Sem refletir, podemos dizer que não é possível comparar o Brasil com a China. Portanto, este artigo não tem a finalidade de fazer uma comparação simplista, mas para mostrar dados que, mesmo considerando a proporcionalidade populacional, o Brasil está muito devagar e atrasado no desenvolvimento de veículos movidos por fontes limpas. Os dados da China são da consultoria Interact Analys. Os números do Brasil são da Carta da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) registrados pelo Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), portanto, inclui os caminhões e ônibus importados. Os números para a comparação são baseados nos registros de emplacamentos de julho de 2022.  

Na China, o mercado de ônibus e caminhões de nova energia manteve seu ritmo de crescimento altamente impressionante em 2022, com novos registros totalizando 16.793 unidades em julho. Isso equivale a um aumento anual de 92%. No mesmo mês, 63 unidades entre caminhões e ônibus foram emplacadas no Brasil. Portanto, o mercado de veículos comerciais elétricos brasileiros representa 0,38% do chinês. Já a nossa população é equivalente a 15% da chinesa. Assim, pela proporcionalidade, se fossemos tão eficientes quanto os chineses, teríamos vendido 2.519 unidades entre caminhões e ônibus em julho de 2022. 

Crescimento entre 2021 e 2022

Segundo a Interact Analys, as vendas de caminhões e ônibus elétricos subiram 63% na China já sobre uma base alta em julho de 2021, 10.247 veículos comerciais. Percentualmente, o Brasil tem um crescimento muito mais alto, 350%, porém, sobre uma base inexpressiva, 14 unidades. 

Obviamente, há diversas razões para a China crescer e o Brasil andar em passos de tartaruga, sendo a nossa burocracia, principalmente, a tributária, a principal razão. Já na China, os números de vendas não foram maiores por motivos diferentes, não por falta de compradores. Lá na Ásia, o primeiro motivo foi o atraso na entrega das unidades durante a pandemia do COVID. Quando as restrições foram encerradas, o mercado experimentou um aumento no número de caminhões e ônibus entregues em junho e julho. 

Apoio governamental

Além disso, tem havido muito esforço na promoção de novos veículos elétricos, apesar da retirada gradual dos subsídios financeiros do governo central na China. Em particular, ainda existem muitas políticas de subsídios dos governos locais, e não há sinal de que elas terminarão tão cedo. Um destino importante para esse financiamento são os veículos com células de combustível de hidrogênio, e demonstrações de veículos com células de combustível estão sendo lançadas em muitas províncias e municípios. Só em julho, as matrículas de ônibus e caminhões movidos a célula a combustível dispararam para 584 unidades: o que representa um crescimento de 395%, fazendo com que 2022 seja um ano recorde de vendas de veículos comerciais movidos a célula a combustível. As vendas de ônibus a célula a combustível foram responsáveis ​​por 228 dessas 584 unidades, o que significa que as vendas de ônibus a célula a combustível aumentaram quase 45 vezes em relação ao ano anterior.

E no Brasil?

Não há política concreta para mobilidade sustentável, apesar do potencial do Brasil para ser líder em energia renováveis. O que existe de concreto nasceu na iniciativa privada, como no caso da Raízen, que faz altos investimentos em produção de etanol e biogás. Na produção caminhão, há uma grande iniciativa da Scania para produção de caminhões a gás, um ensaio inicial da Iveco. Em termos de veículos comerciais, são poucas marcas que lançaram produtos, como a BYD, Volkswagen Caminhões e a Stellantis com suas marcas Peugeot, Citroën e Fiat.

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).