Em agosto de 2018, o mundo foi surpreendido por uma iniciativa, até hoje, sem similar no planeta. A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) anunciou, na época, o maior negócio já realizado em termos de renovação de frota com caminhões 100% elétricos. Graças a um contrato de intenção de compras e apoio em uma longa e exaustiva jornada de testes, a VWCO anunciava o desenvolvimento do VW e-Delivery. Se o projeto e os testes dessem certos, a intenção de compra poderia virar realidade. Depois de cerca de 40 mil rodados em operações reais na entrega de bebidas na cidade São Paulo, a Ambev mandou o resultado: podem produzir as 100 primeiras unidades, pois os testes deram certos. A Ambev tem seus compromissos de sustentabilidade com o controlador global, a AB-InBev, governos europeus e investidores, mas também não rasga dinheiro. Isso foi a dica suficiente para a Coca-Cola Femsa, maior engarrafadora e distribuidora da Coca-Cola Company no mundo, já encomendar 20 unidades sem nunca ter testado o caminhão. Foi pura confiança no principal concorrente. 

E olha que o caminhão não é barato. A versão adquirida pela Ambev (e-Delivery 14 t 6×2) com três packs de baterias tem o preço público de R$ 795.000. Preço público né, não para quem tem 1.600 unidades na carteira de encomendas. A versão com 3 packs de baterias tem autonomia de cerca de 110 quilômetros, o suficiente para atender a média diária de rodagem na distribuição de bebidas (73 km dia), no entanto, há operações que chegam apenas 30 km por dia. Se precisar de mais autonomia, tem a opção de 6 packs de baterias e o preço sobe para R$ 980.000. O modelo de 11 toneladas tem os preços públicos de R$ 780.000 (3 packs) e R$ 967.000 (6 packs). Depois vem os custos com carregadores (de uma empresa da Suíça que cobra caro, cobra R$ 80 mil a unidade, mas o cliente pode buscar alternativas melhores), contrato de manutenção etc., mas também há os “mimos” dados pela VW para os primeiros compradores.

Lógico que uma coisa que a Ambev tem muito são especialistas em matemática financeira e planilha de Excel. Sabem que o investimento será pago em alguns anos e o lucro vem depois, considerando uma planilha de Excel de TCO (Total Custo de Operação) em um período de 10 anos. Como os motores elétricos têm uma duração maior, a planilha pode até ser esticada para 15 anos. Muito provavelmente, os primeiros cinco anos serão para pagar o investimento, e o restante do período para lucrar. Trata-se de uma estratégia de longa prazo que vai encher os relatórios de sustentabilidade com números positivos para o meio ambiente. Lógico que é uma estratégia para quem tem “bala na agulha” para fazer um alto investimento inicial, inclusive, na produção própria e sustentável de energia elétrica para abastecer os caminhões. A Ambev já apresentou o plano dela, bastante focado em energia solar. A Coca-Cola, ainda não.

A opção da Femsa

A Coca-Cola Femsa fez a mesma opção de configuração, pelo modelo de 14 toneladas e de 3 packs de baterias, pois, afinal, mudam o sabor dos refrigerantes e cervejas, mas os clientes estão, praticamente, nas mesmas rotas.

“Nosso objetivo é sermos líderes em mobilidade sustentável (faltam 1.581 e-Delivery para ficar com uma unidade a frente da Ambev, observação do editor), gerando uma redução significativa na emissão de poluentes. Essa iniciativa se soma a outras ações de eficiência e tecnologia já adotadas ao longo dos últimos anos em nossas operações”, ratifica Ian Craig, CEO da companhia no Brasil, acrescentando que os novos veículos vão entrar em operação até o fim deste ano.

Entre as metas de sustentabilidade da Femsa estão a redução de 28% nas emissões de gases do efeito estufa até 2030 (em relação a 2015). Vale ressaltar que a meta é pequena em comparação com empresas até de porte menor. “Nosso objetivo é gerar valor ambiental para os nossos stakeholders e as comunidades que atendemos, considerando ações para minimizar e mitigar os impactos em toda a cadeia de valor: de fornecedores a clientes e consumidores”, completa o CEO da Coca-Cola FEMSA Brasil, que atende 88 milhões de consumidores em 49% do território brasileiro.

A Femsa é membro do Índice Dow Jones de Sustentabilidade MILA Pacific Alliance, do Índice FTSE4Good Emerging e do Índice S&P/BMV total México ESG, entre outros. Suas operações cobrem territórios no México, Brasil – onde já atua há 18 anos – Guatemala, Colômbia e Argentina e, em nível nacional, na Costa Rica, Nicarágua, Panamá, Uruguai e Venezuela, por meio do investimento na KOF Venezuela. 

 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).