À espera de melhorias na infraestrutura viária e de uma maior conscientização dos embarcadores para impactar menos no custo do frete, os empresários do setor de transporte de cargas de Minas Gerais também não andam nada otimistas, a exemplo de outros segmentos da economia do Brasil. Basta ouvir Sérgio Pedrosa, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg), que acumula a vice-presidência da Federação das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), as principais entidades do setor no Estado que tem a maior malha viária de rodovias federais do país.
Durante o processo eleitoral houve algum tipo de promessa ou expectativa positiva dada pela presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e pelo governador de Minas, Fernando Pimentel?
Sérgio Pedrosa • Temos a esperança de que obras como a duplicação da BR 381, que liga Belo Horizonte ao Vale do Aço, a revitalização do Anel Rodoviário de Belo Horizonte e a construção do Rodoanel se tornem realidade.
O que há de positivo no segmento, ou seja, por que vale a pena ser transportador de cargas no Brasil?
Sérgio • Na verdade, as empresas de transporte são, em sua maioria, de origem familiar. Normalmente, o fundador começou com um caminhão e cresceu. Então, na minha visão, o setor não é atrativo, mas, por tradição, as empresas vão evoluindo. Ser empresário de transportes no Brasil envolve muitos riscos financeiros e de estabilidade na relação com os clientes, riscos de acidentes e insegurança jurídica. Além disso, a rentabilidade é baixa, e o segmento é de capital intensivo, que sempre exige do empresário continuar investindo e os valores são muito altos. Por tudo isso, vejo, hoje, poucos empresários animados em continuar investindo.
Qual é o perfil dos filiados do Setcemg?
Sérgio • O Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do Estado de Minas Gerais (Setcemg) tem apenas empresas no Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) como filiadas. São cerca de 160 associadas que transportam em todos os segmentos da economia.
E qual é o perfil da frota de caminhões de carga em Minas Gerais?
Sérgio • Entre nossos associados, a média de idade é de três anos. Geralmente a frota de transportadores autônomos tem uma média muito mais alta, chegando a passar dos 20 anos.
Quais são os principais desafios para o segmento em Minas e no Brasil?
Sérgio • Acredito que o maior desafio atual é o da infraestrutura. Precisamos de estradas melhores, e os investimentos que estão sendo feitos pelo governo nesse sentido estão muito lentos e descolados da necessidade atual. Cada vez mais veículos nas ruas e a mobilidade urbana geram um custo enorme para a sociedade. Outro desafio é a conscientização dos embarcadores com relação à Lei 12 619. Os embarcadores têm que investir em inteligência logística e em seus processos industriais para reduzir tempos de carga e descarga. Caso contrário, o custo do frete vai se tornar cada vez mais elevado.
Quais são os principais entraves para o desenvolvimento do transporte de carga?
Sérgio • O maior entrave hoje é a insegurança jurídica, principalmente com relação à questões trabalhistas e cíveis. Eu diria que ser empresário no Brasil é uma grande aventura.
O que o Setcemg tem feito com relação a temas como segurança e meio ambiente?
Sérgio • Temos uma política de conscientização com relação às questões de segurança muito forte. Concentramos nossas ações especialmente em treinamentos que acontecem periodicamente, tanto para motoristas quanto para gestores das transportadoras, e apoiamos ações do Sest/Senat para capacitação. Realizamos uma ação especial, o “Novembro Seguro”, com treinamentos especiais, um café-palestra e um seminário, além de outras ações em conjunto com a Comissão P2R2, uma comissão estadual formada por várias instituições públicas e privadas.
Qual é o objetivo dessa comissão?
Sérgio • É a prevenção e a resposta rápida a acidentes envolvendo produtos perigosos. Em termos de meio ambiente, temos um departamento que nos assessora exclusivamente nessa questão. Promovemos e apoiamos projetos inovadores pró-meio ambiente junto às transportadoras, além de seminários e treinamentos também. Com o incentivo do sindicato, é crescente entre as transportadoras o investimento em capacitação, monitoramento e na adoção de modelos de gestão formatados a partir de normas internacionais, como o ISO 14 001/2004 e Sasmaq.
Como é o programa Despoluir, também voltado para a área de meio ambiente?
Sérgio • É uma iniciativa que tem feito a diferença na qualidade do ar. É um programa desenvolvido pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), em parceria com 20 federações de transportes nos Estados. Por meio do Despoluir é incentivada a manutenção dos veículos e a menor emissão de poluentes. Outro projeto foi o realizado pela Fetcemg junto ao Setcemg, Gasmig, BHTrans, UFMG, a Patrus Transportes e a montadora Iveco, que testou o desempenho de uma van movida a gás natural veicular (GNV). Os dados obtidos no período de teste apontaram a redução de emissão de fumaça preta, rica em CO2, monóxido de carbono e óxidos de nitrogênio, por quilômetro rodado. Foi registrada também uma significativa redução da poluição sonora, com queda de 10 decibéis (dB) em relação ao motor a diesel, além de ganhos em desempenho e economia de custo do setor produtivo. Agora os signatários do projeto buscam incentivos fiscais para a comercialização e a operação do veículo na atividade de transporte de carga.