Da Polônia para o Brasil

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Os trólebus da marca rodam até 3 km, sem o uso da rede de energia

Os trólebus da marca rodam até 3 km, sem o uso da rede de energia

Grande extensão territorial, concentração urbana, baixo índice de motorização individual e alta dependência de transporte de passageiros e de carga. Todas essas características fazem do Brasil um mercado interessante para as empresas que fornecem tecnologia para mobilidade urbana e de longa distância. Isso tem despertado a atenção de muitas empresas, inclusive as polonesas. Para conhecer o grau de avança das empresas da Polônia é que a TRANSPORTE MUNDIAL foi convidada pelo escritório comercial do governo polonês para conhecer duas empresas que estão desenvolvendo negócios no Brasil, de onde já vêm 9% do faturamento dela. 

A Medcom é uma empresa em sintonia com a demanda atual por mobilidade sustentável. Ele é referência na Europa no desenvolvimento de equipamentos eletrônicos de gerenciamento de energia e potência para tração de ônibus, trólebus, metrô, VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) e trens. No Brasil, a empresa, com sede em Varsóvia, já participa do consórcio MTTrens, que está fazendo a renovação de 25 trens do metrô da cidade de São Paulo. 

Outra tecnologia desenvolvida pela Medcom é a de recuperação de energia nas frenagens — que ficou bastante conhecida após ser utilizada na Fórmula 1 — conjugando modernas baterias de armazenamento. Com esse sistema, a empresa desenvolve o sistema de tração do trólebus fabricado pela Solaris, outra empresa polonesa. Esse trólebus pode rodar até três quilômetros sem estar conectado aos cabos de energia elétrica. Isso possibilita que, além da continuidade da viagem, caso haja algum problema, a transferência para outras vias caso não exista rede entre elas. Mas o orgulho da aplicação dessa tecnologia em conjunto com Siemens é estar no Guiness Book com o desenvolvimento de uma locomotiva elétrica que rodou 25 km na Califórnia, EUA, sem necessidade de estar ligada à energia elétrica externa. Os trens novos do metrô de São Paulo já vão contar com esta tecnologia de regeneração de energia.

A Medcom garante que os equipamentos funcionam 500 mil horas sem uma falha, mas no histórico da empresa, a média de falha é a cada 62 anos. 

Pesa Bydgoszcz

A segunda empresa visitada é Pesa Bydgoszcz, que é a maior companhia da Polônia e a maior fabricante de trens da Europa Central, e estuda há quatro anos meios de abrir uma linha de montagem no Brasil. Este ano já vai abrir um escritório em São Paulo. A Pesa já participa de licitações aqui para o fornecimento de VLT e trens de metrô e vê grande potencial para o fornecimento de locomotivas para o transporte de cargas. 

No Brasil, 100% das locomotivas, além de muito velhas e com idade média de 60 anos, são movidas a diesel e altamente dispendiosas, o que torna o transporte ferroviário de carga pouco competitivo. Uma das inovações que a Pesa pode trazer para o Brasil são as locomotivas híbridas (com motores elétricos). 
Inicialmente, a empresa está mais interessada em fornecer VLT e metrô.

Além da qualidade reconhecida por países como Alemanha, Itália entre outros europeus, a Pesa aposta no design dos seus veículos como algo importante na composição da paisagem das cidades. Segundo o vice-presidente da companhia, Piotr Szarafinski, a maior dificuldade encontrada para entrar no Brasil é a complexidade da legislação e os impostos. “Um projeto feito para o Estado de São Paulo não vale para outro Estado, porque a legislação é outra”, comenta. Com relação à concorrência dos chineses, Piotr diz não temer: “Se a licitação estabelecer um bom padrão de qualidade, a China perde porque não consegue fazer o veículo barato. Se na licitação tiver abertura para o fornecimento do produto com baixa qualidade, os chineses são imbatíveis em preço”. E acrescentou: “O mercado brasileiro precisa ter mais competidores para baixar o preço. Na Polônia, a Alstom vendia o VLT por 4 milhões de euros. Depois que o mercado ficou mais competitivo, o preço caiu pela metade. 

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).