A estrela Actros

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Mercedes-Benz Actros

Mercedes-Benz Actros

Era 1996 quando, no Salão de Hannover, na Alemanha, a Mercedes-Benz fez a apresentação da primeira geração do Actros.   Vale ressaltar que lá existe uma geração de Actros muito mais avançada do que a que existe hoje no Brasil. Por questões de custos, ela ainda não pode ser vendida aqui.

Antes disso, a marca alemã, nessa faixa de segmento, apostava em veículos cuja filosofia era mais conservadora. Fato que a fez chegar com um certo atraso em alguns itens de modernidade, como turbo e intercooler. Por outro lado, essa atitude foi compensada pela sólida confiabilidade que o consumidor criou em relação aos seus produtos.

Em meados dos anos 1990, a veterana gama SK, que já estava há mais de 20 anos no mercado, necessitava se aposentar, ainda mais porque outras fabricantes como Renault e Volvo haviam apresentado seus caminhões mais tops de linha, as gamas AE e FH, respectivamente.

No entanto, enquanto isso, mal sabia o mercado que os engenheiros da Mercedes-Benz, com grandes doses de discrição, estavam, há vários anos, desenvolvendo o que seria o seu caminhão do futuro. Se a aposta do Actros chamou efetivamente a atenção foi por dois motivos: o primeiro, porque o Actros nascia com o conceito “Caminhão Inteligente” e segundo porque a Mercedes-Benz rompeu com o passado, propondo um salto qualitativo no que tange tecnologia.

E foi com a chegada do Actros que a fabricante alemã se firmou como uma marca com eficiência tecnológica, cuja eletrônica se erigia como protagonista. Os freios a disco em todos os eixos com manobra eletrônica EBS e os sistemas de injeção por bombas unitárias PDL, também formavam parte desta aposta ousada. Contudo, essa ousadia teria seus riscos.  A eletrônica já havia iniciado seu caminho no mercado de veículos comerciais, principalmente os sistemas de injeção (EDC), mas ainda havia coisas por vir, o Actros ainda iria mostrar ao mercado seu Conceito Telligent. Ajustado por diferentes sistemas encarregados de vigiar todos os dados de funcionamento e de intercambiar essas informações por meio de uma rede CAN, o sistema Telligent da primeira geração do Actros analisava todos os dados e respondia de maneira inteligente a cada situação do veículo.

Além disso, a eletrônica da primeira geração do Actros também estreou os motores V6 e V8 de 11,9 e 15,2 litros, que inicialmente desenvolviam potências entre 313 cv e 571 cv.

O que pode se destacar desses motores era o caráter modular, possibilitando compartilharem diferentes componentes. Esses propulsores equipavam a, até então novidade, bombas unitárias PDL de alta pressão. Também eram novidades os cabeçotes com quatro válvulas por cilindros e a quinta válvula de estrangulamento para o freio motor de descompressão.

Por outro lado, a Mercedes oferecia desde 1988 o sistema de ajuda ao câmbio EPS (Eletronic Power Shifting), e também na gama Actros quando apresentava a primeira caixa Telligent totalmente automatizada.
Finalmente, os Actros foram os primeiros caminhões que em 1996 incorporaram freios a disco em todas as rodas. Junto a essa novidade o caminhão também foi apresentado com o EBS (Eletronic Breaking System).

As cabines do Actros também rompiam com o passado. Na época foram apresentadas três tipos de habitáculos convencionais (S, M e L) com três alturas de teto, mas a grande novidade era a solução de piso plano integral Megaspace, que entrava para concorrer em grande estilo com a cabine do francês AE da Renault.

O interior todo era produzido de plástico resistente e acrílico de fácil limpeza, escolha que com o tempo se comprovaria não ser muito acertada. O painel de comando era no formato curvado, deixando tudo às mãos do motorista. Este caminhão foi o primeiro a recorrer à tecnologia digital servindo de tendência. As informações do computador de bordo eram completas, se bem que manejá-lo ainda era um pouco complicado, detalhe que com o passar do tempo foi solucionado.

A primeira geração do Actros apresentava comandos bastante simplificados, incluindo os dois grandes controles instalados em ambos os lados do volante. Por sua vez, o câmbio era de série assim como o sistema EPS e, opcionalmente, o Actros dispunha da opção automatizada, cujas primeiras versões careciam de embreagem.

Na cabine Megaspace o comando do câmbio era situado no apoio de braço direito do assento do condutor – assim como é hoje na cabine do Actros 2546 6×2 e 2646 6×4 a venda no Brasil. A zona de descanso foi cuidadosamente desenvolvida e por ser ampla possuía duas camas. Em seu conjunto, as avançadas soluções que dispunha a primeira geração do Actros, o levou a um êxito comercial sem precedentes.

