Que a Volvo Trucks é uma empresa superantenada quando o tema é tecnologia, ninguém tem dúvidas. Ao longo dos anos ela desenvolveu soluções que até hoje fazem a diferença no trânsito mundo afora, entre elas, o cinto de segurança de três pontos e os sistemas de segurança ativa – exemplos que a tornaram referência nesse quesito.

Contudo, junto à segurança, a Volvo também contabiliza uma série de outras inovações e uma delas, atual tendência no universo automotivo, é o caminhão autônomo. Lá fora, a Volvo possui caminhões autônomos em teste em ambientes controlados. O FM na coleta de resíduos e o FMX em mineração pesada, como também em rodovia, com o FH no projeto “platooning” (comboio de caminhões conectados).

Na edição 163 da revista TRANSPORTE MUNDIAL, apresentamos o VM Autônomo com tecnologia inédita para o setor de cana-de-açúcar. Agora, vamos apresentar as nossas impressões após acompanhar o trabalho dele em uma lavoura.

O modelo VM 6×4 na versão 270 está atuando no transbordo da colheita de cana-de-açúcar da Usina Santa Teresinha, pertencente ao Grupo Usaçucar, na região de Maringá (PR).
Ele foi o escolhido para operar de forma autônoma pelos engenheiros da Volvo e do Grupo Usaçucar por causa do seu trem de força, capaz de suportar a severidade da operação.

O VM utiliza motor MWM, de 270 cv a 2.200 rpm de potência e 97 mkgf de torque a partir de 1.200 rpm até 1.600 rpm. Esse motor de 6 cilindros em linha tem sistema de injeção Common Rail. A transmissão é a Volvo I-Shift, automatizada, de 12 velocidades.

O VM Sugarcane, que já estava em testes há dois anos antes de ser apresentado à mídia especializada, inicialmente, é destinado apenas ao segmento sucroalcooleiro. E isso tem uma explicação. Trata-se de um segmento cujo período de colheita é curto e no qual há muitas perdas em razão do pisoteamento dos brotos de cana durante a colheita. Porém, graças a nova tecnologia, sua precisão é de 2,5 cm para trafegar pela lavoura, ou seja, muito mais do que se fosse operado por um motorista.

Para se ter ideia, a perda de brotos por pisoteamento é responsável por prejuízos que giram em torno de 12% da produção anual de cana-de-açúcar. O VM autônomo, sozinho, elimina 4% dessa perda. 

Os pneus de alta flutuação também ajudam a reduzir os impactos causados pelo pisoteamento. Vale entender que, na prática, a precisão do VM durante o trajeto ao lado da colheitadeira é de extrema importância para a produtividade, porque os brotos resultantes da colheita vão se transformar novamente em pés adultos de cana-de-açúcar nas próximas safras.

O replantio canavieiro é realizado a cada cinco anos, com uma média de cinco safras por plantio. E como a colheita acontece num período curto de tempo, o trabalho tem de ser feito 24 horas por dia, nos sete dias da semana. Por essas razões, o condutor não consegue ser preciso, sobretudo a noite, ficando a situação ainda mais agravada pela palha que cai sobre o solo.

Cabe salientar, no entanto, que a presença do condutor é indispensável, mesmo que o veículo esteja operando em um ambiente controlado. Tanto que a operação com o VM autônomo é feita em três turnos com a presença de um motorista em cada um desses turnos.

O VM de transbordo anda ao lado da colheitadeira que simultaneamente transfere a cana para o caminhão traçado. Mas é o motorista que entra com o veículo na lavoura e sai dela conduzindo o caminhão até o transbordo para os demais veículos que levarão a carga para a usina.

Autonomia para os negócios

Para tamanha precisão, o VM 270 6×4 é composto por duas antenas GPS de alta precisão (GNSS/RTK) e também parte do sistema VDS (Volvo Dynamic Steering) de esterçamento, dois giroscópios de alta sensibilidade e um display na cabine para que haja a interface entre o motorista e o caminhão.

A antena RTK ajuda na geolocalização e faz a correção do posicionamento do veículo em tempo real, enquanto que os giroscópios fazem a identificação detalhada da inclinação e do deslocamento do veículo. Graças ao mapa digital do canavial instalado no computador de bordo é que o caminhão trafega na linha exata.

Na prática, o VM anda em paralelo à colheitadeira, havendo entre ambos um espaço de aproximadamente 1 metro. São duas linhas de plantio separadas por 90 cm entre elas. Do lado de fora dessas duas linhas fica o traçado para os veículos percorrerem, que geralmente dão apenas 30 cm de espaço para variação no trajeto tanto da colheitadeira quanto do caminhão.

Além disso, o caminhão tem de andar a uma velocidade baixa, mas que precisa ser programada pelo motorista. A média fica entre 4 e 5 km/h e a todo o tempo os motoristas da colheitadeira e do VM estão se comunicando por rádio. A bordo, toda essa automação está em comunicação com a caixa de câmbio inteligente.

Leonardo Lima Domiciano é um dos motoristas que opera o VM na colheita. Em nenhum momento ele sentiu que seu emprego estivesse ameaçado com a chegada do VM autônomo. Ao contrário, se sentiu privilegiado ao ser treinado para entender as informações do display e programá-las.

A uma velocidade de 4,7 km/h, o caminhão em nenhum momento precisa da intervenção humana. Mesmo se o motorista o tirar fora da linha, ele retorna assim que o condutor tirar as mãos do volante, obedecendo ao que foi programado. A segurança é total, mas mesmo assim o freio motor está acionado em 100% do tempo, inclusive quando o motorista assume a direção para levar o veículo para completar a operação de transbordo. Nesse trajeto, o veículo roda a uma velocidade de até 20 km/h, em que a rotação não passa dos 1.300 giros e a I-Shift atua entre 5ª e 6 ª marcha.

Bons frutos

Segundo Bernardo Fedalto, diretor comercial da Volvo Caminhões, tendo como base o tamanho da frota da usina Santa Terezinha, que possui 400 caminhões, se todos eles fossem autônomos, a economia anual seria de cerca de R$ 50 milhões.

Apesar de o caminhão não estar à venda, o cliente que possui um VM poderá adquirir o kit para adaptar os veículos para a automação básica. Este kit estará à venda a partir da Fenatran. Além das operações de cana-de-açúcar, o Volvo VM com esse kit pode ser usado em aplicações que demandam precisão, e elas comumente estão na agricultura.