Uma licença para falar de comunicação em tempo de pandemia, uma reflexão sobre transporte de ideias e palavras.

Coronavírus
Crédito: Pixabay

Saber comunicar pode ser dom, competência ou qualquer definição que queira dar. Então, vamos nos focar aos resultados dela.

Sabemos que a boa comunicação com honestidade gera bons resultados a curto e longo prazo. A boa comunicação sem honestidade pode até gerar bons resultados no curto prazo, mas poderá ser um desastre no médio e longo tempo. Já a má comunicação não gera resultado nenhum, independentemente do seu conteúdo.

As falhas de comunicação de vários governantes brasileiros, há exceções, têm feito a população não entender as oportunidades que existem na quarentena. A politização e polarização têm predominado. Escutamos dos políticos, de qualquer ideologia, duas preocupações: saturação do sistema de saúde, pois está frágil há anos, e o desemprego que poderá ter um custo eleitoral em 2022 e, ambos personagens, em lados opostos.

Exemplo de onde comunicação e seriedade fluem

A quarentena é muito mais do que isso, porém, faltam políticos, como a Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, que tem comunicação direta, objetivo e com boas intenções e administra um país  que, além de ter um sistema de saúde estruturado, governo e oposição trabalham para um objetivo comum, a saúde de seus cidadãos. Até às 6h55 do dia 22 de abril, a Alemanha contabilizava 148.453 contaminados e 104.486 casos fechados, sendo 99.400 pessoas recuperadas (95%) e 5.086 mortas (5%).

pesquisa e desenvolvimento
Baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil cria dependência de outros países

Os dados da Alemanha, segundo o maior site de dados do mundo sobre populações, o Worldometer, mostram que o país testa seus cidadãos desde o início da pandemia e hoje a média de teste é de 20.629 por 1 milhão de habitantes. O país alemão tem um índice de morte de 59 mortes por um milhão de habitantes. Para se ter ideia, Espanha registra 455; Itália, 408; e países com grandes populações, como os Estados Unidos (há maior diluição do número), são 132; e Brasil, são “apenas” 12, mas a ocorrência por outras doenças, como insuficiência respiratória, pneumonia, cardíacas, entre outras, quintuplicaram. Um país que, até o momento, testam 1.373 habitantes por 1 milhão (até uma semana atrás era 296), ainda não tem dados para serem analisados, portanto, só chutes e adivinhações, e resultado da nossa baixa capacidade de testar.

Investimentos em P&D

Isto é resultado do baixo investimento do Brasil em pesquisas. Segundo dados da última pesquisa de Indicadores Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação, de 2018, o Brasil investiu 1,26% do PIB em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em 2017. O valor fica bem abaixo de países que lideram a corrida tecnológica – como Coreia do Sul (4,55%), Japão (3,21%), Alemanha (3%), Estados Unidos (2,79%) e China (2,15%).

Segundo a Associação de Hospitais da Alemanha (DKG na sigla alemã), o país já tinha o maior número de leitos per capita do mundo. Em fevereiro, tinha 28 mil leitos de UTI e hoje tem mais de 40 mil com ventiladores, estando 10 mil ainda vazios. E, ao contrário do título de uma matéria veiculada pelo jornal “Estado de S. Paulo” no dia 19 de abril — “Na Alemanha, sobram leitos e faltam pacientes” —, a chanceler Ângela Merkel disse que não.  “Já temos vítimas demais, só estamos preparados para atender nossos cidadãos, porque sabemos que a pandemia ainda não está controlada. Na melhor todas as hipóteses, se uma melhor solução não aparecer antes, é que todos os leitos estarão ocupados em outubro”.

Hora de ter estratégia de comunicação

A quarentena não será possível por muitos meses, mas é um tempo estratégico. Assim, quanto antes a população entender qual a importância do aprendizado e das mudanças de comportamento para vencer esta guerra, mais curto o período poderá ser e será mais seguro será o retorno às atividades profissionais.

Este período é importante para reduzir o índice de contaminados e, consequentemente, de doentes, saturação do sistema de saúde e mortalidade. Assim, trabalhadores como os caminhoneiros, médicos, enfermeiros e muitos outros podem trabalhar com mais segurança. Neste ponto, pela falha de comunicação e, consequentemente a capacidade de conscientizar a população, corremos o risco de perder a guerra contra o novo coronavírus. Se não você individualmente, alguém próximo a você já deve ter perdido esta guerra ou perderá nos próximos dias.

A quarentena está sendo um período de reflexão, aquisição de conhecimento, tempo para cientistas darem dicas de como nos comportar, até de aprender a lavar as mãos, um hábito que não era generalizado. É o tempo de aprender a usar uma máscara, de saber o que é prioridade, de desenvolver a solidariedade. Tempo é o que mais precisamos agora antes de continuarmos uma vida desregrada.

Tire o melhor proveito da quarentena

Quem sabe escolher suas fontes de informação está aprendendo qual a importância e como melhorar a imunidade e o conhecimento. É um período de muita tristeza pelas perdas, mas também de muito aprendizado. Vamos mudar com este aprendizado?

A história mostra que pandemias existem há séculos, graves como atual se repete a cada 100 anos. Por que ignoramos o que quiseram nos ensinar entre 1918 e 1919? Recomendo muito a leitura da crônica do escritor Nelson Rodrigues sobre a Gripe Espanhola de 1918 e o Carnaval de 1919 publicada originalmente no jornal “Correio da Manhã” em 1967. É possível encontrá-la nos buscadores da internet.

O que mais me entristece nesta pandemia é ver que a maioria das pessoas, principalmente aquelas com poder de decisões nas políticas públicas, não terem aprendido com o passado. Os alertas de uma possível pandemia vêm sendo dados por diversos cientistas. Até empresários mais humanitários entre outras pessoas espiritualistas já falavam da possibilidade dela há alguns anos.  

Agora é torcer para a sorte estar do nosso lado, que os empresários do bem não desistam, que os amigos estejam próximos e, que alguns políticos, tenham luz para melhorar a condução do futuro desta Nação. Se o sistema de saúde que já estava em quase colapso e já está em situação crítica em diversas cidades, teremos a companhia do sistema jurídico que já não ia muito bem e pode ser sobrecarregado de ações judiciais. Ele entrará em colapso se as pessoas forem brigar por qualquer coisa. Fé e esperança continuam valendo!

Leia mais:

Razões para valorizar a profissão de motorista. 

Empresas que estão com vagas.

 

Compartilhar
Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).