Brasil era aposta de ouro da Shacman em 2011

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Em tempos de boom econômico, o Brasil foi selecionado como o destino de muitas fabricantes automotivas estrangeiras. Hoje, com a crise, grande parte delas já não colocam suas fichas no país, como é o caso da chinesa Shacman. Veja a reportagem da época da chegada da marca ao país, em mais um capítulo da série Baú da TRANSPORTE MUNDIAL.


Há algum tempo, a chegada das fabricantes chinesas ao Brasil deixou de ser apenas especulação e tornou-se de fato realidade. Prova disso é a presença confirmada de mais uma marca oriental no país, a Metro Shacman. A empresa irá importar caminhões produzidos na China para comercialização no mercado brasileiro após a Fenatran (Salão Internacional do Transporte), que acontecerá de 24 a 28 de outubro deste ano, em São Paulo, SP.

Segundo João Capussi, consultor da Shacman, as dez primeiras unidades devem desembarcar por aqui ainda neste mês. “Cinco caminhões serão utilizados para testes finais e cumprimento de algumas exigências de homologação, e o restante será para apresentação oficialmente à imprensa e a possíveis clientes”, afirma o executivo.


A princípio, três modelos brigarão pelo mercado de pesados no Brasil: duas versões rodoviárias, com 385 cv e 420 cv, e uma fora de estrada, com opção dessas duas potências para aplicação nos segmentos de mineração e construção civil. “Os caminhões são muito bons e não deixam a desejar em nada”, comenta Laerte Dias Valladão, engenheiro de homologação da Shacman.

A qualidade e durabilidade vêm sendo defendidas como principais apelos dos caminhões da Shacman. Segundo os executivos, a fabricante nasceu da Metro Europa, uma empresa do ramo de construção que possui atuação em vários países, inclusive em Angola. No país africano, a construtora apostou em caminhões chineses da fabricante Shaanxi e percebeu que os veículos duravam tanto quanto os de outras marcas ou até mais. Diante disto, a Metro começou a importar os modelos para uso próprio e também para revenda na região. Dessa relação, surgiu uma nova marca, a Metro Shacman, que está trazendo ao Brasil os caminhões da Shaanxi. 

Os caminhões estão equipados com componentes tradicionais e bastante conhecidos do mercado brasileiro e que dão confiabilidade aos modelos da marca, como, por exemplo, a cabine, que teve seu projeto desenvolvido pela MAN, na Alemanha, e, posteriormente, vendido à Shaanxi para produção dos caminhões Shacman. Composta por aço laminado, ela possui design muito próximo aos modelos europeus. “A cabine se sobressaiu em todos os testes de qualidade realizados após a fabricação: o de suportar adequadamente um determinado peso sobre o teto, no caso 15 t, e o de impactos frontais”, diz Capussi.

Além disso, os veículos integram ainda ar-condicionado de série numa cabine com teto elevado e duas camas. Outro destaque dos caminhões é o motor Cummins ISM de 11 litros. Com seis cilindros em linha e sistema de injeção common rail, o propulsor já atende as novas normas de emissões ambientais Proconve P7, equivalente à Euro 5, que entrará em vigor em janeiro do próximo ano. Na versão com 385 cv de potência, o torque oferecido motor é de 187 mkgf a 1 200 rpm e a de 420 cv, 204 mkgf a 1 200 rpm.

No entanto, os atrativos dos caminhões da Shacman não param por aí. Os veículos podem ser equipados com as transmissões mecânicas Eaton 12 JS TA, com 12 velocidades, ou Fast 16 JS 180 TA, com 16 velocidades, ambas bastante conhecidas dos transportadores brasileiros. Mas, além das caixas mecânicas, a fabricante chinesa está oferecendo câmbio automático fabricado pela Allison para a versão LT, fora de estrada. 

A segurança também foi pensada para os modelos, que integram de linha o sistema ABS de freios. A fabricante optou por utilizar tambores de freio nas rodas dianteiras e traseiras, segundo Capussi, pelo fato de o mercado nacional ainda não ter adotado completamente os freios a disco. Para completar o sistema de frenagem, o freio motor agregado é produzido pela Jacobs. Os air bags são disponíveis como itens opcionais para os veículos. “Optamos por usar peças já conhecidas do mercado brasileiro também para facilitar a reposição e manutenção dos caminhões”, explica Capussi. Com estes fortes atributos, a Shacman pretende oferecer um caminhão com características muito próximas as que integram os modelos comercializados no mercado brasileiro atualmente. “Trata-se de um caminhão totalmente brasileiro, mas que é montado na china”, diz Valladão.

De acordo com o engenheiro da Shacman, a fabricante buscou desenvolver um caminhão que realmente agradasse os transportadores e que ainda pudesse ser competitivo em preços. Embora os valores dos veículos ainda não tenham sido definidos, já se sabe onde ele irá disputar espaço e com quem. Disponíveis nas configurações de tração 4×2 e 6×4, os cavalos-mecânicos irão buscar atender o transporte de longa distância, atrelados a implementos rodoviários nos modelos sider, fugão, carga seca, três eixos e bitrem – este último é indicado apenas para a versão 6×4 com 420 cv de potência, devido à nova legislação.

Já o LT 6×4 fora de estrada é recomendado para transporte de madeira ou atuação em construção civil. As aplicações severas e estradeiras são os principais nichos de mercado da fabricante chinesa. “A robustez, o custo de manutenção reduzido e os preços baixos são os principais atrativos dos caminhões Shacman para o Brasil”, ressalta Capussi.
Com esses dotes, os veículos irão concorrer diretamente com os das linhas Stralis NR de 460 cv e Trakker de 380 cv, ambos 6×4 da Iveco.

Embora o modelo de cavalo-mecânico da fabricante italiana seja equipado com transmissão automatizada, o veículo da Shacman deverá disputar com a gama em relação ao tipo de aplicação e ao preço dos caminhões, o que deve acontecer também com o Mercedes-Benz Axor 2544. Outro forte concorrente dos caminhões produzidos na China é o Sinotruk Howo. O preço baixo e a faixa de potência colocam esses veículos em comparação no mercado de pesados. Essas mesmas características estendem a disputa ainda com o Volkswagen Constellation 26.370 e 31.370 (off-road) pelas vendas no país.


SOBRE A CHINESA

A Shacman é uma marca da fabricante chinesa Shaanxi Heavy Duty Automobile Co. LTD., que há 40 anos produz caminhões pesados para cerca de 50 países.  Sediada na cidade de Xi’an, na província de Shaanxi, localizada na região central de China, a empresa tem capacidade para produzir até 70 000 veículos por ano. Segundo, José Fernando Leite de Campos, engenheiro de desenvolvimento da Shacman, a fabricante enviará ao Brasil 200 unidades até o final do próximo ano. 

REDE

Estão sendo construídas duas concessionárias da Shacman no Brasil, uma em Santarém, PA, e outra em Sorocaba, SP. Nesta última, será concluído, paralelamente, um centro logístico de peças de reposição.  Segundo o consultor da fabricante, João Capussi, os empreendimentos estarão prontos até o final deste ano e, em 2012, a Shacman firmará parcerias com concessionários já consolidados no país e inaugurará quatro concessionárias a cada três meses, o que deve totalizar 21 revendas de caminhões da marca.