Depois da Mercedes-Benz, BYD e Scania, a Volkswagen Caminhões e Ônibus é a quarta montadora de veículos comerciais a integrar ao Programa Logística Verde Brasil (PLVB), uma iniciativa de acadêmicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do CEFET/RJ para promover a sustentabilidade na logística brasileira.
Além das montadoras, diversas empresas geradoras de cargas e transportadoras participam do programa. Além da publicação de guias, o programa promove a troca de experiência entre os profissionais de logísticas das empresas participantes.
Confira a seguir a reportagem e entrevista com um dos coordenadores do PLVB, Márcio D’Agosto, publicada na edição 177 da revista TRANSPORTE MUNDIAL:
O dominante nas relações entre donos das cargas (embarcadores) e os prestadores de serviços de transportes sempre tem sido a matemática financeira a favor do mais forte. O resultado disso é um serviço precário que tem sobrevivido porque as cargas têm conseguido chegar do ponto A ao B sem importar o dano ambiental e social causado. Porém, essa situação não tem agradado a todos e no Brasil já há iniciativas para alterar essa realidade.
A TRANSPORTE MUNDIAL, que desde 2010 tem apoiado pautas sobre a responsabilidade no transporte rodoviário de cargas e passageiros — inclusive com a criação do Prêmio Transporte Responsável —, começa nesta edição a publicação de uma série de reportagens para destacar quem são os atores dessa transformação.
Na edição deste mês, entrevistamos o coordenador técnico do Programa Logística Verde Brasil (PLVB), Márcio D’Agosto. Iniciativa de acadêmicos da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do CEFET/RJ, o PLVB nasceu em meados de 2016 para construir e compartilhar conhecimentos entre embarcadores, operadores logísticos, indústria de veículos de carga e transportadores sobre as melhores práticas para uma logística social e ambientalmente mais sustentável considerando que as demandas por transportes de mercadorias serão crescentes ano após ano.
Para orientar todos envolvidos na logística, o PLVB já lançou “Guia de Referências em Sustentabilidade”, em 2017, e, mais recentemente, o “Manual de Aplicação Boas Práticas para o Transporte de Carga”. O Manual funciona como um mapa para a aplicação das 22 boas práticas que foram apresentadas no Guia de Referência em Sustentabilidade. É um documento que facilita a utilização pois foi criado em sintonia com as atividades que as empresas membros já praticam em suas vidas corporativas e na operação logística cotidiana. No próximo ano será lançado o Guia de Excelência em Sustentabilidade. Segundo o coordenador, o objetivo maior é o lançamento do Selo Verde Transporte de Carga, previsto para 2020. Os conteúdos já lançados podem ser baixados em formato PDF no site www.plvb.org.br.
Márcio lembra que as empresas líderes devem assumir a iniciativa e dar exemplo no sentido de promover a transformação logística em busca da eficiência e da sustentabilidade. Já são mais de 22 grandes companhias que já aderiram ao PVLB, como Coca-Cola, Heineken, Natura, RegLog, Clariant, Dinon Transportes, HP, Lojas Renner, BYD, Unilever, EBMAC Transportes e Logística, Ghelere Transportes, Rodocel Transporte e Logística, Scania, Ipiranga, L’Oreal, Mercedes-Benz, Ypê, Siemens, Corpus Saneamento e Obras, Cargo Modal Transportes e, mais recentemente, Via Varejo (Casas Bahias e Ponto Frio), além do apoio de diversos sindicatos e federações de transportadores.
Confira os principais pontos da entrevista com Márcio D’Agosto:
Transporte mundial • Qual a avaliação desses dois primeiros anos?
Márcio • Nós fazemos uma avaliação muito positiva. Começamos o programa em meados de 2016 e sabíamos que tínhamos muitos desafios pela frente. O objetivo é conseguir lançar o selo verde de carga. Tínhamos um caminho a ser seguido, que começava com a publicação do guia de referência, manual de aplicação este ano, e o treinamento que as pessoas precisariam fazer para entender como de fato avaliar suas operações, avaliar as práticas que estamos propondo para melhorar o desempenho de sustentabilidade. A gente ficava sempre reavaliando o caminho. O caminho está certo, a gente está conseguindo passar a mensagem que está sendo entendida pelas empresas, pelos componentes das empresas. Acho que assim temos tido, progressivamente, as adesões. O programa triplicou nesse período. Agora já estamos com 22 empresas, pois a Via Varejo (Ponto Frio e Casas Bahia) aderiu recentemente.