Porém, alguns problemas começaram a aparecer nessa primeira geração, problemas antes nunca ressaltados nos caminhões SK, e para não perder a confiança de seus clientes, a Mercedes rapidamente lançou a segunda geração do Actros, que tem como principal atributo o restrito controle de qualidade de seus componentes, para que a marca não amargasse novamente a experiência trazida com a primeira geração. As principais novidades incorporadas no modelo foram alguns retoques internos e externos.

Contudo, o motor OM-501 LA V6 recebeu uma nova potência de 456 cv, que se posicionava em um novo e emergente segmento de potência. No interior da cabine substituiu-se o plástico por um material mais resistente e acolhedor.

Em 2004, com a chegada da segunda geração do Actros, os problemas estavam superados. Nesse momento o que a Mercedes-Benz almejava mesmo era ganhar participação de mercado.
Para isso e coincidindo com a chegada da Euro 4 e da, até então, Euro 5, a Mercedes-Benz apresentou seus novos conceitos BlueTec 4 e 5. Com isso a empresa pretendia dar nome próprio ao sistema SCR com injeção de AdBlue – que no Brasil a marca adotou a partir de janeiro de 2012, com a entrada do Proncove P7 (equivalente a Euro 5).
O V6 alcançava o topo com seus 456 cv, porém, o volume de V8 chegava a barreira dos 600 cv – sua potência real era de 598 cv – mas pouco tempo depois a Mercedes apresentava a versão com 612 cv.

O interior se renovou totalmente estreando um novo quadro de comandos e um computador de bordo que permanecia com a mesma tecnologia digital da primeira geração. A área de descanso foi remodelada e agregava novos portas-objetos, tanto internos quanto externos. Nessa geração se incorporava pela primeira vez um sistema de ar condicionado por acumulador de gás que funcionava para refrigerar a cabine mesmo com o motor desligado. Esteticamente, as linhas externas foram redesenhadas deixando o novo Actros com uma imagem mais robusta.

Já com a chegada da terceira geração do Actros, a Mercedes-Benz se concentrou nos conceitos mais ambientalmente corretos, além de incorporar tecnologias de segurança ativa e passiva. Pega carona nessa questão os novos câmbios PowerShift de 12 relações, deixando as opções de 16 velocidades para aplicações mais específicas e com a opção de incorporar um retarder hidráulico Voith.

No que diz respeito ao conjunto motriz, se mantém a mesma oferta de potências para ambos os motores V6 e V8, chegando também uma segunda era do conceito BlueTec, com a presença de um limitador automático de potência quando o AdBlue não chega ao catalisador.

Em um plano eletrônico, os avanços são significativos. A terceira geração do Actros inclui as opções dos sistemas ACC, LDW, ABA e ESP. Toda essa evolução garantiu ao Actros o título europeu de Caminhão do Ano, em 1997, 2004 e 2009.

No Brasil desde 2008

No Brasil o Actros começou a dar seus primeiros passos em 2008, e as vendas se restringiam as versões fora de estrada.
Em 2010, a Mercedes começou a trazer, por importação, duas versões rodoviárias do modelo, mesmo assim, anunciou que em 2012 daria início a produção local dos veículos 2546 6×2 e 2646 6×4.

Mas entre esse período ela importou os veículos, e por isso, amargou alguns prejuízos, porque apesar de robustos e completos no que se refere à tecnologia de trem de força e de segurança, os modelos não se adaptaram muito bem em algumas regiões do Brasil.

Já com o início da produção local, em 2012, após investimentos da ordem de 450 milhões na fabrica de juiz de Fora, os Actros 2546 e 2646 foram adaptados às condições brasileiras, contando com cerca de 50% do Finame.

Desde então, após investimentos adicionais em desenvolvimento de fornecedores, testes e engenharia, diversos novos itens foram nacionalizados, como os eixos dianteiros e traseiros, quadro, bancos, motor, sistema elétrico, freios, rodas e pneus, direção, entre outros. O pedido para recebermos 100% das condições do Finame já foi protocolado e a fabricante da estrela aguarda o parecer do BNDES para aumentar a atual participação vigente de 80%.

Em constante melhoria

Deve-se destacar, ainda, que o Actros desde o ano passado, está no mercado com versão sem eixo redutor nos cubos. Com isso, os veículos ficam mais competitivos e econômicos para atuar em segmentos como o do agronegócio e outras aplicações rodoviárias. As versões com redutor permanecem em linha para atender atividades que necessitam de mais robustez, como os segmentos de cargas indivisíveis.