Completando 60 anos no mercado brasileiro, a Mercedes-Benz possui uma longa trajetória na Alemanha, berço da empresa. Conheça a história de uma das maiores fabricantes automotivas do mundo, que teve seu nome inspirado em uma pequena menina:
A conjuntura mundial dos anos 1800 foi o marco de uma transição formidável na história da humanidade. Uma época em que a aristocracia abandonava seus usos e costumes para enfrentar os desafios da modernidade. As locomotivas a vapor marcaram época, mas os primeiros motores automotivos fizeram uma revolução industrial à parte e trouxeram os veículos.
As “máquinas de ferro” tracionavam de cinco a oito vagões, com 10 toneladas de cargas, em média, 70 passageiros, a uma velocidade de 8 km/hora. Porém, lá na ponta, sobrava para os veículos, puxados por tração animal, fazerem a distribuição. Faltava a “carruagem sem cavalos”, que surgiu em 1886, pelas mãos de Gottlieb Daimler e Karl Benz, os geniais inventores de motores e dos primeiros veículos motorizados do mundo, evento que mudaria a história dos transportes definitivamente.
O pioneirismo desses homens fez com que seus inventos os levassem a outras conquistas, como a construção do primeiro ônibus, do primeiro caminhão com motor a gasolina e o primeiro caminhão a diesel. Assim iniciava também a história de personagens inventivos que construiriam a Mercedes-Benz, como Gottlieb Daimler, Karl Benz, Wilhelm Mayback, os pioneiros da marca.
CAMINHOS CRUZADOS
Karl Benz nasceu em 1844, filho de um condutor de locomotivas, em Karlsruhe, Alemanha. Ficou órfão aos dois anos de idade, fez escola politécnica e cedo foi ganhar a vida. Trabalhou em uma fábrica de balanças como desenhista e construtor e depois foi para uma fábrica de máquinas. Aos 27 anos resolveu empreender.
Benz tentou vários tipos de negócios, como fundição de aço, oficina mecânica e outros, mas os motores estavam no sangue. Em1877 já havia uma patente de motor de quatro tempos e isso o desafiou a desenvolver um motor de dois tempos, que demandou dois anos.
Em 1882, sua empresa foi transformada numa sociedade anônima e ganhou novos investidores, passando a chamar-se “Gasmotoren-Fabrik Mannheim”. Ele era acionista minoritário, mas por não aceitar influências em suas construções, um ano depois ele se retirou. No ano seguinte foi fundada a “Benz&Co. Rheinische Gasmotoren-Fabrik”, com apoio de investidores. Logo ele começou a construir um veículo com o motor de quatro tempos a gasolina.
Em 1886 foi apresentado ao público o “Patent-Motorwagen”, sua quinta maior invenção. Entre 1885-1887 foram montadas três versões de triciclos: o modelo 1, que Benz doou ao Museu Alemão como presente em 1906; o modelo 2, que foi várias vezes modificado; e o modelo 3, um triciclo com rodas de raios de madeira, que ficou famoso depois que Bertha Benz resolveu testá-lo, sem avisar o marido em1888. Ela percorreu 104 km na região de Baden, acelerando o motor monocilíndrico de quatro tempos. Com isso ela conseguiu passar suas impressões e influenciar na melhoria do sistema de frenagem.
O primeiro veículo Benz de quatro rodas foi produzido em 1893, o “Benz Vitória”. No ano seguinte, o “Benz Velo”, modelo que inspirou os primeiros caminhões em 1895. Durante os anos 1900, Karl Benz montou a empresa “Benz Söhne”. Em 1910, fundou o Süddeutsche Automobil-Fabrik Gaggenau. Em 1924, a Daimler Benz inicia fusão que em 1926 formaria a Daimler-Benz.
Gottlieb Daimler, dez anos mais velho que Benz, filho de padeiro, nasceu em Schorndorf, Alemanha, fez escola de desenho e também a politécnica. No fim de 1863, começou a trabalhar como inspetor de oficina da Fábrica de Máquinas Bruderhauses, em Reutlingen, onde conheceria, em 1865, Wilhelm Maybach, outro personagem da história da Mercedes-Benz.
Em 1872, após experiências em fábricas de máquinas, Daimler transferiu-se para Otto & Langen, como gerente técnico da Fábrica de Motores Deutz, onde teve contato com o motor Otto, de quatro tempos. Dez anos depois, por divergências, saiu. Ele pensava em utilizar o princípio Otto de quatro tempos, que não permitia grandes rotações. Depois de muitos testes chegou a uma versão não refrigerada, com isolamento de calor e ignição de tubo incandescente não controlada.
No ano de 1882, ele voltou a trabalhar junto com Wilhelm Mayback, parceiro de juventude e construtor de motores. Em três anos eles patentearam um dos primeiros engenhos capazes de impulsionar um veículo com maior velocidade e desenvolveram o primeiro carburador para uso com gasolina. Continuaram os desenvolvimentos e, em 1890, Daimler e Mayback fundaram a DMG – Daimler Motoren Gesellschaft, em Cannstatt, o embrião da Mercedes-Benz. A empresa cresceu e abriu ações para o mercado.
Daimler teve idas e vindas na DMG, como quando se negou a expandir as ações da empresa, causando tensão com acionistas. O fato culminou com sua saída. Em 1895, sem novos lançamentos, a DMG chamou Mayback de volta, devido ao sucesso do motor Phönix projetado por ele. Porém, este não retornaria sem Daimler. A retomada da parceria reaqueceu a companhia. Porém, em 1900, Daimler morreu.