TM • Há mais embarcadores, do que operadores logísticos no PLVB. Qual seria a atratividade para o operador logístico ou transportador participar de um programa desse. E qual é o custo de adesão?
Márcio • Aderir ao programa está muito associado ao valor que a empresa consegue perceber ao participar propriamente dito, e como isso vai de fato transformar a posição dela no mercado em que atua. Quando se fala de membro, de fato temos mais embarcadores de cargas. Eles têm uma preocupação específica com a questão sustentabilidade, mas também têm o compromisso de privilegiar transportadores que anseiam isso. Eu não sei se os transportadores, no mesmo ritmo, percebem que aderir ao programa de fato será um diferencial que terão em futuras contratações pelos embarcadores. Alguns transportadores já veem isso claramente. Lá no PVLB tem uma quantidade de transportadores que prestam serviços para a indústria química, que já tem uma tradição de normas e regras, como SASSMAQ (Sistema de Avaliação de Segurança, Saúde, Meio Ambiente e Qualidade), por exemplo, que não é uma lei, mas é uma exigência dos embarcadores. As transportadoras consultam muito sobre a adesão ao programa. Aliás, temos muito mais consulta de transportadoras do que de embarcadores. Mas a efetivação ainda é maior de embarcadores. Tem a questão de qual valor que ela vê em participar do programa e como isso vai reverter em benefício no futuro.
TM • Os embarcadores no PLVB não provocam um efeito cascata? Por exemplo, a Natura exige boas práticas ambientais e sociais dos fornecedores de serviços de transporte. Assim, se consegue influenciar a transformação do transportador a partir das exigências dos clientes?
Márcio • Não temos uma pesquisa sobre isso, mas reconhecemos que, de fato, o embarcador tem uma influência sobre o transportador. Tem uma outra questão: não adianta exigir sem dar condições. Isso vai da postura do embarcador perante seus transportadores. A gente consegue melhor adesão das transportadoras quando de fato transportadoras e embarcadores são realmente parceiros. Podemos exigir mais, mas temos que dar melhores condições de operações, pagar o frete suficiente para um serviço de melhor qualidade e sustentável.
TM • Na Fabet (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte) há embarcadores que custeiam os treinamentos de motoristas e gestores de frotas, outros que dividem o custo e outros que exigem o treinamento, mas a conta fica só para o transportador. No caso dos membros do PLVB, qual o caminho mais curto para conseguir os resultados de sustentabilidade?
Márcio • O transportador tem papel decisivo no processo, pois a operação está nas mãos do operador logístico e do transportador. Eu vejo uma vontade grande do transportador em atender todos os requisitos do embarcador. Mas é preciso ter clareza nas informações. Por exemplo, exigir treinamento dos motoristas. Mas que treinamento? É neste sentido que o programa pretende ajudar. Se estou buscando sustentabilidade, a gente pode estabelecer um programa de treinamento que chegue nos resultados que atende todos que estão no PLVB, pois se o embarcador “A” pede uma coisa, embarcador “B” pede outra, fica difícil atender todo mundo. Então é importante a gente começar a falar uma linguagem comum a todos, e o programa busca isso.
TM • E qual é o caminho para um transportador participar do programa?
Márcio • A gente tem sempre recomendado, em primeiro lugar, consultar o nosso site. Lá há um material que é disponível gratuitamente, com download liberado. Há todas as informações geradas nesses dois anos de trabalho do programa, um conteúdo grande, que explica bem o que a gente está fazendo. Então, o primeiro ponto é conhecer o que já existe lá disponível. O segundo ponto é entrar em contato com a coordenação técnica, para que a gente oriente se ele de fato tem interesse de aderir ao programa de adesão. Também é comum os transportadores entrarem em contato com os embarcadores que fazem parte do PLVB e têm total condições de explicar o programa.
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