Lubrificantes

59

Acompanhar as exigências de qualidade e uma legislação ambiental cada vez mais rigorosa tem sido tarefa constante para a indústria de óleo lubrificante automotivo que, por causa disso, vem passando por muitas mudanças. “O mercado de lubrificantes vem crescendo e está acompanhado de muitos desafiospara o fertar produtos com níveis crescentes de desempenho”, cometa Cesar Guimarães, diretor de mercado do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas

Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes). Um dos últimos e mais importantes avanços foi desenvolver produtos compatíveis com os novos motores Euro 5, que passaram a equipar caminhões e ônibus desde janeiro de 2012. Assim como as fabricantes de caminhões e demais fornecedores, o setor de lubrificantes precisou percorrer um longo caminho e enfrentar uma logística de guerra para adequar o mercado a essa nova realidade. A tarefa dessas empresas era pensar em um produto que auxiliasse na redução de emissão de CO2 e, ao mesmo tempo, garantisse o bom desempenho e o aumento da vida útil dos motores. 

Com o salto do padrão Euro 3 para 5 foi necessário uma evolução para atender à nova exigência do mercado em relação à redução de emissões nocivas ao meio ambiente, além da economia de combustíveis, redução de paradas para manutenção e do custo total da operação. Alguns meses após a entrada da motorização Euro 5, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) está prestes a colocar em vigor a  resolução 10/2007 revisada que trata de registros de lubrificantes e níveis mínimos de desempenho. Após cinco anos de vigência, a ANP julgou necessário a revisão desse regulamento em função do avanço de novas tecnologias de lubrificantes.

De acordo com informações da ANP, com a nova resolução, apenas estarão à disposição do consumidor as tecnologias de lubrificantes automotivos mais adequadas à realidade brasileira. Isso porque poderão ser retiradas do mercado as tecnologias obsoletas que confundem o consumidor no momento da escolha do produto e que não atendem às exigências atuais dos motores.

Ainda, segundo a ANP, outros aspectos bastante relevantes para o consumidor são: a inclusão de novos ensaios nas especificações do produtos, o que permitirá seu melhor controle de qualidade, e as novas exigências de rótulo, que determinam informações mais claras e transparentes para quem usa o produto. Vale destacar que além da maior proteção do motor e evitar o problema de sublubrificação, sob o ponto de vista ambiental, a elevação de níveis de desempenho vai colaborar para a redução das emissões de poluentes nos veículos, a redução no consumo de combustíveis e queima de lubrificante. 

Os níveis mínimos de desempenho estabelecidos para  motores de ciclo Diesel serão: API CG-4 ou ACEA (2012). Ainda nesse ponto, segundo a agência, mais um ganho é que, no geral, níveis mais elevados requerem intervalos de troca maiores, o que resulta em consumo menor de lubrificantes.

Contraponto

No momento, a ANP está avaliando sugestões de alguns sindicatos e associações do setor que foram contra alguns pontos da revisão da resolução 10/2007. Em fevereiro, houve uma audiência pública na sede da ANP, no Rio de Janeiro. Na ocasião, foram ouvidos representantantes de agentes do mercado. 

O Simepetro (Sindicato Interestadual das Indústrias Misturadoras, Envasilhadoras de Produtos Derivados de Petróleo), por exemplo, posicionou-se contra a proibição da comercialização de produtos com níveis de desempenho abaixo dos mínimos estabelecidos. Para Carlos Ritum, presidente do sindicato, em vez de proibir, o ideal seria criar uma observação no rótulo com a palavra “obsoleto” assim como ocorre no mercado norte-americano, que informa ao consumidor que o produto não pode ser utilizado em certos tipos de motores. “É também uma forma de incentivar o consumidor a criar critérios para a escolha de lubrificantes”, acredita. De acordo com Ritum, com a permissão da continuidade de comercialização de lubrificantes que serão rotulados como obsoletos, as empresas terão mais tempo para se adequar aos novos padrões sem enfrentar uma queda abrupta de vendas e produção. “No Simepetro temos mais de 50 empresas sindicalizadas que fabricam e comercializam óleos lubrificantes, dessas companhias, as que produzem óleo automotivo representam 85% desse total. Se acontecer essa proibição, essas associadas terão uma quebra de 40% em seus negócios, podendo até inviabilizar a continuidade dessas empresas”, explica.

