A VWCO (Volkswagen Caminhões e Ônibus) teve motivos de sobra para reunir a imprensa no final deste 2022. Ela encerra o ano com boas notícias: mais um ano de liderança no mercado, o desenvolvimento do e-Delivery de 17 toneladas e a ampliação da internacionalização para o restante dos países do Hemisfério Sul Ocidental e Oriental. Explicaremos cada tópico, pois a notícia sozinha, sem uma contextualização, não explica a importância de cada conquista.

Liderança desenhada a partir de 1981

A VWCO, mesmo sendo uma empresa de acionistas europeus, entre outros, e controlada pelo Grupo Traton, que tem a Volkswagen AG como maior acionista, é uma empresa que nasceu no Brasil, e continua sendo uma empresa de “espírito” brasileiro. Se considerarmos o ditado que “quem come quieto, come duas vezes”, poderíamos dizer que a VWCO é uma empresa mineira. Mas não, ela é paulista e foi ganhando sotaques no Brasil e em mais de 30 países no mundo. 

Vamos fazer uma viagem ao primeiro ano de vendas da VWCO, em 1981. Foram 1.344 caminhões comercializados. Em 2021, para considerar um ano completo, foram 37.462 caminhões mais 3.545 VW Express, considerado comercial leve. Para efeito de comparação com o maior e principal concorrente, a Mercedes-Benz, vamos considerar apenas os caminhões. Em 1981, a marca da estrela comercializou 28.183 veículos pesados, cerca de 95% mais que a entrante. 

Em 1981, as vendas totais de caminhões foram de 55.981, portanto a Mercedes-Benz tinha 50,3% do mercado, e a VWCO, 2,4%. E em 2021. As vendas totais foram de 122.824 caminhões, sendo a VWCO a líder com 37.462, market share de 30,5%, e a Mercedes-Benz emplacou 33.080 unidades, participação de 26,9%. 

Este ano, até os dados de emplacamentos de outubro, a VWCO segue na liderança com uma diferença impossível de ser tirada. São 29.229 caminhões emplacados, uma participação 28,1% do total de 103.958 unidades licenciadas. A Mercedes-Benz, no mesmo período, teve 24.873 caminhões certificados pelo Denatran, representando um market share de 23,9%. 

A competição entre os fabricantes favorece os transportadores. A disputa de mercado entre VWCO e Mercedes-Benz tem particulares empolgantes, pelo tanto que a VW ajudou a Mercedes-Benz ser mais humilde com os clientes nos anos 1990 e 2000, partindo para uma postura de aproximação dos clientes, por isso, o slogan “Vozes das Estradas”. 

VW e-Delivery de 17 toneladas

Entra em testes nas próximas semanas o maior caminhão elétrico 100% desenvolvido no Brasil. Pioneira em desenvolvimento de caminhão elétrico no Brasil, ela vai expandir seu portfólio com o e-Delivery 17 toneladas, modelo que serve como uma luva para as fabricantes de bebidas, que poderão substituir o veículo de emissão zero local pelos modelos movidos a diesel mais comprados por ela, o VW Constellation 17.190 e o Mercedes-Benz Atego 1719. Óbvio que será uma substituição gradual e até um limite de aporte de investimento e linhas de financiamento do BNDES. 

O modelo e-Delivery 17 vai circular pelas ruas de São Paulo, com capacidade para transportar 17,3 toneladas total (a soma do peso do caminhão, das baterias, do implemento e da carga), cerca de 3 toneladas de carga a mais que o modelo de e-Delivery 14 (14,5 toneladas). Para se ter uma ideia, o e-Delivery 14, com 6 baterias para maior autonomia, pesa 5.770 kg em peso em ordem de marcha. Um implemento para bebidas pesa cerca de 1.500 kg, variando conforme o tipo de material e de portas. Um motorista e dois ajudantes pesam, se dentro da média, cerca de 260 kg. Portanto, para carga útil fica a capacidade de 6.970 kg. Considerando que o modelo 17 toneladas será mais pesado e, da mesma forma o implemento, haverá um ganho real em torno de 2.500 kg de capacidade, uma capacidade maior bastante significativa.

