José Antonio Zanetti, Josué Trentini e Nelson Kluck. O que essas pessoas têm em comum? Caminhões com mais de 1 milhão de quilômetros rodados sem abrir o motor. Como conseguiram esse feito? Os três concordam: cuidados com a lubrificação e direção defensiva. Sob outra ótica, ganham indiretamente com isso as montadoras.
O caso mais emblemático é o de Zanetti, 58 anos, ex-caminhoneiro, atual sócio-gerente da Zanetti Materiais de Construção, que tem conjugada uma transportadora com 28 caminhões, em Rio Grande, RS. Ele tem na frota dois exemplares, um MB 1938, de 1999, com 2.050.000 de quilômetros rodados e um, de 1998, com 2.020.000 milhões de km rodados, ambos com os motores intactos.
Zanetti conta que antes rodava de 15 mil a 20 mil km por mês com esses caminhões acoplados a carretas basculantes, mas que agora, com o refluxo da economia, eles passaram a operar em média 12 mil km por mês, somente na região Sul. “Carregamos brita, areia, adubo e outros produtos e vamos no máximo até o Paraná. Só viajamos por estradas pavimentadas, com motoristas experientes, alguns com até 30 anos de casa, e na nossa manutenção redobramos os cuidados”, comenta satisfeito.
Segundo ele, um dos segredos é manter um controle apurado das trocas de óleo a cada 45.000 quilômetros rodados, e fazer continuamente a análise do óleo remanescente, na própria fabricante. Ele usa sempre o mesmo óleo: o Mobil 1400.
Como tem oficina própria, a cada 5 mil km o caminhão é parado também para calibrar pneus, lubrificar e passar por verificação completa, incluindo filtros e demais itens de maior desgaste. “Cada caminhão tem o seu histórico detalhado, contendo todos os serviços realizados. Essa planilha é como um laudo, continuamente atualizado, da saúde do caminhão”, detalha.
Até o momento, ambos os veículos só tiveram intervenções mais profundas na caixa de câmbio e diferencial. Mas ele reconhece que o ideal é renovar a frota pelo menos a cada seis anos. Até porque, a manutenção vai se tornando mais cara com o tempo. “Uma retifica de motor custa hoje entre R$ 20 mil a R$ 30 mil. Com os cuidados que temos, acredito que economizamos 40% nos custos de manutenção”, explica Zanetti.
Outro exemplo de longevidade vem da Nimec Logística e Transporte, de Lajeado, RS. Opera na frota de 13 cavalos e 18 implementos um Iveco Stralis 450-S-38T, de 2005, com 1.300.000 milhão de km rodados, sem abrir o motor. Josué Trentini, gerente de manutenção da empresa, acredita que a boa lubrificação é a principal responsável por isso. Mas não é tudo. “Não transportamos carga em excesso, os motoristas têm treinamento, sabem diagnosticar problemas e passam para a oficina os dados com precisão”, afirma. Como a empresa está engajada na luta contra a redução de impactos ambientais, os caminhões são cuidados na concessionária.
Após a jornada de trabalho, o técnico verifica individualmente cada caminhão e ouve o que os motoristas têm a dizer. “Essa é uma parceria perfeita, por isso, para nós é importante o relacionamento cordial com nossos profissionais”, defende Trentini. Como a grande parte dos serviços da transportadora é de carga fracionada, o caminhão opera em médias e longas distâncias pela BR-101, com 2 carretas sider e 16 baús. O caminhão é motivo de orgulho para os motoristas. “Por isso ele é bem cuidado por dentro e por fora e roda em média entre 12.500 km a 15 mil km por mês, somando de 5 a 6 viagens de Lajeado a São Paulo. Ele é como uma paixão para todos nós”, completa.
O caso de amor de Nelson Kluck, 62 anos, 38 dos quais na estrada, por seu Ford Cargo 2422 trucado não é diferente. A própria família e os executivos da Expresso Taubaté, de quem é agregado há oito anos, conhecem a história. Tanto que o veículo tem o apelido carinhoso de “Meu xodó”. Afinal, não é só o motor que é original. “A lona de freio dianteira, a embreagem, as mangueiras, a turbina e a bomba injetora são originais”, detalha o caminhoneiro. A única coisa feita nesse período foi a troca da lona de tração. De resto, ele mantém a manutenção conforme recomendada pelo manual de fábrica, desde o primeiro dia. Hoje, o Cargo soma 1.100.000 milhão de km rodados sem nenhuma retifica no motor.
O curitibano que reside em Taubaté, SP, adquiriu o caminhão em 2005, quando começou a prestar serviços para a Expresso Taubaté, ajudando no abastecimento de peças automotivas para Ford, Volkswagen e Peugeot. “Faço em média 5 mil km por semana, quando há mais movimento, e cerca de 1.500 km quando está mais fraco. Em geral são duas viagens entre Taubaté e São Paulo por dia ou uma para Curitiba ou Rio de Janeiro. Vez ou outra faço outros trechos”, explica Kluck.
No primeiro ano de operação, ele puxava em torno de 15 t de ferragens entre São Paulo e Nova Friburgo, RJ, fazendo 1.140 km diariamente. Depois passou a transportar mais volume do que peso. Diferentemente dos outros exemplos, o dono do Cargo atribui a proeza ao fato de ser bom motorista e, consequentemente, de seguir os ditames da fabricante e da legislação. Para ele, um bom motorista não usa o caminhão para descarregar seus problemas pessoais. “Isso todo mundo tem, mas é preciso separar as coisas e respeitar as leis de trânsito, fazendo tudo com rigor. O resultado é ter um veículo que suporta a dureza das estradas sem problemas e custos. E eu estou sempre sorrindo”, emenda Kluck.
O caminhoneiro confirma que seu objetivo é atingir 1,5 milhão de quilômetros sem mexer no motor. Depois disso, com pesar, chegará a hora de trocar o “Meu xodó” por outro Cargo novo, porque a bomba injetora já está dando sinais de desgaste.