Caminhões conectados antecipam o futuro

284

Especialistas estimam que o volume de cargas a ser transportado irá triplicar até 2050, relata o presidente mundial da Daimler Trucks, Wolfgang Bernhard. E não será possível triplicar a frota de caminhões, pois não há infraestrutura que seja viável. O caminho é aumentar a eficiência da logística que tem o caminhão como principal meio. Na Europa, 75% das cargas são transportadas por rodovias. No Brasil são cerca de 60%. A quantidade de caminhões que trafegam vazios chega a 25% das viagens, fora os que rodam sem estarem completamente carregados.
 

Shaping Future Transportation – Campus Connectivity

A Daimler Trucks aposta na internet do transporte como complemento à internet das coisas para aumentar a eficiência e reduzir a quase zero o número de acidentes. Em recente encontro com 300 jornalistas de 36 países, do qual a TRANSPORTE MUNDIAL também participou, a empresa fez a estreia mundial do New Actros Highway Pilot Connect, que tem como adicional a função comboio eletrônico em relação ao New Actros Pilot que apresentamos na edição passada, de número 151.

Em 2014, a Mercedes-Benz apresentou o caminhão autônomo do futuro que estará pronto até 2025 e, em 2015, a Freightliner mostrou o seu caminhão totalmente autônomo nos Estados Unidos, o primeiro do mundo a ter autorização para rodar de forma autônoma em rodovias nos estados de Nevada e da Califórnia. 
Nas páginas seguintes você poderá entender o funcionamento e os benefícios da nova versão Connect, por meio de ilustrações e fotos legendas. A demonstração foi com três caminhões conectados por Wi-Fi.

ALÉM DO CAMINHÃO
A internet das coisas já é realidade nos caminhões Volvo e empresas de logística, como DHL, entre outras. E, conforme Wolfgang Bernhard, ela aumentará muito a eficiência do transporte, acabando com as viagens com carroceria fazia, esperas para cargas e descargas, postos fiscais, balança, e ajudará o motorista a evitar engarrafamentos e acidentes. Tudo isso fará aumentar a rentabilidade das empresas de transporte e logística.

Pelo monitoramento e telemetria, a Mercedes-Benz já tem 365 mil caminhões no mundo conectados pelo sistema FleetBoard e Detroit Connect (nos Estados Unidos). Já há aplicativos nos quais o gestor do caminhão e o motorista podem acompanhar tudo que acontece simultaneamente no veículo.

Agora, a Daimler investirá, até 2020, meio bilhão de euros em um novo departamento chamado Digital Solutions e Services para o desenvolvimento de soluções digitais relacionadas a caminhões conectados. Com isso, a empresa espera que os caminhões estejam mais conectados com os clientes, oficinas, com a infraestrutura das rodovias (como semáforos e placas de trânsito), com outros veículos, com a fiscalização, com a carga, seguradoras etc. Será possível, em razão da legislação de descanso, saber quanto tempo falta para o motorista parar, e o próprio caminhão localiza uma vaga de estacionamento em razão do tempo.

HIGHWAY PILOT CONNECT
A demonstração para a imprensa foi na rodovia A52, nas proximidades de Dusseldorf, na Alemanha. A via já conta com permissão para a condução parcialmente autônoma, ou seja, exige que o motorista fica no seu posto durante todo o tempo.

A maior vantagem da viagem em comboio conectado é a economia de até 7% no consumo e o equivalente na redução de emissões, principalmente CO2. Isso porque o sistema permite reduzir a distância entre os caminhões de 50 metros para 15 metros, melhorando significativamente a aerodinâmica. No caso do comboio de três caminhões, a redução é de 2% no primeiro caminhão, 11% no segundo e 9% no terceiro, sendo os 7% a média dos três. É possível conectar até 10 caminhões. O comboio também permite um melhor aproveitamento das estradas, pois três caminhões convencionais ocupam 150 metros de pista e os conectados apenas 80 metros.

Apesar da distância entre os caminhões ser curta, a segurança é aumentada para evitar colisões traseiras. Um bom motorista precisa de 1,4 segundo para reagir a uma situação de emergência e acionar os freios. O Highway Pilot Connect transmite sinais de frenagens aos veículos atrás em menos de 0,1 segundo. A conexão entre os caminhões é feita por padrão exclusivo de Wi-Fi para o setor automotivo e seguro contra hacker.

Os modelos Pilot Connect também continuam a ser caminhões de condução autônoma. Eles conseguem manter sua direção independente do veículo à frente e, graças à sua combinação de orientação linear e lateral, podem reagir a situações imprevistas a qualquer tempo, como a entrada e a saída de um veículo entre os caminhões do comboio.

Os três caminhões da Mercedes-Benz participam do Desafio de Comboios de Caminhões, uma iniciativa da Holanda. Nesse evento, seis fabricantes europeus de caminhões levam seus veículos em comboio semiautônomos às estradas públicas, cruzando várias cidades europeias com destino final no porto de Roterdã, em 6 de abril. O objetivo é acelerar, de forma conjunta, a introdução de regulamentação intra-fronteiras para otimizar os transportes rodoviários dentro da União Europeia.  

Veja como se comporta o comboio conectado:

IFrame

ESTABELECENDO A CONEXÃO
O comando para conexão entre os três caminhões é iniciado pelo primeiro do comboio. A comunicação entre eles é feita por um protocolo exclusivo de Wi-Fi para o setor automotivo e feito de forma duplicada para evitar interferência de hackers. O Highway Pilot Connect também roda como autônomo de forma independente do comboio.

ECONOMIZANDO COMBUSTÍVEL
Após a formação do comboio, a distância entre os caminhões é reduzida para até 15 m, dependendo da velocidade. Isso melhora sensivelmente a aerodinâmica e reduz o consumo em 2% no primeiro caminhão, 11% no segundo e 9% no terceiro, dando uma redução média de 7% e no mesmo percentual a de emissão de poluentes

HPC-Platooning

FRENAGEM EMERGENCIAL
Em caso de emergência, os freios de todos os caminhões são acionados praticamente ao mesmo tempo, pois a comunicação entre eles leva apenas 0,1 segundo, reduzindo de forma significativa o espaço de frenagem, o que permitiu estabelecer a distância entre os caminhões de 15 metros como segura. Para se ter uma ideia, um motorista leva 1,4 segundo para reagir e acionar os freios.

INTROMISSÃO DE UM VEÍCULO NO COMBOIO
Uma situação muito comum nas rodovias e a entrada de veículos entre os caminhões em comboio. Nesse caso, o sistema detecta o veículo e, independemente da ação do motorista, o caminhão freia para aumentar a distância entre os veículos. Após a saída do intruso, o caminhão acelera sozinho para reduzir a distância do caminhão que vai 
à frente.

DEIXANDO O COMBOIO 
No exemplo da ilustração à direita, o caminhão do meio pega outra estrada e, nesse caso, é desligada a conexão, podendo os motoristas assumir a direção ou deixar em condução autônoma. Outra possibilidade é os dois outros caminhões continuarem conectados.

PISANDO NO FREIO 
O motorista pode, a qualquer momento, reassumir a direção do caminhão e, nesse caso, é desfeita a conexão com os demais. O caminhão também, se detectar qualquer dificuldade para continuar como autônomo, solicita ao motorista para reassumir a direção. Isso pode ocorrer em trechos de baixa visibilidade das faixas, como em noveiros, por exemplo

Compartilhar
Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).