Cada montadora de caminhões está fazendo o que pode para sobreviver em um mercado de caminhões 70% menor e com 80% de ociosidade. O que não pode é ficar parada esperando a crise passar. Uma das estratégias é lançar novos produtos para alcançar os poucos compradores previstos para este ano, que tem cerca de 60 mil unidades a serem vendidas por todas as marcas juntas. Assim, depois da Ford, agora foi a vez de a Iveco lançar a sua linha de produtos 2017 com novidades para as famílias Daily, Tector, Stralis e Hi-Way.
A marca, do Grupo CNH Industrial, está no Brasil há 19 anos e está aproveitando a crise para arrumar a casa, a rede de concessionárias e o reposicionamento de marketing e lançar um novo slogan, “Iveco – Carregada de potência”, comentou o vice-presidente comercial e de marketing, Marco Borba. Além disso, a empresa lançou planos de revisão com preços fixos garantidos até 31 de dezembro deste ano, acrescenta o diretor de marketing, Ricardo Barion.
DAILY
O mercado de caminhões leves entre 3,5 t e 6 t de PBT (peso bruto total) é de cerca de 16 mil unidades. Para aumentar a fatia nesse bolo, a Iveco conta com o novo Daily 40S14, com motor FTP FIC WG de 3 litros, 146 cv e 350 Nm (35,7 mkgf) de torque. O câmbio é ZF S6 420 de seis velocidades.
O Daily 40S14 será vendido pelo mesmo preço do 35S14 e a vantagem está na sua maior capacidade de carga, de 4 200 kg de PBT legal e 1 860 kg de carga útil ou 700 kg a mais que o irmão menor. O 35S14 continuará no catálogo para atender a regiões que tem restrição de acesso de caminhões com mais de 3 500 kg. Vale ressaltar que o Daily 35S14 já tinha PBT técnico de 4 200 kg. Portanto, o que difere a 35S14 da 40S14 é a homologação de peso para a Lei da Balança, por isso, a Iveco os está vendendo pelo mesmo preço.
Para ficar clara a diferença entre PBT técnico e legal, o primeiro é a capacidade máxima de peso que a montadora testou e autoriza colocar sobre o caminhão independentemente do que permite a Lei da Balança. Isso significa que esse peso máximo só pode ser utilizado em estradas de terra, pois, para rodar sobre o asfalto, deve obedecer à Lei da Balança, ou seja, ao PBT legal.
Com a chegada do Daily 40S14, o modelo 40S17 (com motor de 170 cv) sai de linha, pois esse motor tornava essa versão mais cara e menos competitiva no mercado. As versões que têm a letra “S” no meio do nome são com rodado simples e têm a vantagem de pagar pedágio como automóvel, geralmente metade do valor do pedágio do caminhão 4×2. Já os Daily com o “C” no nome são com rodado duplo.
A tecnologia para emissões de poluentes para atender à legislação Proconve P7 (Euro V) nos motores do Daily é a EGR (de recirculação dos gases de escape), que dispensa o uso do Arla 32. Com exceção da MAN, que adotou a tecnologia EGR em modelos médios e semipesados, todas as demais montadoras optaram pela EGR, para motores a diesel de rotações mais elevadas, geralmente comerciais leves como furgões, picapes e cabine chassi, e pela SCR (sistema de redução catalítica), com uso de Arla, para caminhões de maior porte. A gama Daily continua com as opções do 55C17 (5 500 kg de PBT) e o 70C17 (7 t de PBT). Vale lembrar que o Daily é a única opção com cabine dupla do segmento de caminhões semileves e leves.
TECTOR
O segmento de caminões semipesados (a partir de 15 toneladas de PBT até 45 t de capacidade máxima de tração) representa 28% do total do mercado de caminhões, sendo 80% on-road (4×2, 6×2 e 8×2) e 20% off-road (4×4, 6×4 e 8×4).
Uma das novidades da Iveco para esse segmento é o Tector 170E21, com ganho de 150 kg na sua capacidade de carga graças à redução de peso do veículo, que traz nova suspensão de cabine com coxim/mola, no lugar de coxim/coxim. Outro aperfeiçoamento foi feito na caixa de marchas, que teve varão substituído por cabo, com o objetivo de fazer as trocas de marchas mais levemente.
Assim, na aplicação 4×2, que tem 80% no uso urbano, a Iveco se posiciona com o Tector 170E21, 170E22 e 170E28. O que diferencia o novo 170E21 dos outros é o motor de 4 cilindros de 206 cv, mas de elevado torque (700 Nm ou 73,4 mkgf). Para se ter uma ideia, o torque do 170E22 é de 680 Nm ou 69,3 mkgf, apesar de o motor ser de 6 cilindros e 218 cv de potência. Isso é o que a indústria automobilística chama de downsizing (diminuir dimensões), ou seja, fazer motores menores com a eficiência de motores maiores, ganhando em consumo e menor emissão de poluentes.
