Especial motores pré-P7 (parte 1)

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Em 2012, ano em que passou a vigorar as normas Proconve P7, a edição 103 da revista trouxe um especial sobre os motores utilizados nas principais marcas do Brasil. Confira reportagem da época e descubra o que mudou nos propulsores na série Baú da TRANSPORTE MUNDIAL.  


A boa fase do mercado de caminhões no Brasil está atraindo diversas novas marcas para o país, muitas com projeto até de construir fábricas por aqui. Por enquanto três marcas da China já apresentaram seus produtos, mas todas as fabricantes se concentram na modernização de seus propulsores para se adequarem às novas exigências do Proconve P7 (Euro 5).


A partir de janeiro de 2012, todos os caminhões terão de sair de fábrica com novos motores que permitem redução de emissão de poluentes na atmosfera. Norma do CONAMA (Conselho Nacional de Meio Ambiente), através do Proconve P7 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), exige que a oferta de combustível apresente teor reduzido de enxofre para veículos pesados e total adequação aos padrões estabelecidos pela Euro 5, que limita o impacto ambiental negativo dos veículos rodoviários no ambiente e na saúde.

A nova legislação impõe redução de 60% de óxido de nitrogênio (NOx) e de 80% das emissões de material particulado (MP) em relação à fase atual P5, equivalente à Euro 3, válida apenas para os caminhões produzidos até dezembro de 2011. Se comparada com o início do Proconve, em 1986, a redução de material particulado da nova fase é de 96,3% e a de NOx, de 87,3%.

TECNOLOGIA
Para se adequar às novas exigências do Proconve P7, as fabricantes tiveram de modernizar sua linha de propulsores utilizando duas opções de tecnologia. Uma delas, batizada de EGR (Exhaust Gas Recirculation), utiliza a recirculação dos gases do escapamento, fazendo com que retornem à admissão e consequentemente reduzam a temperatura da combustão e eliminem o óxido de nitrogênio (NOx). Essa tecnologia exige dispositivos de turboalimentação mais complexos e filtro de partículas no sistema de escape.

A segunda tecnologia, chamada de SCR (Selective Catalityc Reduction), utiliza, como diz o nome, os recursos de redução catalítica seletiva. Um reagente líquido (o Arla 32) é pulverizado no gás de escapamento, ocorrendo uma reação química no catalisador que praticamente neutraliza a geração de NOx. O segundo maior poluente, o MP (material particulado), é reduzido no próprio motor, durante a combustão.

As duas tecnologias são consideradas adequadas aos objetivos de redução de poluentes propostos pelas normas do Proconve P7, mas dependem da aplicação do veículo. Portanto, algumas fabricantes optaram em utilizar SCR em seus motores, indicado para veículos maiores, enquanto outras preferiram incorporar a EGR em seus novos propulsores para equipar veículos leves ou médios. Ou seja, cada fabricante selecionou a mais adequada para seus produtos e definiu sua estratégia levando em conta, principalmente, os custos e as condições operacionais de seus veículos.

INOVAÇÃO
Atualmente, o diesel comercializado nos grandes centros e principais eixos rodoviários é o S500, de 500 partes por milhão de enxofre, e, pior ainda, no interior do país é utilizado o diesel S1 800, que contém 1 800 partes por milhão de enxofre.

Para atender aos novos limites de emissão, os motores da nova geração terão que utilizar um diesel com menor teor de enxofre, inicialmente, a partir de 2012, o S50 (50 partes por milhão), e, posteriormente, a partir de 2013, o S10. Além disso, os veículos equipados com motores que utilizam a tecnologia SCR terão que utilizar um reagente químico chamado ARLA 32, à base de ureia, específico para aplicação veicular, que será injetado no escapamento por um sistema de dosagem.

O ARLA 32 será consumido em porcentagens muito menores do que o diesel – cerca de 5%, ou o equivalente a quatro ou cinco tanques de diesel –, mas não poderá utilizar o mesmo tanque. Ou seja, todos os caminhões equipados com motores que utilizam tecnologia SCR terão que ter dois tanques separados, um para o diesel e outro para o ARLA.