Segundo informações da assessoria de imprensa da ANP, até o fechamento desta reportagem, o processo para validar o início das regras da resolução estava em andamento e sendo examinado pela Procuradoria Geral Federal da ANP para posterior apreciação pela diretoria da agência. Todas as sugestões do setor estavam sendo analisadas. Ainda de acordo com a agência, desde quando a ANP intensificou a regulamentação do mercado de lubrificantes foi observada uma queda das não conformidades dos produtos nos programas de monitoramento de lubrificantes. Houve também uma moralização do mercado, observando-se uma diminuição das práticas desleais de concorrência e o aumento dos investimentos das unidades fabris. Com o resultado, observa-se também uma melhoria no controle de qualidade e segurança das instalações e aumento na capacidade produtiva de diversos agentes econômicos, atendendo às necessidades do mercado brasileiro . 

Para Marcelo Lima e Silva, gerente de tecnologia para a América Latina da Petronas, o mercado vai se adaptar aos novos níveis mínimos estabelecidos, oferecendo aos consumidores produtos mais adequados à frota atual e com performance mais próxima do mínimo exigido pelas montadoras e impacto pouco significativo em termos de preços. “Somos favoráveis a alteração do nível mínimo de desempenho. Isso aproximará o mercado revendedor do perfil dos lubrificantes requeridos pela frota circulante”, comenta.

Na opinião de Marcelo Beltran, gerente técnico da Total Lubrificantes, normas rigorosas para o setor aprimoram o nível de qualidade dos produtos e valorizam a relação dos fabricantes e consumidores. “Acreditamos que, em breve, até os consumidores mais resistentes compreenderão que o custo levemente superior do produto se dilui entre as vantagens que proporciona ao longo do tempo, como economia de combustível, periodicidade maior entre as trocas, menor desgaste do motor e, principalmente, redução na emissão de poluentes. Grande parcela da frota de caminhões que  circula pelo país atualmente já foi fabricada visando a utilização de lubrificantes nos padrões exigidos pela regulamentação vigente”, comenta. 

O consultor sênior da gerência de tecnologia da rede de postos Petrobras Distribuidora, Antônio Alexandre Ferreira Correia,  acredita que a proibição da comercialização de lubrificantes com níveis de desempenho mais baixo faz com que haja uma regularização do mercado. “Se formos analisar a frota brasileira de veículos, a idade média, perceberemos que as especificações que estão sendo proibidas já são obsoletas, até para os veículos mais antigos”, diz. Para o consultor, essa nova resolução trará aos consumidores produtos que apresentam mais desempenho e qualidade, o que irá contribuir sensivelmente para um melhor desempenho e vida útil dos seus veículos. “A frota circulante de veículos no Brasil tem se renovado  bastante,  e,  mesmo  para  automóveis com um bom tempo de uso, os níveis  de  desempenho  que  estão sendo proibidos já não eram recomendados pelos fabricantes de veículos, por isso a extinção não deverá fazer falta”, observa.

Já Sergio Luiz Viscardi, gerente técnico de lubrificantes Ipiranga, diz que a revisão da legislação realizada pela ANP será um passo importante para a melhoria da qualidade dos lubrificantes no mercado brasileiro.

Agora é a vez do consumidor

Se o papel de agências reguladoras é fazer com que a indústria eleve a qualidade de os óleos lubrificantes oferecidos nas prateleiras e para as montadoras, o do consumidor é ficar atento à importância que o produto exerce em seu veículo e  escolher o correto.

Se fosse possível classificar a importância que o óleo lubrificante tem para motor, caixa de câmbio e todos os componentes que precisam de lubrificação, apareceria no topo do ranking. Isso porque sua função é uma das mais nobres quando o assunto é funcionamento do motor e dos demais componentes que necessitam de lubrificação. Além de proteger e lubrificar as superfícies metálicas contra a corrosão e prolongar a vida útil. 

Em um passado não muito distante, tinha-se a visão da função do óleo apenas como um redutor de atrito. Hoje,  a indústria desenvolve e comercializa produtos que têm influência direta no desempenho do veículo, resultando em ganho de potência para o motor.

Entretanto, a eficácia do óleo lubrificante pode ser bem menos expressiva caso o produto não seja o indicado para o caminhão. E a tarefa de escolher o óleo ideal complica um pouco com a diversidade existente no mercado. “Seguir as recomendações do manual do proprietário é essencial para o bom funcionamento do veículo, mas vale ressaltar que, quando falamos em seguir o manual, não estamos nos condicionando à marca indicada pelo fabricante, e sim às especificações de aditivação e viscosidade contempladas pelo produto”, explica Marcelo Beltran.