NO BRASIL
Em 1949, o comerciante Alfred Jurzykowski criou no Rio de Janeiro a “Distribuidores Unidos do Brasil S.A” (DUB), empresa destinada a exportar produtos brasileiros para a Europa, em troca de bens industrializados. A empresa importava peças e fazia a montagem de veículos aqui. Assim, chegavam ao país chassis de caminhões, além de automóveis. Logo, a empresa passou a atuar como representante da Daimler-Benz. A empresa chegou a montar até 10 caminhões por dia. Em 1950, foi inaugurada a linha de montagem de caminhões Mercedes-Benz, na DUB, em São Paulo. Seu crescimento deu origem à Mercedes-Benz no país.
Com o objetivo de separar a atividades da Distribuidores Unidos, em 1952, é criada a Companhia Mercedes Motores Ltda, que logo se tornaria uma S.A. Em outubro do mesmo ano, a Daimler-Benz AG passa a estudar a produção de veículos no Brasil, intenção confirmada com a visita do presidente da matriz alemã, Willian Haspel no país.
Em 1953 é constituída a Mercedes-Benz do Brasil S.A. Alfred Jurzykowski era majoritário. Em 1954 são iniciadas as obras do parque industrial de São Bernardo do Campo. Durante a inauguração, em 1956, o presidente Juscelino Kubitscheck dirigiu o L-312, “o Torpedo”, o primeiro caminhão a diesel produzido no país. No mesmo ano a Mercedes-Benz lançou o chassi do ônibus LP312. A inovação nesse segmento veio em 1959, com o início da produção do ônibus urbano O 321.
A Mercedes-Benz foi esponsável pela introdução de diversas inovações, como motores a gás, freios a disco para caminhões, freios ABS e ASR, freio-motor Top Brake e o superfreio-motor Turbo Brake, itens mundiais da marca. Hoje, a unidade brasileira é considerada como centro mundial de competência do grupo DaimlerChrysler para desenvolvimento e produção de chassis de ônibus.
A MENINA MERCEDES
Mercedes Jellinek entra para a história da empresa da montadora alemã quando seu pai, Emil Jellinek, bem- sucedido comerciante alemão, cliente da montadora desde 1897 e amante de corridas automobilísticas, foi à sede da DMG – Daimler Motoren Gesellschaft, em Cannsttat, para comprar seu primeiro carro Daimler, de 6 HP, que atingia velocidade de 24 km/h – lento para o que pretendia. Então,ele fez uma encomenda de duas unidades com especificações precisas de entre-eixos, bitolas e um motor capaz de desenvolver 40 km/h, ideal para competir nas pistas da Europa.
O resultado foi o modelo Daimler “Phönix”, com um motor horizontal de 8 HP, a primeira versão de quatro cilindros. Em contrapartida, ele ofereceu 550 mil marcos em mais um lote do modelo para serem vendidos exclusivamente por ele e mais: o modelo seria batizado de “Mercedes”. Até 1899 a DMG já teria vendido 29 automóveis através de Jellinek.
Mercedes era sua filha de 11 anos e seu nome já era usado em outras iniciativas de negócios e dando-lhe muita sorte. Jellinek se tornou conhecido como “Monsieur Mercedes”. Afora sua paixão pelo automobilismo, ele viu que as vendas dos veículos DMG eram um negócio rentável. Em 1900 pediu autorização para ser concessionário e distribuidor de veículos e motores na Europa. No ano de 1902, a Daimler registrou a marca “Mercedes”. Vinte e quatro anos depois, com a fusão das empresas de Gottlieb Daimler e Karl Benz, a marca passou a chamar-se “Mercedes-Benz”.
RETROSPECTIVA BRASIL
1950 • O caminhão L 312, o Torpedo, saía da linha de produção equipado com o motor diesel, OM 312. São lançados o chassi do ônibus LP 312 e o O 321 H, o 1º monobloco.
1960 • A montadora atinge uma produção de 2 000 ônibus. No mercado, o L-1111 – com cabine suspensa por molas e dois amortecedores de dupla ação, solução inédita. OM 352 – família ganha injeção direta de combustível.
1970 • O L-1113 entra em produção e vende 200 mil unidades. Lançamento dos ônibus monobloco O 364, urbano. L -1113 – com motor novo no segmento de médios. O 362 A – ônibus rodoviário ganha motor turbo. L- 608 – entrada da marca no segmento de leves. OM 355 – inicia produção desse motor de 5 cilindros. LS 1519 – pesado, mais resistente e com cabine-leito.
1980 • 50 mil ônibus monoblocos produzidos no país. Lançamento dos ônibus a gás natural OH 1315 e O 371. O 370 – nova família de ônibus com motor turbo. L-1929 movido a álcool aditivado. 709 – novo caminhão leve.
1990 • Introdução dos sistemas eletrônicos de frenagem e de controle de tração ABS e ASR em ônibus e caminhões. Novo chassi OF 1417, o primeiro com motor eletrônico. O-400 – nova família de chassis e plataformas de ônibus.
2000 • 0-500 – nova família de ônibus, versão articulada. Lançamentos de Accelo, Atego, Actros e Axor. Chassis urbanos O 500 RSDD 8×2 e OF 1730, 2 andares. Apresentação dos novo Actros 2546 LS 6×2, Atron 2729, Axor 3341, Axor 4144 e Actros 4844 8×4. Lançamento do OF 1724, com câmbio automatizado. Marco de 2 milhões de veículos comerciais produzidos no Brasil. O Vito entra em cena.