CUMMINS
A Cummins foi fundada em 1919 por Clessie Cummins e W.G. Irwin, numa pequena fábrica em Columbus, Indiana (EUA), com o objetivo de produzir motores movidos a diesel para caminhões e ônibus, que seriam mais econômicos e resistentes que os motores a gasolina disponíveis na época. 


A empresa começou a espalhar-se pelo mundo, instalando 80 fábricas de motores diesel e gás, geradores e componentes e 5 000 pontos de serviços em 197 países. A subsidiária brasileira foi constituída legalmente em 1971, sob a razão social de “Cummins Brasil”. Atualmente, a Cummins Brasil é a maior fabricante independente de motores diesel e toda a sua gama de produtos e soluções é desenvolvida e testada para atender às normas Proconve P7 (equivalentes a Euro 5), e equipa caminhões das marcas Ford, Agrale, Foton e Shacman.

AGRALE
Com quase 50 anos de tradição, a Agrale é a única empresa de capital 100% nacional que atua na produção de veículos, tratores e motores a diesel. A Agrale faz parte do Grupo Francisco Stedile, que, além da Agrale e suas subsidiárias (Agrale Montadora, Agrale Argentina, Agrale Comercial e Lintec), engloba ainda Agritech Lavrale, Germani Alimentos, Germani Cereais, Fundituba e Fazenda Três Rios.


Fundada em 1962 com o nome de Indústria Gaúcha de Implementos Agrícolas S.A. – Agrisa – tinha o objetivo inicial de produzir apenas micro-tratores de duas rodas. A partir de 1965 a empresa inicia efetivamente suas atividades como grande fabricante de veículos, transferindo sua sede para a cidade de Caxias do Sul e alterando sua denominação oficial para Agrale. Hoje a Agrale atua em diversos setores, produzindo caminhões, chassis de ônibus, motocicletas, tratores, jipes e implementos agrícolas.

SCANIA
A Scania iniciou suas atividades no Brasil em 1957, no bairro do Ipiranga, em São Paulo (SP). Em 1958, montou o primeiro caminhão nacional, modelo L 75, com 35% de peças nacionais. Em 1959, a empresa inaugurou sua fábrica de motores, também no Ipiranga, em São Paulo, e a partir de 1960 passa a construir integralmente caminhões e ônibus, além de produzir motores marítimos.


Ao completar 50 anos de atividades no país, em 2007, a Scania lança a série especial Silver Line e os modernos caminhões das séries P, G e R, com os mais avançados recursos tecnológicos. Para 2012 a linha de caminhões Scania incorpora uma plataforma totalmente nova de motores, visando atender às normas de controle de emissões de poluentes exigidas pelo Proconve P7, ou Euro 5, utilizando propulsores de 9 e 13 litros, substituindo os atuais Euro 3 de 9, 11 e 12 litros.

O aumento da capacidade volumétrica proporcionou um ganho de 5% na potência e de 9% no torque nos novos motores, com redução de cerca de 7% no consumo de combustível. Além disso, a Scania apresenta em 2012 a linha de motores V8, com potências de 560 cv e 620 cv, e o exclusivo caminhão com motor a etanol.

FORD
Há mais de 50 anos no mercado brasileiro, a Ford Caminhões oferece atualmente 21 modelos e mais de 400 configurações diferentes, entre leves, semileves e pesados. Em 1957, foi responsável pelo lançamento do primeiro caminhão brasileiro – um Ford F-600, com motor V8 de 4,5 litros a gasolina, e 167 cv de potência – e também da primeira picape brasileira – uma F-100. No ano seguinte, em 1958, produziu o primeiro caminhão com motor 100% nacional, a gasolina – o médio F-350, com motor V8 Power King, mantido em linha até 1977.