“Essa é mais uma variante da família e-Delivery. Nosso time concebeu uma arquitetura flexível que imprime velocidade para a construção de novos modelos, facilitando a adaptação e seguindo um novo conceito para veículos elétricos. Essa solução é única e exclusiva no mundo, tendo nos permitido desenvolver três modelos de caminhões elétricos num intervalo recorde”, destaca Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus.

Embora seja o maior caminhão e-Delivery da família, o modelo mantém as dimensões para operar em zonas de restrição de circulação, como veículo urbano de carga (VUC), e traz eixo dianteiro com maior capacidade de carga, chassi e suspensão reforçados, configuração 6×2, plataforma de carga mais baixa facilitando a operação de carga e descarga, suspensão a ar integral para maior conforto e rodado duplo em ambos os eixos traseiros.

O veículo traz também uma nova configuração de baterias: quatro packs ou seis packs, atingindo uma autonomia de até 180 quilômetros. O veículo já iniciou testes em operação real neste mês de dezembro, visando avaliar sua aplicação real com clientes. Esse protótipo chega para atender operações que demandem alta densidade de carga em veículos compactos urbanos e também a distribuição de bebidas com até oito pallets.

O e-Delivery 17 toneladas carrega em si toda a inteligência embarcada que já é característica da família de elétricos da VWCO, com sistemas para a maior eficiência energética e também máxima segurança a bordo. Também se beneficia do conforto da cabine Delivery e do baixíssimo nível de ruído, tanto dentro quanto fora do veículo.

“Nossos grandes diferenciais em eletromobilidade são o rigor com que nossos produtos são testados e desenvolvidos, os serviços que agregamos para facilitar sua operação, uma rede de concessionários treinada e peças disponíveis para o pós-vendas em todos os mercados em que atuamos”, afirma Roberto Cortes.

Do Brasil para o mundo… para a metade que tem futuro

Por produzir caminhões para as características das estradas e economia brasileira, a VWCO se capacitou para exportar para muitos países com características similares e, logicamente, fazendo adaptações necessárias em razões de diferenças da qualidade do combustível, altitude, temperatura, legislação e de cultura. No entanto, após a criação do Grupo TRATON, a missão de cada marca ficou bastante clara: MAN (mercado europeu), Scania (segmentos premium em todos os mercados possíveis), International (norte-americano) e VWCO (Brasil e mercados com características similares). 

Com isso, a VWCO ganhou bandeira branca e apoio dos acionistas para expandir além dos mercados que já estava, como os países da América do Sul, Central e México, além de um ou outro da África. Agora, a empresa quer ampliar ainda mais a sua presença internacional. A partir de 2023, reforçará a participação em quatro continentes, abrindo escritórios regionais e buscando mais oportunidades de negócios tanto no Brasil quanto no exterior. O anúncio foi feito dia (1º de dezembro) pelo presidente e CEO Roberto Cortes.

Com a abertura de representações cuidando dos interesses da marca na América do Sul, México e América Central, África e Oriente Médio, bem como no Sudeste Asiático, a montadora quer prospectar e consolidar sua presença em novos mercados, além de buscar a liderança em países nos quais já atua. A primeira etapa será seguir fortalecendo a marca na Argentina, onde completará 25 anos em 2023.

“Após mais de quatro décadas levando produtos robustos e sob medida a mais de 30 países, decidimos dar mais um passo firme rumo à globalização da marca VWCO. Além de continuar contando com nossa forte e profissional rede com mais de 300 concessionários e importadores autorizados, planejamos criar uma estrutura regional própria, que garantirá ao cliente final ainda mais proximidade em nossa oferta de produtos, vendas e serviços. Começaremos esse trabalho já na América do Sul, mirando o potencial que enxergamos na vizinha Argentina,” explica Roberto Cortes.

Com fábricas no Brasil e no México, além de parcerias de produção na África do Sul e nas Filipinas, desde maio passado a razão social da empresa passou a ser Volkswagen Truck & Bus. A alteração veio para reforçar sua identidade como marca do Grupo TRATON de produtos especialmente concebidos para mercados emergentes em todo o mundo.

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).