Com a chegada das baixas temperaturas no hemisfério sul, caminhões que atuam nas operações de transporte, precisamente na Cordilheira dos Andes e Patagônia, têm de estar preparados para rodar nessas condições, assim como os motoristas devem estar devidamente aptos, pois há normas a seguir, como pneus homologados para neve, entre outros procedimentos.

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Como muitos caminhões que rodam nessa rota são produzidos no Brasil, do ponto de vista da indústria eles já estão dimensionados para trafegarem nas mais baixas temperaturas dos Andes – que no auge do inverno, em meados de julho, podem chegar a -10ºC de dia e -32°C na madrugada.

Na Volvo, por exemplo, os produtos são desenvolvidos globalmente, para atender todos os mercados em que a fabricante atua. “Mesmo se o nosso caminhão não for trabalhar nas baixas temperaturas ou altitudes, os veículos estão dimensionados para suportar essas condições. E o mesmo vale nos casos das altas temperaturas do Brasil”, ressalta Álvaro Menoncin, gerente de engenharia de vendas da Volvo no Brasil. “Posso acrescentar que 99% do produto que nós vendemos em qualquer mercado são iguais.”

Bernardo Vianna, supervisor de qualidade para avaliação do produto da MAN Latin America explica que os caminhões da marca também são desenvolvidos para atender mercados globais, e que, inclusive, os semileves, pouco usuais nessas operações, são avaliados nas extremas condições. A grife de origem germânica, além de ter produtos como o TGX já testados na Europa onde o frio é mais intenso, na América do Sul, em países como o Chile, essa linha ainda passa por testes rigorosos em tempos frios e a cerca de 4.000 m de altitude, como a região do Deserto do Atacama, e o mesmo acontece com os caminhões da linha Volkswagen.

Contudo, algumas particularidades existem. Nos mercados mais frios há modelos que recebem alguns itens extras para suportar baixíssimas temperaturas, como mangueiras de aquecimento da ureia (Arla 32) e o sistema de pré-aquecimento do ar de admissão, que facilita o caminhão dar partida pela manhã. “Itens como esses são colocados como standard nos veículos Euro 5 nesses mercados”, diz Menoncin.

A critério do cliente, o caminhão Volvo, por exemplo, pode receber aquecedor de banco e de cabine. Esses itens são opcionais, porque não é em todo a região que as temperaturas são baixas. Por isso, o cliente é quem deve avaliar, de acordo com o perfil da sua rota.

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Outro item que é mandatório em quase todos os veículos que operam nas temperaturas congelantes é a bateria de maior capacidade. Segundo Rodrigo Caldeirone, da área de vendas Mercedes-Benz para a América Latina, a amperagem mais adequada da bateria nessas condições é a partir de 200 amperes. Para se ter uma ideia, veí­culos rodoviários que não rodam em situações extremas, como no Brasil, a bateria utilizada é de 145 amperes. O executivo da marca da estrela lembra, ainda, que é recomendado um aditivo que é colocado junto com a água do radiador para que ela não congele.

“Esse líquido, à base de etileno glicol, não permite que a água do radiador congele a temperatura de até -30º”. 

No que se refere ao pneu, todas as marcas recomendam o modelo de uso misto, com medida 295, mas com um desenho específico, com sulcos mais profundos, capaz de trafegar no asfalto e na neve. 
Christian Diaz, master drive da Scania Chile, afirma que a própria lei naquele país impõe ao motorista que carregue correntes, e elas devem ser colocadas no pneu quando o veículo vai trafegar na neve. “Na região da Cordilheira, em período de nevasca, há fiscalização para averiguar se os pneus estão com essas correntes”, salienta o master da Scania.

Velocidade x força

Tudo bem que essa relação requer uma conta sobre qual tipo de carga que vai ser transportada, mais a composição que vai carregar a mercadoria, tipo de rota e tempo de viagem (já que boa parte das operações nesses mercados transportam cargas perecíveis, como pescados, frutas e vinhos).

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No caso das operações rodoviárias feitas passando pelo Chile e Argentina comumente são utilizados semirreboques de três eixos – ao contrário do Brasil e do Paraguai em que as composições CVC (combinações veiculares de carga), são também bastante comuns.