Em 2005, lançou a primeira fase da linha Cargo com os novos motores eletrônicos. As inovações migraram também para os veículos da pioneira Linha F. O F-350, o F-350 cabine dupla e o tradicional F-4000 também receberam motores modernos, cumprindo as normas do Proconve. No início de 2006 toda a linha Cargo, desde o mais leve Cargo 815e até o pesado Cargo 4432e Maxton, havia recebido os novos motores eletrônicos Cummins. Em 2007, a linha Cargo cresceu nas duas pontas: com o lançamento do Cargo 712, o mais leve da linha Cargo, e o pesado Cargo 4532e.

Em 2011, a Ford trouxe ao mercado sul-americano a linha Novo Cargo 2012, com 11 modelos, dentre os quais cinco têm a opção de cabine-leito. São caminhões na faixa de 13 a 31 toneladas de PBT (Peso Bruto Total), e com CMT (Capacidade Máxima de Tração) de até 63 toneladas, versáteis, equipados com os mais modernos equipamentos e montados dentro do conceito Kinect de design Ford.

FOTON
A Foton Motor Group é a primeira fabricante de veículos comerciais da China e maior produtora de caminhões no mundo. Fundada em 28 de agosto de 1996, no distrito de Changping, Pequim, a empresa conta com mais de 26 000 funcionários em sua matriz e mais de 80 000 nas demais fábricas.


Em 2010, a Foton Motor Group bateu o recorde de produção e venda anual de 1 milhão de veículos (dentro e fora da China). Na América do Sul, o grupo já conta com operações em países como Colômbia, Peru, Bolívia e Chile.
A Foton Aumark do Brasil fez seu lançamento na Fenatran 2011. Empresa independente e de capital 100% nacional, é a importadora oficial, da China, e distribuidora no Brasil dos caminhões da marca. Ela também responde pelo fornecimento das autopeças e pelos serviços de pós-vendas, incluindo revisões e manutenções oferecidas durante e fora do processo de garantia dos produtos. Inicialmente a Foton do Brasil comercializará três modelos da linha Aumark –um semileve, com 3,5 toneladas, e dois leves, com 6,5 e 8,5 toneladas.

Os veículos são oferecidos completos dentro destas categorias no mercado nacional, e contam com freios ABS, direção e embreagem hidráulicas, ar-condicionado e rádio com saída AUX de série. Os três modelos são equipados com motores Cummins ISF. A empresa prevê a comercialização de 2 000 veículos em 2012 e conquistar 15% do mercado até 2015. Para atingir esses objetivos, a Foton Aumark do Brasil planeja construir fábrica no Brasil em 2014.

MWM INTERNATIONAL
A MWM International conta com uma vasta linha de motores de alta tecnologia – de 2,5 a 13 litros e de 50 cv a 428 cv de potência – que cumprem as mais rígidas normas de emissões de poluentes. 


A companhia possui três unidades industriais instaladas no Mercosul: Santo Amaro (SP), Canoas (RS) e Jesus Maria (Argentina), e conta com 4 000 colaboradores. Além disso, mantém um Centro de Criação e Desenvolvimento de Motores no Brasil, localizado em São Paulo, com 315 colaboradores que atuam na engenharia brasileira e respondem pelas plataformas de motores desenvolvidos no País, utilizando ferramentas modernas de simulação no desenvolvimento virtual de motores.

A MWM International é líder na produção de motores diesel no Mercosul com 30% de participação. Em 2011, do total de motores que serão produzidos, 40 000 serão aplicados em caminhões. Para 2012, a estimativa é de que o fornecimento nesta categoria aumente em 10%. Em 2010 foram exportados 31 000 propulsores, para 2011 a expectativa é de 34 000 unidades. Com isso, a empresa exporta tecnologia para países como México, Turquia, Coreia do Sul e Estados Unidos, e conta com o reconhecimento do Grupo Navistar, ao qual a MWM International é afiliada. A Navistar considera a área de desenvolvimento no Brasil um centro de competência técnica internacional.