Os importadores e exportadores de commodities do Brasil estão com expectativas muito positivas com as novas concessões de ferrovias no Brasil, com possibilidade de aumentar o faturamento com os novos contratos pelo regime de autorização. Está previsto, pelo Ministério da Infraestrutura (Minfra) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o desenvolvimento de cinco novos projetos de linhas férreas, com investimento previsto de R$ 131,7 bilhões em investimento de mais de 9,6 mil quilômetros à rede ferroviária nacional. Até aqui, só notícia boa. A ideia desta análise não é criar um antagonismo entre o transporte ferroviário e rodoviário. É conscientiza a sociedade, principalmente os políticos, de cobrar das empresas do setor ferroviário uma maior responsabilidade com os brasileiros.

Nos novos projetos não há informação sobre transporte de pessoas, redução de ruído, poluição e segurança, legados que ficam somente com as comunidades e cidades vizinhas das ferrovias. O problema não é o transporte ferroviário, mas como é feito e executado no Brasil. Várias emissoras de televisão do Brasil e internacionais já produziram reportagens documentando o descaso com os brasileiros em favor dos exportadores e importadores de commodities do Brasil, como o minério exportado pela Vale.  

Receberam autorização, recentemente, as empresas Rumo, VLI e Petrocity. As estradas de ferro foram executadas com recursos 100% privados, conforme previsto no Marco Legal das Ferrovias, o qual possibilitou a atuação da iniciativa privada no setor, mediante permissão do Governo Federal. Não foi apresentado para os brasileiros quais serão as ações para reduzir o sofrimento das comunidades vizinhas das linhas ferroviárias.

“Esses projetos terão grande impacto social e econômico. Três deles intensifica o transporte de cargas na região Centro-Oeste; os outros dois, o escoamento de nossa produção pelo futuro porto de Ilhéus (BA), pois são empreendimentos que se conectaram com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste, a Fiol”, afirmou o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio. O desafio é conseguir um equilíbrio entre os impactos positivos para os investidores e negativo para as comunidades no percurso do trem.

É importante que ferrovias sejam como na maioria dos países, nos quais elas transportam pessoas além de cargas sem causar tantos problemas. No Brasil é oposto, elas não transportam pessoas, só commodities atendendo interesses de traders internacionais. Essa comparação deixa muito claro que o problema não é o transporte ferroviário, mas como é feito no Brasil. 

Não precisa existir um antagonismo entre ferrovia e rodovia, pois precisam ser complementares, como meios de transporte intermodal. O que se flagra no Brasil é a falta de transparência e falta de retorno para a sociedade, exceto ganhos em eficiência nas exportações, porém, com ganhos para poucos e prejuízos para muitos. No entanto, não custa lembrar que a rodovia é democrática, todos os brasileiros podem utilizá-la. Já a ferrovia, somente o concessionário pode usá-la. Além disso, as rodovias criam muitos empregos (a ferrovia também, mas poucos). Nas estradas há postos de combustíveis, restaurantes, lanchonetes, lojas de vendas de artesanato, móveis, outlets de roupas e calçados, mercados, concessionárias de veículos, borracharias, hotéis, funcionários públicos das receitas estaduais, da Polícia Rodoviária Federal, das polícias rodoviárias estaduais, transportadoras, laboratórios, indústrias de diversos segmentos, oficinas, borracharias, sindicatos, igrejas, brechós, shopping etc. E nas ferrovias? Miséria. 

Veja abaixo, diversas reportagens recentes sobre os problemas das ferrovias para os brasileiros. E, mais uma vez, é bom deixar claro, o problema não é o transporte ferroviário, mas como é feito no Brasil:

Das 20 maiores economias, 18 países dependem mais do caminhão do que o Brasil

 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).