Comprar caminhão e ônibus por meio de financiamento é ainda a opção da maioria, mesmo que a opção pelo pagamento à vista tenha crescido de 10% (em 2004) para 14% (em 2016). Esse e outros dados mostrados em um balanço feito pela ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) mostra que o setor de transporte é altamente dependente das ferramentas de financiamento no país. Prever o futuro está difícil, mas é importante conhecer o passado recente para entender como tem comportado os compradores diante das opções oferecidas pelas financeiras no Brasil.

FINAME

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Bernd Barth, vice-presidente da ANEF e presidente do Banco Mercedes-Benz. Foto: Divulgação/Banco MB

O meio oferecido pelo BNDES, o Finame, há tempos tem sido o preferido pelos transportadores, principalmente por causa das suas taxas mais atrativas. Em 2004, ele representou 54% das vendas de caminhões e ônibus. O recorde do Finame foi em 2013, quando foi o responsável por 77% das entregas. O ano em que os transportadores menos recorreram ao canal do governo foi o de 2006, com 42% das vendas feitas pelo programa oficial. No ano passado, 62% dos veículos pesados foram entregues via Finame. A tendência é que ele continue liderando, porém, o setor de transportes busca meios de não ficar tão dependente do governo. “Um dos prováveis fatores para essa mudança pode ser atribuída às condições pós-fixadas, sinalizando preferência dos clientes por alternativas mais seguras e previsíveis de financiamento frente a um cenário econômico considerado ainda instável”, diz Bernd Bath, vice-presidente setorial da ANEF e presidente do Banco Mercedes-Benz. 

LEASING

O leasing (uma especial de aluguel com opção de compra no final do contrato) foi sucesso entre 2004 e 2009 com residual nos anos seguintes. O ano auge foi o de 2008, com 30% das vendas por esse meio. O leasing era a opção para os transportadores que, por algum motivo, não atendia as exigências do BNDES. Esta opção tinha taxa relativamente mais baixa que o CDC (Crédito Direto ao Consumidor) e vantagens fiscais para a pessoa jurídica. Por problemas jurídicos diversos que o leasing vinha gerando para os bancos, ela foi deixando de ser ofertada aos clientes.

CDC

Esta é a modalidade mais comum para qualquer tipo de consumidor e acessível em termos da burocracia. Porém, no quesito taxa de juros, nunca foi atrativa para quem conseguia atender os requisitos para o Finame. Em 2004, o CDC foi responsável por financiar 14% dos veículos pesados e, em 2016, chegou a 17%. Especialistas da área apostam que, com as mudanças nas regras dos Finame (mudaram a forma do cálculo da taxa de juros para os próximos três, tornando-a um pouco menos atrativa), o CDC poderá ficar mais competitivo, caso, realmente, a taxa Selic e a inflação continuem a cair.

CONSÓRCIO

O consórcio está longe de ser a opção de compra preferida dos transportes. O melhor ano dele foi 2004, quando 9% das entregas foram por este meio de pagamento. Ele ficou na casa dos 2% até 2015 e no ano passado subiu 5% em 2016. Muitos evitam o consórcio por não saber quando terão o bem, pois isso dependerá de sorteio ou de lance.

Ele funciona para quem trabalha com renovação programa da frota, ou confia na sorte, ou ainda, tem caixa para dar um bom lance. Também, em épocas de inflação e juros baixos, o consórcio não chega a ser tão competitivo diante outras formas de financiamento. Apesar das administradoras venderam a ideia de que é uma forma de comprar com juros zero, isso não é bem verdade. Sobre o valor da carta é aplicada uma taxa de administração, seguro e fundo reserva que acabam gerando um custo igual aos juros.

Para se ter uma ideia, fizemos uma simulação no site da Embracon (administradora de consórcio). Para uma carta de crédito de R$ 200.000,00 em 70 meses, o cliente pagará 70 prestações de R$ 3.385,71, totalizando R$ 236.999,70. Portanto, os R$ 36.999,70 são os custos do dinheiro, que no financiamento, dão o nome de juros. Além disso, o valor vai sendo tendo a correção inflacionária ao longo do tempo. Assim, o consórcio nessa simulação equivale a um financiamento com juros mensal de 0,49% fora a correção inflacionária que seria feita anualmente. 

Se o transportador quiser trocar o caminhão daqui cinco anos e começar a aplicar R$ 3.385,71, em uma aplicação bem conservadora e segura (caderneta de poupança), no final deste período ele terá R$ 248.499,34 na poupança, considerando rendimento mensal médio de 0,6% por mês pelo período de 60 meses. Considerando os 70 meses para equiparar ao consórcio, o transportador terá R$ 298.604,41 para comprar um caminhão à vista, ou seja R$ 98.604,41 a mais e não somente os R$ 200.000,00 da carta de crédito do consórcio.  

COMO FICA 2017

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Gilson Carvalho, presidente da ANEF. Foto: Divulgação

Segundo o presidente da ANEF, Gilson Carvalho, 2017 será um ano pouco melhor. A entidade espera um crescimento de 5,5% no repasse de crédito. “O primeiro semestre, o mercado deverá manter o ritmo, pois o nível de confiança da população ainda continua baixo e ninguém quer comprometer sua renda ou ficar inadimplemente. Depois, nossa expectativa é de crescimento no volume de negócios, mas ainda muito inferior aos anos anteriores”, comenta.  

SITUAÇÃO DA FROTA ATUAL

Considerando uma frota estimada de 2,42 milhões de veículos comerciais (caminhões e ônibus), conforme dados do Denatran, a ANEF informou que 58,1% deles estão alienados (ainda pagamento financiamento), 29,2% sem gravame (quitados), 8,8% arrendados (leasing) e 3,9% com algum tipo de impedimento, como penhor, reserva de domínio ou algum tipo bloqueio judicial. 

INADIMPLÊNCIA

A inadimplência nos financiamentos de veículos aumentou 0,4% em 2016 e está em 5% nas pessoas jurídicas e 4,6% nas pessoas físicas. O Banco Central considera inadimplente quem está com prestação atrasada há 90 dias. 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).