Jorge Görgen*
Safra recorde promete congestionar as estradas em direção aos portos, elevando mais o Custo Brasil. Mesmo assim, surgem oportunidades para transportadores e agricultores
Os rompantes tarifários de Donald Trump estão escancarando oportunidades de comercialização de produtos brasileiros para outros destinos. Uma vez que os portos americanos se fecham para o Made In Brazil. Nesse cenário, a China mais do que nunca é o nosso maior parceiro preferencial, principalmente de commodities agrícolas, como a soja.
Por isso, a combinação de safras recordes de grãos, colheitas feitas em poucas janelas de tempo e a alta nos preços dos combustíveis está provocando uma disparada nos valores do frete rodoviário. No Mato Grosso, o incremento de algumas rotas chegou a 40% no último verão se comparado com a safra passada.
Embora seja um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil ainda enfrenta sérios problemas logísticos, com poucas ferrovias e hidrovias, estradas de má qualidade, congestionamentos nos portos e reduzida capacidade de estocagem em silos.
Nosso limite de armazenamento antes dos portos é estimado em 210 milhões de toneladas. Essa capacidade, frente o volume previsto da safra de grãos, aponta para uma diferença de 115 milhões de toneladas entre o que será colhido e o que poderá ser estocado nas propriedades, cooperativas e empresas do agronegócio.
Segundo a Organização das Nações Unidas para o Abastecimento e Alimentação os países deveriam ter uma capacidade de armazenagem 20% superior ao volume produzido, evitando problemas de excesso e desperdício em caso de superprodução como a que verificamos no Brasil este ano.
Com sucessivas safras recordes, o déficit de estocagem vem crescendo no país. Nos últimos 15 anos, a nossa produção de grãos cresceu a uma taxa média de 5,3% ao ano, enquanto a capacidade de armazenagem aumentou só 2,8% ao ano.
Essa discrepância resulta em um patamar significativo, que pode levar a desperdícios na colheita, já que muitas vezes o produtor é obrigado a deixar os grãos “armazenando” a céu aberto. Ou os caminhões tornam-se os silos em movimento, no caminho em direção aos portos, provocando filas quilométricas às margens das principais rodovias do litoral.
A solução para este problema eterno da agricultura brasileira, que cria caos logístico em épocas de safras recordes e traz prejuízos aos produtores e ao país, é a expansão de linhas de crédito para construção de silos e armazéns com menos burocracia, além de investimentos na infraestrutura de escoamento da produção agrícola. Estamos falando em ampliar e construir estradas, hidrovias, ferrovias e portos.
Em 2024, a participação da armazenagem dentro das fazendas no Brasil foi de 17% com relação a capacidade estática total, enquanto nos EUA é de 65%, na Europa 50% e na Argentina chega a 40%.
Mas como pouco se faz em termos de novos investimentos, tudo indica que teremos mais problemas logísticos nesta safra, a exemplo do que se deu há dois anos, apontam os dados da Companhia Nacional de Abastecimento. Conforme a empresa estatal o avanço da colheita da soja já tem impactado os preços de transporte de grãos nas principais rotas do país.
Com isso, a fila de caminhões à espera de embarque na franja dos portos aumenta os custos para quem exporta em cerca de 30 mil dólares por dia em média. Esse é o preço cobrado como pênalti quando um navio de contêineres fica no porto por mais tempo do que o estabelecido no contrato com os exportadores. E os armadores que transportam contêineres levam também soja nos porões dos navios.
Isso tudo para dizer que a nossa ineficiência irá gerar mais filas de caminhões rumo aos portos brasileiros, penalizando o tráfego de automóveis e ônibus nas estradas. Aumentando os riscos e a insegurança nas rodovias e ainda mais os custos logísticos.
Mas graças ao fator Trump, ainda assim compensará para os produtores brasileiros venderem para a China, para a Europa e para outros destinos fora à América, que ficará reservada aos produtores norte-americanos. Aqui vale mais do que nunca o aforismo oriental do Yin e do Yang. Que diz q toda crise gera também uma oportunidade.
*Jorge Görgen é jornalista, consultor, especializado nos setores de Transportes e do Agronegócio.