Beltran explica ainda que não é apenas o modelo do motor que influencia na escolha. Deve haver também um cuidado em optar pelo  produto adequado para o tipo de operação do veículo. “O manual é claro nesse sentido. Recomenda o óleo correto para cada perfil de condução: normal ou severa. Para os veículos que operam em condições severas, por exemplo, a recomendação é a redução da periodicidade da troca do lubrificante”, diz. Quando não há uma escolha correta, o lubrificante inadequado não proporcionará a eficiência desejada em reduzir o atrito entre as partes móveis, que é a sua principal função. “A qualquer momento pode ocorrer o rompimento do filme lubrificante, que gera desgaste das peças, ruídos, aumento de temperatura e, até mesmo, a quebra do motor”, complementa Beltran.

O consultor sênior da gerência de tecnologia da rede de postos Petrobras Distribuidora, Antônio Alexandre Ferreira Correia, complementa: “caso não encontre um produto com as especificações solicitadas pelo fabricante, recomendamos que utilize um produto com nível de desempenho mais elevado para que atenda com folga às recomendações”, diz.
O consumidor final deve receber orientação técnica sobre quais são os produtos mais adequados para cada tipo de aplicação. “Temos a preocupação de manter nossas equipes de vendas atualizadas sobre as especificações do mercado e dos nossos  produtos”, fala o consultor. 

De olho no Manual

As informações que o transportador encontrará no livro são as especificações do lubrificante que ele deve adquirir, que é classificado por seu desempenho revelado a partir de normas determinadas por entidades responsáveis por sua classificação de acordo com o uso, como, por exemplo, a API (sigla em inglês que significa Instituição Americana de Petróleo). O óleo também é classificado pela viscosidade. Nesse caso, quem regulamenta é a SAE (Sociedade de Engenharia Automotiva), que se baseia nas temperaturas que o óleo é capaz de suportar sem perder as suas propriedades, que podem ser denominadas como mineral, sintética ou semissintética. A viscosidade é a propriedade de óleo que indica a resistência ao escoamento em uma determinada temperatura. É também um dos quesitos mais importantes de qualquer lubrificante. A escolha da viscosidade ideal é a chave para garantir lubrificação eficiente. Seguir essas especificações na hora da compra é muito importante. O consumidor também deve se preocupar em comprar produtos de empresas que apostam em tecnologia de ponta no desenvolvimento de lubrificantes. A origem do produto é sempre uma garantia de qualidade.

EGR x SCR 

Com a chegada dos motores Euro 5 é preciso observar se o óleo lubrificante é o ideal para o tipo de sistema de pós-tratamento de gases do caminhão. Há diferenças importantes entre o EGR e o SCR. 

O primeiro consiste basicamente em um sistema de recirculação de parte dos gases de exaustão para a câmara de combustão, diminuindo o teor de oxigênio e, consequentemente, a temperatura da combustão. Já o SCR é um sistema de tratamento de gases que age através da redução catalítica instalada no veículo (catalisador), que utiliza ureia ou amônia para transformar o óxido nitroso presente nos gases de exaustão em nitrogênio, que não causa danos ambientais. 

Por isso os lubrificantes para sistema EGR devem ser capazes de neutralizar os ácidos da combustão e manter resíduos fuliginosos dispersos, como a resposta à tendência de aumento de ácidos e resíduos provocado pela recirculação de gases. De nada adianta escolher o lubrificante correto se sua utilização não está sendo bem aproveitada. Apesar de haver uma profissionalização das transportadoras, para a busca constante pelo melhor aproveitamento do caminhão, ainda há falhas no uso correto do lubrificante. As fabricantes recomendam fazer trocas de óleo nos períodos recomendados. Isso garante a durabilidade do motor e da caixa de câmbio. 
Segundo Marcelo Lima e Silva, da Petronas, o próprio manual do proprietário classifica o tipo de serviço ao qual o caminhão está sendo submetido e, a partir disso, define a periodicidade da troca. “Um lubrificante não foi fabricado para uma determinada quilometragem, mas a condição de uso do caminhão é que será determinante para a definição do intervalo de troca do óleo ideal”, complementa. 

De acordo com Marcelo, se um caminhoneiro utiliza estradas longas e planas, com bom estado de conservação, ele terá uma condição de uso que permitirá um intervalo de troca mais longo que um outro caminhoneiro que utiliza estradas com trechos curtos de subidas e descidas e estado de conservação inferior.

O filtro de óleo também não pode ser esquecido. Segundo André Gonçalves, engenheiro da MANN-Filter, o filtro se conecta com o desempenho do óleo. Tem que se considerar a operação que o veículo trabalha, pois isso interfere diretamente na durabilidade do óleo. “Toda a alteração na durabilidade do óleo deve ser consultada, tanto o fabricante do veículo quanto o fabricante do filtro para que o desempenho do óleo seja garantido”, finaliza