Onde financiar?

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Planta industrial da Iveco

Planta industrial da Iveco

Como já sabemos, a economia brasileira não vai bem. O governo rapidamente recorreu ao aumento de impostos e cortes de investimentos, as tais ‘medidas impopulares’, mas necessárias, segundo ele próprio, para que ajustes sejam concretizados e a economia volte a crescer. Prova disso, são as mudanças nas regras do Finame.

Em 2014, o programa financiava até 100% dos veículos a serem adquiridos, a taxas de 6% ao ano. Com a economia brasileira fragilizada, todas as áreas sofrem cortes em seu orçamento. Portanto, os subsídios usados para comprar caminhões novos em 2015 serão menores.

Primeiramente, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou, em 2014, que este ano ia exigir uma entrada que iria de 30% a 50% do valor do modelo, e somente financiaria 50% do valor total dos veículos para as grandes empresas e 70% para as pequenas, médias e autônomos. Os juros também mudaram. Eram de 6% no ano passado e subiram para 9% para o caminhoneiro autônomo, 9,5% para a pequena e média empresa e 10% para as grandes.

Com as queixas das montadoras, a instituição recuou e admitiu financiar de 70% a 90% do valor total. Porém, mais uma vez, o grande empresário vai ser o maior beneficiado. Em recente comunicado, o BNDES fixou as taxas anuais cobradas, são elas 17,24% para caminhoneiros e pequenas e médias empresas e 15,74% para as grandes.
Com as mudanças nas regras e toda a dificuldade econômica do país, as marcas vão precisar inovar e se mexer ainda mais para driblá-las e continuar a vender. Confira o que cada marca tem a dizer sobre o tema:

DAF

A DAF, através de Jorge Medina, diretor de marketing,
diz que está atenta à movimentação do mercado e lançou diversas medidas para manter as vendas em alta. A mais importante delas é uma estrutura de financiamento com taxa 0,4 ao mês em até 60 vezes. A parceria acontece com bancos comerciais. “Hoje temos um excelente relacionamento com alguns bancos no Brasil. Eles têm apoiado o nosso programa de financiamento e essa parceria se mostrou excelente, pois tem apoiado a demanda dos nossos clientes. Porém, Jorge diz que a meta de longo prazo da marca é abrir um banco próprio no país, como já é feito em mercados onde a marca está presente há mais tempo”, completa Jorge.

Ford
  
Em contato com a Ford, a empresa divulgou que teve de se adequar rapidamente às novas regras do Finame 2015. Uma das medidas anunciadas foi um plano de financiamento com taxa de 0,76% a.m. Neste modelo, o cliente deve pagar 10% de entrada em um plano de 72 parcelas, tudo com carência de seis meses. A marca manteve o modelo de financiamento em fevereiro. Outra linha de financiamento proposta é a de 0% de entrada no Finame e taxas fixas. A série F possui uma taxa que parte de 0,64% a.m. Neste plano, o cliente desembolsa 50% de entrada, que podem ser parceladas em 12 vezes. A marca acredita que cada concorrente vai seguir com uma estratégia própria e se diz preparada para atender às demandas dos clientes.

A Ford afirma que ainda é cedo para avaliar esse novo cenário, e que o fluxo de vendas deve ser menor no início deste ano. A marca espera ainda que a indústria de caminhões, ao menos, se aproxime dos números registrados em 2014. Recentemente a Ford anunciou também a expansão do chamado Plano Sazonal, que antes era oferecido apenas a produtores rurais, e agora está disponível a todos os clientes que quiserem adquirir a Ranger a diesel. Nesse caso, o interessado terá de dar entrada de 54% do valor total do veículo, e poderá financiar o modelo com taxa anual de 6% e pagamentos semestrais durante o período de três anos.

International

Entrevistamos o presidente da International, Guilherme Ebeling, para saber diretamente dele, como a marca vai lidar com as questões do Finame e se movimentar nesse novo cenário.

TRANSPORTE MUNDIAL • Como a International vai driblar o novo Finame e ser competitiva?

Guilherme Ebeling • A empresa está sempre atenta às necessidades do mercado. As novas taxas e regras do Finame trouxeram, sem dúvida, uma dificuldade a mais para as vendas de todas as montadoras, de tal forma que alternativas a essa modalidade de financiamento passaram a se tornar também atrativas como, por exemplo o CDC. Nós oferecemos essa modalidade de financiamento com taxas muito atrativas para alguns veículos de nossa linha de produtos. Também trabalhamos com nossos concessionários para que, em conjunto, passemos a facilitar o pagamento dos 20% ou 40% que não são cobertos por taxas “normais” do Finame.

TM • De que forma as novas regras podem impactar nos negócios da empresa?

GB • Nós nos preparamos para um 2015 difícil, ajustando o máximo possível nossos estoques e nossa cadência de produção. Assim, fizemos nosso plano de negócios de forma bastante cautelosa, o que significa que, embora é certo que viremos a sofrer impactos, eles não serão tão duros quanto poderiam ser.

