada em automóveis pode equipar caminhões, picapes e ônibus urbanos e interurbanos com motorização de até 1.200 Nm.

A ZF está demonstrando sua ampla experiência em sistemas também por meio do e.GO Mover, um veículo completamente inovador, fruto de um joint-venture da ZF com a recém-fundada e.GO Moove GmbH. O e.GO Mover faz parte de uma proposta logística totalmente digital, incluindo hardware, software e serviços. A ZF está equipando o e.GO Mover com sistemas de acionamento elétrico, sistemas de direção e freios, bem como com o computador central ProAI, da ZF (que utiliza inteligência artificial), e sensores que permitem funções de condução automatizada. Trata-se do primeiro veículo pronto para produção com sistemas ZF que constitui um conceito de mobilidade autônoma para cidades e entrará em produção seriada já a partir de 2019.”

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).