Especial freios

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Revisão

Revisão

Quando uma pessoa fica gripada diversas vezes em pouco espaço de tempo, sente que algo não vai muito bem no organismo, aí vale procurar as causas das defesas em baixa. A mesma comparação acontece com os veículos. Alguns sinais, muitas vezes discretos e, por isso, ignorados, indicam que ele está desregulado.

O sistema de freios, que é um dos itens mais influentes na segurança e na dirigibilidade “fala” todo o tempo com o motorista sobre como anda sua eficiência. E muitas vezes o reflexo da falha acontece em outras partes.
Por exemplo, o aquecimento dos pneus – ou até o seu estouro – indica que as peças e os equipamentos de frenagem não estão lá essas coisas, por isso todo cuidado é pouco. 

Nesse caso: não hesite! Vá direto para manutenção. Uma das principais preocupações dos frotistas é nunca ter falha no freio, já que sua perda desse pode causar acidentes graves.
Uma forma de se assegurar que eles estão em cima é não deixar o veículo apresentar sinais duvidosos, para revisá-los (veja box). O ideal é optar sempre pela manutenção preventiva, que é imensamente mais vantajosa do que a corretiva. E ainda evita quebras inesperadas.

O bolso do frotista agradece — e muito — já que um caminhão desregulado consome bem mais combustível que o normal, e ainda, perde muito em desempenho.
Segundo Edison Nunes, supervisor técnico da Eckisil Freios, fabricante de sistema de freios para ônibus e caminhões, há também a chamada manutenção preditiva, que aumenta muito a eficiência dos veículos. 

“Os componentes são trocados e verificados antes que apresentem qualquer defeito e diminuição da eficiência, a partir de um estudo de tempo de vida por estimativa de quilometragem rodada. Dessa forma, as peças são trocadas antes de atingirem essa marca, ou perto dela”, esclarece o supervisor técnico. Esse estudo de troca é determinado pelo MTBF, abreviação de Maximum Time Between Failures, que quer dizer “tempo máximo entre falhas”. Jucemar Spadotto, gerente nacional de vendas da Duroline, especializada em lonas de freio, aponta que os fabricantes já indicam uma periodicidade conforme a operação do veículo, com especificidade quanto ao trajeto que ele costuma percorrer. “Caso seja do segmento rodoviário, o sistema é menos acionado se comparado ao urbano que exige uma frequência maior de manutenção”, observa. Mas, mesmo em rodovias, a análise é bem criteriosa quanto à vida útil das peças: regiões montanhosas pedem mais visitas às oficinas. Cidades com topografia como a de Belo Horizonte (MG), também pedem mais atenção aos freios. 

“Nessa hora leva-se em conta também a boa condução, como empregar corretamente o freio  motor e descer na marcha correta. Além disso, o excesso de carga também contribui para o desgaste do sistema”, avalia Nunes, da Eckisil. O peso aumenta a energia cinética do veículo, provocando maior temperatura dos freios durante as frenagens, como também a velocidade excessiva gera mais calor, que causam desgastes prematuros e diversos outros problemas.

A TRANSPORTE MUNDIAL ouviu profissionais e técnicos e mostra como não errar na manutenção, optar pela frenagem correta e entender os sinais de atenção!

De olho na oficina

De acordo com Germano Collobialli, gerente de treinamento e assistência técnica, coordenador de aplicação de produtos Wabco para semirreboques e veículos off-road e reitor da Universidade Wabco, os materiais de atrito – lonas, pastilhas e discos – são os primeiros itens a serem verificados, pois são os que mais sofrem desgaste, pois estão em constante atrito.

“A irregularidade da lona dos freios é um indício claro de que o sistema já não está eficiente. O motorista nota que o comportamento do veículo está diferente, apresentando maior distância de parada”, aponta Colliabilli.
Para Giovane Thomé, professor técnico da Fabet/SP (Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte), devem acontecer verificações semanais nesses itens e nos reservatórios de ar. “Muitas vezes a perda do freio pode ser causada por falta de drenagem do reservatório de ar, o que gera acúmulo de água no sistema pneumático. Dessa forma, as válvulas podem travar e acontecer o choque térmico dos discos e tambores, causado pelo resfriamento rápido do sistema quando ele está muito quente, e o veículo passa por uma poça d’água, logo após a frenagem”, aponta Thomé.

Já Sérgio Foratto, gerente de treinamento de pós-venda da Mercedes-Benz, alerta para uma negligência bastante comum entre os motoristas e frotistas, que é a falta de manutenção dos freios da carreta, pois, por segurança, todo o sistema de parada deve atuar em conjunto. 

“Em uma recente amostragem de caminhões identificamos, diversos problemas e resultados alarmantes quanto aos perigos de falta de prevenção e regulagem desses freios. De um veículo com 9 eixos, por exemplo, apenas dois funcionam adequadamente”, aponta Foratto. 

Para se ter uma ideia: 90% dos freios de carreta apresentavam folga nos ajustadores de freio, 30%, folgas nos componentes mecânicos, e 20%, apresentavam vazamento de ar, em decorrência do desgaste normal de uso.

Dessa forma, todo o esforço para frear estará centralizado no freio dianteiro, provocando a perda da dirigibilidade e o temido “L”, responsável por acidentes fatais nas estradas, que é o travamento do cavalo mecânico, principalmente em altas velocidades e na pista molhada, em que há menor aderência.

Para o gerente, a tentativa de economizar e adiar a manutenção da estabilidade de todo o conjunto de eixos é uma das principais causas das falhas em frenagem e, consequentemente, do grande número de acidentes no país. Paulo
Aparecido da Silva, gerente de negócios de assistência técnica da Scania no Brasil, orienta que uma das formas de aumentar a eficiência dos freios da carreta é fazer uma regulagem adaptada nas válvulas relê, que acionam as sapatas dos freios traseiros, por meio de ar.

“O ideal é quando for calibrá-las colocar mais pressão, comparada às válvulas do eixo dianteiro. O objetivo é ter mais estabilidade, já que a carga sobrecarrega o implemento e sua parada”, explica Paulo Aparecido da Silva. Segundo o gerente da Scania, de 0,2 a 0,4 bar a mais no sistema traseiro já o torna mais eficiente. Silva ainda acrescenta sobre áreas dos veículos que utilizam ar proveniente do conjunto de freios, como o sistema inteligente que mantém pneus calibrados. “Por isso, prestar a atenção também na calibragem correta dos pneus, inclusive nos pneus do implemento, é um passo importante para aumentar a vida útil dos freios. Muitas vezes, o motorista os percebe mais vazios, porém, com a correção automática, não realiza a revisão”, avisa.

Na hora da manutenção, também é importante ficar consciente – e alerta – quanto à preferência pelos menores preços, em vez da escolha pelos produtos originais, atitude que acaba refletindo na segurança do veículo. 
Sérgio Onzi, da Master, fabricante de autopeças que pertence ao grupo de empresas do conglomerado Randon, explica que soma-se a isso o respeito aos períodos de indicação do fabricante para a manutenção.
“É importante ter a confiança com o fornecedor de todo o equipamento, o fabricante e o mecânico. Se há escolhas erradas em qualquer componente, como as molas de retorno, por exemplo, outras áreas são afetadas, comprometendo a parada do veículo”, acrescenta.