No início dos anos 1980, o ex-caminhoneiro Francisco Stedile, fundador da Agrale, estudava uma forma de colocar para rodar pelas colônias de Caxias do Sul e região, na Serra Gaúcha, uma carreta agrícola motorizada. Um veículo que fosse utilizado por agricultores e que, assim como os tratores de pequeno porte (já fabricados pela Agrale desde 1968), facilitasse suas vidas. Naquela época, a Agrale já produzia um motor próprio de dois cilindros a diesel, o M-790. Mas ainda não se pensava em caminhão.
Vários projetos foram criados sobre o protótipo inicial desenvolvido pela Lavrale, também uma empresa do Grupo Stedile, um deles aplicando o M-790 no chassi de uma velha Rural Aero Willis. A cabine rústica foi improvisada em latão, com um tapete de banheiro servindo de “grade” frontal. Mas a intenção era fazer algo mais apresentável, que se parecesse mesmo com uma carreta. A Agrale então encomendou projetos de cabines para três empresas, e o resultado de uma delas, a Hidroplás, de Botucatu (SP), surpreendeu a todos. O que era para ser uma carreta se transformou em um caminhão.
“Baseado nos motores diesel é que se iniciou o processo de aproveitamento da motorização, com mais aplicações do motor de dois cilindros. E com uma cabine mais sofisticada, a carreta se tornou de fato em um caminhão”, reforça Franco Stedile, um dos filhos de Francisco. “A cabine de fibra foi um diferencial, uma inovação, porque geralmente os protótipos eram feitos em chapa de aço. Quando a Hidroplás apresentou o projeto, perdeu-se o sentido da carreta agrícola, tinha-se um caminhão”, completa Flávio Poletti, ex-diretor Industrial e de engenharia da Agrale.
O próprio Francisco chegou a dizer naquela ocasião: “deve haver algum engano, pedi uma carreta agrícola para trabalho na colônia, e me apresentam um caminhão”. Apesar da reação, Francisco admitiu que havia ficado melhor do que a encomenda.
Passado o entusiasmo com o novo veículo, começaram os pré-cálculos de custo e benefício em tê-los no mercado, e em 1982 Francisco autorizou a fabricação do TX 1100, o primeiro caminhão da Agrale, o precursor da atual linha de veículos da fabricante brasileira, que já vendeu mais de 90 mil unidades. TX vem Tio Xico, uma homenagem mais do que justa ao visionário que sempre sonhou em fabricar um veículo automotor.
ADEQUAÇÃO AO MERCADO
O TX 1100 chamava a atenção pelo pequeno porte e pelo motor diesel de dois cilindros. O tamanho era ideal tanto para os trabalhos no campo quanto para driblar o trânsito urbano na entrega de mercadorias. Porém, o motor sofria de desgaste prematuro quando o caminhão era usado em condições severas, com excesso de peso e em distâncias muito longas.
De prancheta na mão, a equipe de engenheiros da Agrale refez cálculos e chegou à conclusão que o motor M-790 já estava obsoleto para aqueles fins. A alternativa foi recorrer a motores terceirizados. Um ano depois, o TX ganhou mais potência ao ser equipado com um motor GM de 4 cilindros a álcool, e ganhou a denominação TX 1200.
MAIOR MOTOR, MAIORES DEMANDAS
Atenta às necessidades de seus clientes e às exigências de mercado, a Agrale lançou, em 1983, o TX 1600, com motor MWM diesel de três cilindros. Muito dessa transformação se deu graças às alterações no IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados), que fizeram com que os veículos com capacidade de carga para até 1,5 t fossem taxados em 25% do seu preço, enquanto os de maior capacidade passaram a ter taxação bem menor, de 5%.
A partir de então, padronizou-se a motorização e as capacidades de peso dos caminhões Agrale, e as cabines foram ganhando novos desenhos, os chassis foram sendo reforçados e o sistema de freio totalmente reformulado. Os TX ganhavam força, e as vendas também. A Agrale, com o TX, passava a integrar definitivamente o mercado automotivo brasileiro, com um veículo diferenciado, de fácil manutenção e de muita utilidade. Tio Xico realizava mais um de seus sonhos, na verdade um sonho mais sofisticado do que aquele da carreta agrícola.