Por Filipe Amourous – engenheiro civil, presidente da Baroneza
É tudo basicamente uma questão energética. Transportar o mesmo peso de mercadoria sobre trilhos consome aproximadamente 10 vezes menos energia do que pelo asfalto. Depois temos outras vantagens. Por exemplo, a ecológica com menos poluição e também a que se relaciona com a segurança rodoviária, que é incrementada por cada caminhão que retiramos da estrada.
Então por que existem cada vez mais caminhões e menos trens transportando mercadorias? Entre muitos fatores, um de ordem prática parece se destacar. É que o caminhão pode pegar uma carga diretamente no seu ponto de origem e entregá-la diretamente ao consumidor final, quaisquer eles sejam, não importando onde nem o tipo de carga. Já no trem, não é bem assim. Não chega a todo lado, obriga a transbordo, não é prático nem rápido fazê-lo, e nem tudo ele pode transportar, requerendo-se vagões especiais para cada tipo de carga.
Resumindo, deixou de ser economicamente competitivo, especialmente, face ao enorme crescimento do transporte rodoviário, explorado muito mais dinamicamente pelo interesse das empresas privadas, que rapidamente entregam todo tipo de carga de, e para qualquer lugar, nem que para isso as estradas fiquem entupidas e o ambiente pague caro com toda a poluição gerada. E depois, temos a questão energética inicial, consumindo enormes quantidades de diesel. Ficamos todos reféns, incluindo as transportadoras, da variação do preço dos combustíveis nos mercados internacionais.
Mas e se houvesse uma solução capaz de juntar o melhor dos dois mundos? Ou seja, usar o comboio da origem até onde ele puder chegar, com todas suas vantagens associadas: menos consumo energético, maior rapidez, segurança, menos poluição etc., mas sem deixar de usar o caminhão, que é capaz de recolher no inicio e distribuir no final.
Pois essa solução existe e fala português. Chama-se Eco-pickers. Basicamente é um vagão capaz de pegar um caminhão e deixá-lo praticamente em qualquer local, sem qualquer mecanismo ou recurso especial. E ele é ainda o mais rápido do mundo a fazer isso. Consegue descarregar um caminhão inteiro de dentro de um vagão em menos de 30 segundos e um comboio inteiro, estima-se, em menos de 10 minutos.
A ideia deste tipo de transporte, caminhões sobre vagões, é tecnicamente designada de multimodalidade. Ela não é nova. O que existe até então, simplesmente tem se revelado pouco prática, complexa e cara. O motivo é simples: é muito difícil colocar um caminhão sobre o vagão.
Para essa tarefa, você tinha que ter uma das duas coisas, ou até as duas simultaneamente. Ou você tinha que ter um implemento rodoviário especial capaz de ser elevado por uma grua para dentro de um vagão, ou você tinha que ter um vagão especial, com equipamento caro, capaz de fazer isso ainda que complementado com local próprio para a manobra.
Também com equipamentos especiais e pessoal treinado para operar tudo isso. Assim, era solução cara, motivo que levou a não ter aceitação. Atualmente apenas alguns países a possuem, por exemplo os EUA, com enormes distâncias a serem percorridas e, mais recentemente a Europa, mais por questões ambientais.
O que o Eco-pickers é capaz de fazer é simplesmente acabar com todas essas limitações. Este vagão é tão simples como qualquer outro, carrega qualquer carreta, em qualquer local, e apenas com uma pessoa operando. Tudo sem custo adicional. O transportador tem o melhor dos dois mundos. Parece ser aquela solução multimodal que faltava e que todos procuravam. Um novo paradigma.
Com este vagão, as transportadoras podem continuar a usar os caminhões e manter todos seus clientes. A única coisa que irão fazer é, ao invés de colocar seus caminhões exclusivamente nas estradas, gastando combustível, pedágios, desgastando motores e pneus, colocá-los em um trem equipado com estes vagões Eco-pickers. O caminhoneiro pode seguir no mesmo trem dormindo e, sozinho, ter a responsabilidade por múltiplos caminhões. Depois, chegando à estação do seu destino, poderá retirar os veículos do trem e distribuir os caminhões para clientes finais com ajuda de motoristas locais.
Para o Brasil, as vantagens serão ainda maiores se avaliarmos o impacto de crescimento econômico gerado pela fabricação destes vagões, para além da demanda por mais e melhores estradas de ferro, maior investimento privado e mais geração de emprego, e depois por acréscimo, também para o ambiente, ninguém sai prejudicado e todos parecem ter muito a ganhar.
A reportagem completa você confere na edição 174 da revista TRANSPORTE MUNDIAL, ou disponível na banca virtual do UOL.