Em quarentena e com as máquinas paradas, as montadoras de caminhões interromperam a produção para proteger seus funcionários de potencial contágio pela pandemia da Covid-19. Muitas operam parcialmente, com uma pequena parcela de colaboradores, para ajudar as comunidades onde atuam produzindo máscaras, consertando respiradores para hospitais e fazendo doações que são importantes para ajudar a combater essa doença.

Contudo ainda são tímidas as ações das montadoras no sentido de ajudar os motoristas de caminhões com o que eles mais precisam neste momento: alimentação, local seguro para paradas de descanso e kit de higiene.

Todas as revendas das marcas estão trabalhando e tomando todas as medidas de segurança preconizadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Ou seja, os profissionais das concessionárias responsáveis pela manutenção dos caminhões fazem uso adequado das EPIs como máscara, luvas e aventais. E as cabinas dos caminhões são sempre higienizadas com álcool em gel antes e após a manutenção para devolvê-los aos motoristas completamente seguros e sem risco de contágio pelo Coronavírus.

Muitas revendas, como as da Scania, Mercedes e Volkswagen, estenderam por dois ou três meses o prazo da garantia dos veículos novos que terminaria em março e adotaram diversos procedimentos de segurança em sua rede de revendas para evitar a transmissão da doença.

Mas os caminhoneiros continuam enfrentando problemas sérios de falta de locais para fazer refeições nas estradas em função de, por decreto e medida sanitária, os restaurantes serem obrigados a trabalhar apenas com marmitas para entregas.  Poucos aderiram, a maioria simplesmente fechou as portas. Ações sociais e beneficentes para oferecimento de alimentos são isoladas (feitas por empresas que nada têm a ver com o transporte rodoviário de carga ou mesmo iniciativa privada, pessoas simples que se solidarizam com a situação dos motoristas e ficam na beira da estrada entregando as marmitas gratuitamente) e descoordenadas (os caminhoneiros não têm como saber onde acontecem essas ações e contam meramente com a sorte para encontrá-las pelas estradas).

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) se esforça para tentar organizar melhor essas ações isoladas e, desde o dia 28 de março passado, recebe doações de alimentos, marmitas, kits de higiene, entre outros itens em todas as suas unidades pelas estradas. Cada unidade se encarrega de fazer as entregas aos motoristas no sistema “passa, para e recebe”. Quando há algo para comer, eles estiram uma faixa informando.

O nome da campanha é “Siga em Frente, Caminhoneiro”, mas ainda falta divulgar mais claramente em que postos da PRF é possível encontrar essas doações. Além disso, mesmo quando há a ação, a quantidade é suficiente para suprir não mais do que 30 caminhões.

“Com poucos estabelecimentos funcionando durante a quarentena imposta pela prevenção à disseminação do Coronavírus, os motoristas de caminhão têm dificuldades em encontrar pontos de apoio para garantir as necessidades básicas de alimentação e higiene”, destaca nota oficial da PRF.

As ações que vêm funcionando bem são isoladas e, naturalmente, insuficientes. Uma adesão em massa de todas as revendas de caminhões seria mais efetiva. Por enquanto, a Scania oferece um kit lanche em sua rede de concessionárias apenas para quem for utilizar os serviços das revendas. O kit é composto por bolachas salgadas e doces, barra de cereais, água ou suco em caixinha.

As revendas Mercedes-Benz oferecem um kit lanche mais substancioso (dois sanduíches mais água e suco) e resolveu entregar a todo motorista que passar por sua rede de concessionárias. Segundo informações da empresa, “o caminhoneiro só precisa ir até uma revenda da marca e pegar seu lanche”. A Volvo, por sua vez, informou que colabora com a campanha do Sest Senat (serviço social do transporte) com doação de kits de higiene aos motoristas profissionais. Desde o final de março a entidade vem distribuindo lanches, itens de higiene e medindo temperatura dos motoristas em diversas blitze em postos de estradas.   

Todas as revendas de caminhões, de todas as marcas, estão atendendo e prestando serviços aos motoristas. Isso, sem dúvida, é muito importante. Mas seria interessante também, considerando que a quarentena vai se prolongar e os restaurantes seguirão fechados, que se iniciassem ações mais efetivas e coordenadas para ajudar os caminhoneiros de todo o Brasil a estarem não só com o caminhão em dia, mas também com o corpo em ordem e o estômago abastecido.