A indústria brasileira de pneus está preocupada com a importação de produtos da China e Ásia. Por esse motivo solicita ao Governo Federal medidas para a contenção da entrada de produtos no mercado brasileiro.
Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneus (ANIP), o surto de importação está afetando também produtores de borracha, de têxteis, de produtos químicos e de aço.
Klaus Curt Müller, presidente da ANIP, diz que a concorrência é desleal, ameaça empregos e coloca em risco investimentos futuros. Além disso está provocando desorganização da cadeia produtiva. “Esses insumos são usados largamente na produção de pneus”, diz. Hoje o Brasil tem 11 fabricantes de pneus em operação e 21 fábricas.
De acordo com dados apurados pela ANIP, com base em informações de importação da Receita Federal, 50% dos pneus vindos da Ásia entram no País com preços inferiores aos das matérias-primas usadas nos produtos.
Importações abaixo do custo de produção
Além disso, 100% das importações estão abaixo do custo de produção industrial. Por esses motivos, a ANIP informou que está buscando medidas emergenciais junto ao Governo Federal para conter a importação de pneus.
“Esse avanço se deu por conta dos preços desleais. Enquanto grandes mercados como EUA, Europa e México ergueram barreiras para proteger suas indústrias, o Brasil virou ponto de desova do produto vindo especialmente de países asiáticos”, ressalta Curt.
Ameaça aos empregos
Conforme diz a Associação, os efeitos da importação já começam a ameaçar empregos. Dos 32 mil trabalhadores diretos da indústria, 2.500 já se encontram em suspensão, com redução de jornada ou lay-off.
Curt acrescenta que o Brasil levou muito tempo para construir uma cadeia industrial de pneus, o que é estratégico para um país de dimensão continental que utiliza intensamente o modal rodoviário. “Agora, todo este esforço está sob ameaça”, alerta.
Ainda de acordo com o presidente da ANIP, se não for tomadas medidas emergenciais para garantir uma concorrência saudável, o País corre o risco de ver a desindustrialização do setor de pneus.
Investimentos sob análise
“Os novos ciclos de investimentos estão sob análise neste momento. Essa situação afetou a atratividade do País para investimentos. Com isso, perdemos investimentos para outros países”, acrescenta.
Curt enfatiza que a Associação não é contra as importações, pois pretende apenas garantir condições isonômicas de competição, bem como a correção da concorrência desleal instalada no comércio internacional de pneus com o Brasil.
Levantamento da associação aponta que entre 2017 e 2023 as vendas de pneus de carga e de passeio da indústria brasileira recuaram 18%. Por outro lado, as importações cresceram 117%.
Em outra comparação feita pela ANIP, entre os primeiros cinco meses de 2017 e de 2024, o mercado brasileiro de pneus caiu 19% e as importações cresceram 229%.
Indústria brasileira de pneus
A indústria brasileira de Pneus e de câmara de ar reúne 11 fabricantes e 21 plantas industriais, instaladas em 7 Estados. Nos últimos 10 anos, essas empresas investiram cerca de 11 bilhões de reais em suas fábricas.
O aporte contemplou novos processos, aumento de capacidade produtiva, tecnologia, inovação e sustentabilidade. Ano passado, a indústria de pneus produziu no Brasil 52 milhões de unidades.
Danos ambientais
Sobre recolhimento de pneus para reciclagem, dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) mostram que os fabricantes nacionais têm um saldo acumulado de 127 mil toneladas de pneus.
Por outro lado, a ANIP destaca os possíveis danos ambientais causados pela importação no modo atual, pois os importadores têm um passivo ambiental de 419 mil toneladas de pneus não recolhidos. “Esse dado é preocupante para o País”, conclui Curt.
A questão da importação de pneus chineses é tema antigo de discussão dentro da ANIP. No primeiro trimestre de 2014, por exemplo, a entidade já relatava aumento de 72,8% em relação ao igual período do ano anterior.