Idade média dos caminhoneiros está envelhecida

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A idade média dos caminhoneiros é algo que preocupa toda a cadeia do transporte rodoviário de cargas. A falta de mão de obra qualificada e o desinteresse dos jovens pela profissão podem gerar um apagão no setor nos próximos anos.

Pesquisa Nacional Realidade do Transportador Autônomo de Carga 2024, realizada pela Confederação Nacional dos Caminhoneiros Autônomos comprova essa realidade. Dos 1006 caminhoneiros entrevistados, 19% têm menos de 35 anos enquanto 47% têm entre 46 e 65 anos.

Para Alan Medeiros, a pesquisa evidenciou o envelhecimento da categoria. “O estudo indica que a escassez de trabalhadores tende a piorar no médio e longo prazo, já que a maioria da categoria (51%) está mais próxima da aposentadoria do que do início da vida economicamente ativa. Além disso, quase metade dos entrevistados diz pretender sair da profissão antes de encerrar o ciclo de vida economicamente ativa”, explicou.

Alguns dados destacados na pesquisa apontam alguns motivos pelos quais a idade média dos caminhoneiros está envelhecida e os jovens não cogitando a profissão. Metade dos caminhoneiros nunca se sente segura nas estradas e 46% deles já foram vítimas de roubo de carga. Apenas um em cada quatro considera as condições dos pátios como boas ou ótimas.
Ainda segundo Medeiros, outros fatores decisivos para o não ingresso ou a permanência desses profissionais na área são a remuneração baixa, condição de trabalho desgastante, devido ao não cumprimento de direitos dos caminhoneiros pelos contratantes, e a falta de estrutura adequada, somada aos custos e aos riscos da profissão.

“O incentivo de pais para que filhos entrem na profissão não tem sido algo tão comum como historicamente se evidenciou no transporte rodoviário de cargas. Em pesquisas qualitativas com caminhoneiros em Pontos de Parada e Descanso em bases sindicais, é perceptível o desestimulo de caminhoneiros às novas gerações em virtude das dificuldades e da falta de reconhecimento encontradas na profissão”, destacou.

Idade média dos caminhoneiros: contratação direta pelo embarcador pode ajudar a melhorar a profissão

Para a reversão da tendência de envelhecimento da profissão, a CNTA aponta sugestões para o poder público e à agência reguladora. Uma delas é proporcionar meios para que o caminhoneiro seja contratado diretamente pelo embarcador – sem atravessadores – é um caminho para que haja aumento na remuneração do frete sem acarretar maior custo para quem contrata. “Um estudo da Delloite aponta que a contratação direta por meio de plataforma digital facilitadora acarretaria numa diminuição de custos de 19% para quem contrata e ganho de renda de 15% para quem transporta”, explicou Alan.

Outras ações sugeridas pela CNTA seriam uma maior fiscalização a embarcadores e transportadoras sobre os direitos do transportador e abertura de um canal direito de denúncias do caminhoneiro à agência reguladora.

“A implantação de mais PPDs, melhores condições de infraestrutura nas estradas, ações e incentivos do Estado e segurança são demais fatores que, na avaliação da CNTA, contribuiriam para a valorização da categoria e para frear o crescimento da escassez de motoristas”, disse.

Sobre o número de PPDs, CNTA participou de audiência pública na ANTT e colaborou com várias propostas na nova regulamentação publicada em novembro. Foi sugestão da CNTA e está no texto que cada concessionária terá que fazer estudos locacionais para a implantação de PPDs nos primeiros três anos de contrato, seja contrato novo ou aditado.

Idade média dos caminhoneiros: ações de valorização são medidas urgentes para atrair novos motoristas 

Urubatan Helou, fundador e CEO da Braspress, também acredita ser importante ações de valorização com os caminhoneiros para estimular o ingresso de novos profissionais. No caso da Braspress, Helou diz que os motoristas da empresa não ficam mais de 48 horas longe de casa.

“A falta de motorista não é um assunto novo. Ele vem desde a década de 80 quando o roubo de carga cresceu no Brasil e a sucessão começou a ser afetada. Assim, chegamos a atual realidade em que a idade média do motorista gira em torno de 52 a 54 anos. Dessa forma, nos próximos 10 anos, 60% desses motoristas vão se aposentar”, destacou Helou.

Para Helou essa situação pode levar a um apagão logístico no País e é essencial que os empresários reconheçam que o motorista é o principal profissional da área de transporte.

“A maioria das empresas de transporte, reitero, a maioria, não todas, querem pagar R$ 4 mil para o motorista. E essas empresas não estão nem aí para o regime de horas trabalhadas”, afirmou.
Na Braspress existe um plano de carreira e através de métricas de telemetria os motoristas são classificados como bronze, prata, ouro e diamante de acordo com o rendimento deles. Assim, 50% dos motoristas são ranqueados. Um caminhoneiro nível bronze chega a ganhar R$ 8,5 mil e o diamante o dobro. “A cada trimestre esses condutores são ranqueados e ganham prêmios, em cheque, e parte desse valor é enviado para a família. O objetivo é reconhecimento criado em torno da imagem do motorista”, explicou.

Outro ponto destacado por Helou é a importância das mulheres para o setor de transporte. Pioneiro na contratação de mão de obra feminina desde 1990, Helou faz questão de dizer que não faz distinção entre homens e mulheres “ No final dos anos 90 começamos a admitir mulheres motoristas justamente por já existir uma falta de mão de obra qualificada no setor. Hoje temos cerca de 30% de motoristas mulheres atuando no transporte urbano, rodoviário e bitrem”, disse. Para atrair mais caminhoneiras, a Braspress tem o programa Rainhas do Volante, que financia a CNH.

Veja a entrevista completa com Urubatan Helou, da Braspress

Idade média dos caminhoneiros: incentivar o ingresso de mulheres é essencial para reduzir a falta de mão de obra

Para Helou a chegada das mulheres motoristas também contribuiu para melhorar a qualidade da mão de obra no geral. Ele conta que quando o gerente de frota solicitava cursos de capacitação os homens não participavam justificando que já sabiam dirigir. Porém, o contrário acontecia com as mulheres que logo se interessavam e se mostram interessada no aperfeiçoamento.
“Esse comportamento mudou a cabeça dos homens que passaram a participar dos treinamentos. cabine dos caminhões das motoristas é mais organizada e a durabilidade de componentes, como da pastilha de freios, é 50% maior no caminhão delas. Todas essas mudanças trouxeram resultados positivos como a redução de paradas para a manutenção ”, elogiou Helou.

Para atrair as mulheres, temos o programa Rainhas do Volante, em que a gente financia a CNH.Quando se fala de autônomo, Helou acredita ser “uma classe em extinção” e isso pode contribuir para agravar ainda mais a falta de mão de obra. Ele acredita que o autônomo está fazendo uma autofagia. Isso porque, o que ele recebe de frete não é suficiente para ter um caminhão em boas condições ou em linha com a tecnologia atual.

“O caminhoneiro autônomo vai diminuir com o tempo. E isso vai trazer consequências muito sérias. Estamos precarizando de forma acelerada o processo logístico nacional. É preciso melhorar o frete. Hoje as tarifas praticadas no mercado brasileiro são muito baixas e as transportadoras não conseguem repassar para os autônomos um valor de frete maior. É preciso mudar essa realidade”, finalizou.