Vai comprar um caminhão usado? Então confira como foi o teste do Mercedes-Benz Axor 2540 6×2 publicado na versão impressa da revista TRANSPORTE MUNDIAL número 38. Este modelo foi produzido até o final de 2011, como modelo 2012, e está cotado na tabela Fipe por R$ 211.870 (setembro de 2022). E o modelo Axor 2540 mais antigo é 2004, cotado em R$ 104.461. 

O Axor 2540 é um desses cavalos me­cânicos que saia da linha de montagem con­forme a encomenda do comprador, com diferentes tamanhos de cabines e equipamentos. Pa­ra a avaliação, no entanto, o veículo es­tava preparado para cobrir as grandes distâncias rodoviárias: habitáculo bem equipado e com muito espaço para a época.  

O modelo é um dos veículos da linha equipado com o 3º eixo de fábrica e foi o substituto do 1938s 6×2. Para o teste, estava acoplado a uma carreta tipo sider de três eixos do­tada de suspensão pneumática. Pelas ca­racterísticas técnicas do caminhão, o con­junto era indicado para trans­ferências com PBTC (Pe­­­­so Bruto To­tal Com­binado) de 57 000 kg. 

A família Axor, em geral, se mostrava atra­­­en­te ao setor de transporte rodoviário de carga. A cabine era um produto mundial da Mercedes-Benz. Sua plataforma de de­senvolvimento, embora pareça es­­­tra­nho, foi a do Atego. Ela é produzida em ape­nas três lugares do mundo –– Brasil, Turquia e Alemanha –– e, por isso, pode-se equipará-la ao nível do ha­bitáculo encontrado pelo consumidor eu­ropeu. As diferenças foram somente nas adequações à realidade de cada país. Seria um tiro no pé se a montadora não previsse a produção de caminhões mais robustos para resistir aos excessos de impactos tão comuns nas es­­tradas brasileiras. 

Para a avaliação, o Axor es­tava con­figurado com uma ca­bine leito de teto alto. Nesta versão, o operador não se depara com restrições para subir no caminhão, tão pouco com apertos in­ternos. A abertura das portas é generosa na hora de abrir passagem aos usuários e o espaço é amplo, confortável e sua organização privilegia a praticidade, na qual as zonas de descanso e trabalho são bem definidas. 

A arquitetura interna foi um dos temas bem acertados no Axor. Apesar do pro­nunciado cofre do motor, o arranjo pre­ser­vou a altura e revelou novas ma­neiras de com­por o ambiente. O es­­­forço de tornar o piso o mais plano pos­sível desvendou so­­luções inéditas na dis­posição dos com­po­nentes. A geladeira, por exemplo, fica sob a cama, entre dois paióis; há lugar pa­ra instalação de beliche e o console do teto abriga diversos compartimentos. 

Painel de instrumentos

Na cabine leito e teto alto do Axor, o que não falta é espaço e conforto para o motorista. A distribuição interna das áreas é bem acertada, capaz de definir adequadamente as zonas de trabalho e descanso. Apesar do cofre do motor no meio do ambiente, o condutor não encontra dificuldade para se movimentar, por exemplo, na hora de sair do posto de comando e alcançar a cama. O segredo para preservar o máximo de espaço, principalmente na altura, rebaixou o piso para torná-lo o mais plano possível. A solução beneficiou a organização dos itens internos e a comodidade dos ocupantes. O painel tem um arranjo conveniente para auxiliar o motorista durante a viagem. O desenho envolvente deixa os instrumentos à distância de um braço, sem exigir do condutor ações que tirem sua atenção da rodovia ou que o façam desencostar o corpo do encosto. O banco, claro, tem suspensão pneumática.

Motor

O trem de força do Axor 2540 pro­por­cio­nou um desempenho à altura de sua pro­posta. Sua força provém de um motor de 6 cilindros em linha que gera 401 cv a 1.900 rpm. Seu torque de 204 kgfm aparece rapidamente, a 1.100 rpm. O bloco, com gerenciamento eletrônico, acoplado a uma caixa de transmissão de 16 marchas sincronizadas e redutor nos cubos.   