No entanto, as fabricantes são unânimes ao dizer que, somadas a neve e a altitude, o veículo mais adequado é um modelo que oferece potência superior a 440 cv. O caminhão 4×2 é muito presente no Chile, na Argentina e no Uruguai, cerca de 60%, por isso é recomendado, nas baixas temperaturas, o bloqueio de diferencial traseiro.

Off-road abaixo de 0°C

A Scania possui forte presença no segmento fora de estrada, com operações de mineração no Chile, sobretudo, no norte do país, a 2.300 m de altitude, onde é comum neve e chuva por meses. Por isso, ela desenvolveu um programa chamado Plano de Inverno naquele país, uma vez que há pelo menos 60 campos de mineração espalhados pelo país. Esse plano consiste em treinamento e suporte aos veículos que operam nessa atividade. Vale um adendo, porém, que como essas operações funcionam 24 horas, mesmo em condições extremas de temperatura, a Scania tem de manter uma estrutura próxima a esses campos para dar todo o suporte técnico.

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Christian Diaz explica que mesmo nessas operações os veículos são equipados com sistema de aquecimento das mangueiras do tanque de combustível, controle eletrônico de estabilidade, o ESP – este, sendo um item exigido por lei para caminhões dentro das minas. Itens como uma espuma de combate a incêndio (algo superior ao extintor convencional) também é exigido aos caminhões que trafegam dentro dos túneis de mineração.

Mesmo com a velocidade controlada, 40 km/h no inverno, recomenda-se um veículo com potência também superior a 400 cv. Lá, os modelos mais vendidos nessa atividade são P 400 6×4 e G 440 8×4.

Dicas Volvo de direção na neve

O instrutor técnico da Volvo do Brasil, Vânio Albino, viaja por todos os países em que a fabricante fornece veículos, e isso inclui os países do Mercosul. Sua missão é dar treinamento aos motoristas e instruí-los a tirar o melhor aproveitamento do caminhão nas mais extremas condições. Nas baixas temperaturas, ele dá algumas sugestões:

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• Ao dar a partida  pela manhã aqueça o motor até atingir a temperatura de trabalho, inicie a jornada com velocidade baixa, acelerando suavemente
• Verifique as condições das luzes, lanternas, e luz indicadora de direção
• Verifique o nível de óleo, água, e pressão de ar
• O tanque de combustível deve estar cheio, pois em estradas de gelo pode não haver postos de abastecimento
• Verifique os pneus antes de conduzir em estradas de gelo ou com neve, é importante estarem em bom estado para melhor aderência, veja pressão, alinhamento dos eixos do cavalo e da carreta, porque são fundamentais para a centralização do caminhão na pista escorregadia. Um caminhão desalinhado tem probabilidade maior     de sair da pista
• Em dias de nevasca use as correntes nos pneus, porque elas dão melhor aderência na pista
• O motorista que trafega por locais de neve deve estar preparado com roupas e comidas extras, pois em cordilheiras com nevasca a pista pode ficar interrompida por muitos dias
• Evite lugares com pouco tráfego ou de difícil acesso 
• Dirija sempre em baixa velocidade, procure testar a tração dos pneus, encontre uma velocidade confortável em que você possa dirigir sem deslizar ou perder o controle
• A visibilidade normalmente é baixa em dias de neve, e o motorista deve diminuir a velocidade, e se tiver dificuldades, reduzir ainda mais ou estacionar em um local seguro fora da pista
• Cuidados com o gelo negro, pontes e viadutos congelam primeiro que o restante da estrada, portanto, ao se aproximar desses locais tenha o máximo de cuidado.
• Em descidas utilize sempre o freio da carreta para evitar um L  conhecido também como efeito canivete, com ajuda do freio-motor você pode evitar o aquecimento das lonas de freio

Tome nota

Nas temperaturas abaixo de zero, os principais itens que o caminhão deve ter são:
• Anticongelante da água do radiador 
• Sistema de preaquecimento da câmara de admissão
• Mangueiras de aquecimento da ureia
• Bateria de maior amperagem
• Isolamento térmico tanto para altas como baixas temperaturas com filtros isolantes no cofre do motor e painéis das portas
• Pneus mistos para asfalto e neve