Na categoria de trucados (6×2), que representa uma fatia de 54% das vendas de caminhões semipesados, a Iveco lança o Tector 240E30, com novo motor de FTP NEF 6 ID de 6 cilindros, 6,7 litros, 300 cv de potência e 1.050 Nm (107 mkgf) de torque. Esse motor substitui o de 5,9 litros. O novo modelo foca transportadores que utilizam o semipesado mais no transporte rodoviário de maiores distâncias do que no uso urbano ou intermunicipal. O novo Tector 240E30 se junta aos modelos 240E22 e 240E28. O 240E30 é equipado com câmbio ZF 9S 1110TD, entre-eixos de 5 670 mm e cabine leito teto baixo. O 240E28 tem transmissão Eaton FS 6406B, entre-eixos de 5 175 mm e cabine curta. Já o 240E22 tem caixa de marchas Eaton FS 5406A e entre-eixos de 4 815 mm, também com cabine curta.
A Iveco, assim como a Agrale, são as únicas fabricantes que ainda não oferecem a opção de câmbio automatizado para o segmento de semipesados, uma exigência que vem crescendo no mercado. A Ford acelerou o lançamento da sua linha de semipesados Torqshift com câmbio automatizado da Eaton porque percebeu que estava perdendo vendas para a sua principal concorrente, a MAN, que já oferece 14 opções de modelos com essa tecnologia. Ricardo Barion reconhece que estão atrasados nesse ponto, mas afirma que os modelos com transmissão automatizada já estão em teste e que o lançamento será em breve. Nos caminhões pesados, o uso de caminhão automatizado de série está próximo de 100% das unidades, sendo o manual o opcional.
O mesmo motor FPT NEF 6 ID de 300 cv também passa a estar disponível para o modelo 6×4 Tector 260E30, caracterísitca de aplicação que representa 20% das vendas e é mais utilizada na construção civil. Com exceção do Daily, todos os motores das famílias Tector e Stralies utilizam a tecnologia SCR (sistema de redução catalítica), que demanda o uso do Arla 32.
Outra novidade é o 8×2, uma tendência que tem ganhado a preferência e cresce bastante no Brasil por sua maior capacidade de carga: entre 5 mil e 6 mil a mais de carga no PBT, chegando ao total de PTB técnico de 31 toneladas (no uso fora de estrada) e 29 toneladas pela Lei da Balança. Para se ter uma ideia, para cada cinco viagens feitas por um 6×2, seriam necessários quatro do 8×2. Não é a-toa que 20% dos transportadores que iriam comprar um 6×2 optaram pelo 8×2. Basta observar a maior presença deles nas nossas rodovias.
Para esse segmento, são dois novos modelos da Iveco que chegam: Tector 310E28 (com motor de 280 cv) e 310E30 (com motor de 300 cv). Assim como em todos os modelos 8×2, o eixo extra é o segundo direcional com suspensor pneumático para evitar o gasto de pneus e combustível quando o caminhão está vazio.
A Iveco também está reforçando a sua oferta de produtos vocacionais, com o Tector Coleta, tendo como base o modelo 170E28, e o Tector Construção, baseado no 260E20. O Tector Coleta, como o nome indica, sai de fábrica preparado para a aplicação na coleta de resíduos sólidos. Ele tem cano de descarga vertical e vários reforços, como chicote elétrico para cargas adicionais, suspensão traseira com eixo reforçado e molas curtas reposicionadas e disco de embreagem com 395 mm. O Coleta também conta com opção de terceiro eixo.
Já a versão Tector Construção sai preparada para betoneira na configuração 8×4, com escape vertical, tomada de força, chicote elétrico específico para a aplicação e espelhos extras para o auxílio em manobras. Há também o Tector Construção preparado para caçamba basculante, com tomada de força com acionamento no painel, iluminação na traseira com sinal sonoro de ré, suspensão recalibrada para o tipo de operação e protetor de cárter. Em termos de cabine, a Iveco oferece duas opções para a família Tector, sendo a mais simples a Attack Premium, podendo ser teto alto ou baixo e leito, dependendo da versão.
Com relação à segurança, todos os caminhões possuem freios ABS, pois isso é obrigatório por lei. Como ponto bastante positivo, a Iveco oferece o EVSC (Sistema de Controle Eletrônico de Estabilidade), um item ainda pouco ofertado no segmento de semipesados, mas importantíssimo para evitar tombamento em curvas ou manobras de emergência.