Durante a avaliação 

O melhor exemplo da boa relação encontrada pelos engenheiros da Mer­ce­des-Benz na composição dos integrantes mecânicos do conjunto, revelou-se na acentuada descida da Serra do Mar. Em direção ao litoral paulista, pela pista da Anchieta, o Axor conseguiu apresentar um enorme potencial para enfrentar os desfiladeiros. Apesar de carregado com 40 380 kg, bem abaixo dos 57.000 kg com os quais poderia trafegar, o modelo mostrou-se impecável para a tarefa. No começo do desafio, antes da numerosa sequência de curvas, o ajuste da 8ª mar­cha simples, correspondente à 1ª da cai­­xa alta, impôs um ritmo de 30 a 35 km/h­­, no limite de sua faixa verde, a 2.000 rpm. O arranjo foi suficiente para preservar o freio e garantir a segurança na ladeira. 

Surpreendente, no entanto, foi a atuação do Turbo Brake, equipamento exclusivo da marca, oferecido como opcional. Trata-se de um freio-motor auxiliar que utiliza parte dos gases da combustão para acionar a turbina do motor e multiplicar a potência de frenagem, o que pode chegar a 580 cv. Só para se ter uma ideia, o também eficiente Top Brake, outro conceito da Mercedes de freio-motor, não ultrapassava os 350 cv. Na Serra do Mar, a utilização do Top Brake arrefeceu qualquer exacerbação do ca­minhão, embalado pelos trechos mais acen­tuados da descida. 

O recurso do Turbo Brake realmente promove condições para que o motorista possa mo­dular, pelo painel, a potência de frenagem sem a ne­­ces­­sidade de pisar no pedal de freio. O bom aproveitamento do Turbo Brake serviu também para ganhar vantagens no tanque. O trecho compreendido entre o planalto paulista, pela Rodovia dos Imigrantes, e a descida da Serra, até Cubatão, SP, soma 53 km. Nessa primeira etapa do percurso, o Axor consumiu 14,59 l de combustível, fa­­zen­­do uma média de 3, 63 km/l. Um ex­­­­celente resultado, já que durante o ca­minho enfrentou diversos períodos de chuva intensa, aumentando a resistência do ar. 

Força de sobra 

Novamente com o reservatório abas­te­cido, o Axor 2540 teve pela frente as condições ideais para apresentar suas habilidades para manter o ritmo da via­gem. Ao nível do mar e já com o sol bri­lhando, o que providenciou a secagem da pista, o veículo provou, mais uma vez, seu acerto mecânico. O motor foi vigoroso e aten­deu pron­tamente aos comandos do ace­lerador, aceitando sem resistência os desejos do motorista. Levá-lo a uma ve­­lo­cidade de cruzeiro compatível com a ro­­dovia foi fácil e sustentá-lo não exigiu mais que um simples acionamento do botão do piloto automático. O caminhão se mantém aos 90 km/h a 1.400 rpm, ou seja, praticamente no começo da faixa verde de torque. Um traço importante, pois não sacrificou o equipamento, promovendo uma relação direta entre a economia e a du­rabilidade do veículo. 

A configuração da com­po­sição revelou mais uma carac­te­rística bem acertada e não deixou dú­vidas a res­pei­to das vantagens que traz uma carreta auxiliada por sus­pensão pneumática. Po­de-se dizer que o cavalo mecânico con­­versava com o im­plemento, sem pro­vo­car tantos trancos na ca­bine a ca­da irregularidade do piso. 

A etapa, concluída com uma viagem en­­tre Cubatão, SP, e Peruíbe, SP, somou 159 km. Nela, o Axor “bebeu” 66,35 l de die­sel, perfazendo um consumo de 2,39 km/l. Uma média que certamente ten­de a me­lhorar numa parceria mais afinada e re­­gular entre motorista e caminhão. 

O último trecho do teste reservava o pior dos mundos: a inclinada subida da Rodovia dos Imigrantes, um divisor de águas entre os veículos de carga, já que se espera força capaz de manter um ritmo rentável e minimizar as trocas de marcha. O Axor não decepcionou, embora não se possa esquecer que trafegava com 16.620 kg a menos do que poderia. As condições determinaram o uso da 4ª mar­cha simples para não sobrecarregar os gi­ros. Assim, o modelo trafegou a uma ve­locidade de 40 km/h com o ponteiro do con­ta-giros a 1.400 rpm. Bem razoável pa­ra o grau de inclinação da pista que, em alguns momentos, chega a ser de 8%. O percurso acumulou 50 km e o veí­cu­lo gastou 41,83 l, resultando em 1,19 km/h. À primeira vista, pode parecer exa­gerado, mas contabilizando o circuito to­do, o modelo pesado da Mercedes-Benz fez uma média de 2,13 km/l, pois nos 262 km que rodou, utilizou 122,76 km/l. Não é um resultado espantoso, mas, sem dú­vida, está entre os índices que apre­sen­tam rentabilidade ao negócio. 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).