STRALIS E HI-WAY
Na família de pesados, os aperfeiçoamentos foram feitos nos modelos Stralis 440 e Hi-Way 440 e 480. A linha Hi-Way é a gama premium do Stralis, com mais equipamentos e acabamento superior, como volante com teclas multifunção, ar-condicionado digital, acabamento superior, entre outros.
Em um trabalho feito em conjunto com a FPT Industrial (também do grupo CNH Industrial), os motores Cursor 13 desses caminhões passaram por modificações técnicas para ganho de torque e, consequentemente, melhoria do desempenho e redução do consumo de diesel, um dos pontos fracos do modelo e agora corrigido.
Os motores receberam nova turbina, novo coletor de escape, novo volante do motor e aumento da eficiência do sistema de arrefecimento, além de nova calibração geral do motor e caixa. O torque do 440 cv aumentou de 2 100 Nm (214,1 mkgf) para 2 250 Nm (229,4 mkgf). Já no motor de 480 cv, o torque subiu de 2 250 Nm (229,4 mkgf) para 2 400 Nm (244,7 mkgf). Ainda há a opção do Hi-Way de 560 cv, que teve o torque mantido em 2 500 Nm (254,9 mkgf). Os modelos Stralis com motor Cursor 9 de 360 cv (torque de 1 500 Nm ou 152,9 mkgf) e com Cursor 13 de 400 cv (torque de 1 900 Nm ou 193,7 mkgf) continuam em produção. Todos os modelos são equipados com a transmissão ZF AS Tronic de 16 velocidades.
Vale destacar que o Hi-Way 560, por ser a versão topo de linha da Iveco, vem de fábrica com cabine leito teto alto como item de série. Para as demais há as opções de teto baixo e teto alto, sempre leito. A cabine teto alto não é a mais alta do mercado, mas oferece excelente espaço interno. Uma pessoa com 1,90 m de altura consegue ficar em pé sem encostar a cabeça no teto. A cama tem 2 m de comprimento e 80 cm de largura. Opcionalmente, a cabine pode ser equipada com uma segunda cama tipo beliche superior com dois amortecedores para facilitar o seu manuseio. Outro item que faz do Hi-Way modelo premium é o climatizador de teto, que pode ser acionado por controle remoto e trabalha com o motor desligado.
As potências dos motores 440 e 480, apesar de continuarem as mesmas, tiveram as suas curvas aperfeiçoadas. Agora a entrega é de mais potência em rotação mais baixa, o que se traduz em melhor performace e menor consumo. Na linha Hi-Way, o trem de força recebeu nova função com foco na economia de combustível. Trata-se da função modo econômico, acionada pela tecla ECO no painel. A linha é oferecida nas configurações 4×2, 6×2 e 6×4.
Outra mudança foi a troca dos eixos trativos dos Stralis e Hi-Way 4×2 e 6×2 para o MS 18X da Meritor. Eles contam com coroa e pinhão forjados, além da utilização de solda a laser para a fixação das peças internas, o que aumenta a resistência. Esse eixo conta com diferencial de simples redução com relação de redução de 3,40:1 e opcional de 3,67. A versão 6×4 continua com o eixo Meritor 50-168, também com redução simples e relação de 3,73:1 e opcional de 3,67:1. Para todas as versões, o eixo dianteiro é de aço forjado Iveco 5876, com molas parabólicas.
Vale chamar a atenção para o sistema de freios do Stralis. De série, ele sai de fábrica com o sistema CEB (sistema combinado de freios), que é uma combinação entre o freio por descompressão e o freio motor convencional, que garante 315 cv de potência de frenagem no motor Cursor 9 e 415 cv no motor Cursor 13.
Para as versões com motor Cursor 13, há o opcional Intarder que eleva a potência de frenagem para 978 cv. É um equipoamento bastante recomendável para quem tem muitas serras na rota. Além do óbvio aumento da segurança, o Intarder permite melhores médias de velocidade em descida de serra e ajuda a poupar o freio convencional. Aliás, um motorista bem treinado para usar sistemas de freios auxiliares e que sabe programar as frenagens, só utilizará o pedal do freio convencional em caso de emergência ou quando está em baixíssima velocidade.
A versão Hi-Way 560 tem um sistema de freio superior em razão da maior potência, com a combinação do Iveco Turbo Brake com o freio motor VGT. Esse sistema funciona por meio do fechamento das aletas da turbina. Os Hi-Way 6×2 e 6×4 contam com tanque duplo de alumínio com capacidade total de 900 litros (600 + 300) de diesel.