TM • Tiveram de rever planos e projeções para 2015? Se sim, o que muda?

GB • Como descrevemos na questão anterior, nós já havíamos feito ajustes para este ano. Inclusive, estamos praticando preços bastante convidativos para nossa linha de pesado International 9800i  desde o final do ano passado, como ação de gerenciamento de nosso estoque. Reduzimos nossa cadência de produção para este primeiro semestre, até termos uma visão mais clara de como o mercado irá se comportar. Mais do que nunca, neste momento o nome do jogo é cautela.

TM • O fato da marca não possuir banco próprio pode fazer com que a empresa perca competitividade e vendas, frente às montadoras que possuem?

GB • A International tem, sim, um banco parceiro que é o De Lage Landen (DLL), e nós sempre trabalhamos conjuntamente para oferecermos alternativas aos nossos concessionários e clientes.

Iveco

A marca italiana informou que vai pôr em prática algumas ações com vistas a ganhar mercado no país. Oferecer alternativas ao Finame é uma delas, e é um ponto importante para a Iveco, que está oferecendo linhas de crédito próprias, por meio do Banco CNH Industrial. Das marcas que estão estabelecidas no país, a Iveco foi uma das primeiras a divulgar seus planos de vendas, que incluem financiamento com entrada de 10% do valor total e prazo de cinco anos para quitar.

Segundo a marca, as condições são válidas apenas para os veículos que possuem o código Finame. Veículos comerciais de transporte de cargas em centros urbanos e extrapesados para escoamento de safra estão incluídos. Outra linha  disponibilizada é a que visa cobrir a fatia que o BNDES não cobriria, de 20% a 40%, em 12 vezes sem juros. Em busca de novos mercados, a marca busca clientes do setor agrícola.

MAN/Volkswagen

A alemã divulgou recentemente uma parceria com o Banco Volkswagen, visando oferecer aos clientes da linha TGX novas condições de financiamento. Os clientes interessados no modelo podem comprá-los com 0% de entrada e financiar até 100% do valor total, em um prazo de até 60 meses com parcelas fixas e taxa de juros de 0,93% a.m. O vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da MAN, Ricardo Alouche, afirma que este novo modelo surge como um complemento ao Finame. “Com a entrada dos TGX no novo pacote de financiamento, todos os segmentos nos quais atuamos estão cobertos. Nossa expectativa é de que as novas condições impactem positivamente nas vendas desse início de ano”, diz.

Mercedes-Benz

O Banco Mercedes-Benz anunciou recentemente uma linha de crédito para os clientes da marca que desejam financiar 100% do valor de ônibus e caminhões, ou uma combinação de 70% financiado pelo Finame e o restante por meio de um contrato de capital de giro com taxas fixas e variação entre 1,05% e 1,29% por mês. “Com as oscilações do dólar e das taxas de juros fica arriscado financiar a totalidade do bem pela parte complementar do Finame PSI, já que pode existir uma desvinculação entre a receita do cliente e sua dívida. Por isso, a instituição está oferecendo uma alternativa de crédito para quem ainda prefere aproveitar os benefícios do Finame, financiando até 100% do veículo. Além disso, há a garantia de que o cliente não ficará suscetível às oscilações do dólar e desvalorização do real, como ocorrido em 1999”, afirma Angel Martinez, diretor comercial do Banco Mercedes-Benz. A solução oferecida pela instituição também possibilita a quitação antecipada de qualquer parte do contrato.

 Volvo

O Banco Volvo, por meio do diretor comercial, Valter Viapina, afirmou que a empresa já opera dentro das novas modalidades do Finame PSI. Além disso, o executivo detalhou para a TRANSPORTE MUNDIAL algumas ações nesse período pós-mudanças nas regras. Uma delas é a de oferecer a parte fixa do Finame. Outra opção é a de fazer o complemento do financiamento com taxa pré-fixada, garantindo ao cliente um custo fixo ao longo do contrato. Segundo Valter, esse modelo pode proteger o cliente de qualquer instabilidade ou flutuação de taxas no mercado financeiro, já que a parcela vai se manter a mesma durante os cinco anos de contrato.

A empresa possui seus critérios próprios de avaliação e pode financiar a porcentagem de 10%, 20% ou 30% restante para empresas de médio porte e até 50% para grandes empresas. Existem também alternativas via CDC oferecidas pelo banco. No CDC os prazos de financiamento podem variar de seis a 60 meses, caso o cliente opte pelo mesmo tempo do Finame. Valter afirma que ainda é cedo para se ter uma análise de quanto o mercado vai ser impactado pelas novas regras e informa que no primeiro mês de vigência, o mercado já sente a redução da demanda. O executivo diz que isso é resultado do desencontro de informações por parte dos clientes. Para finalizar, Valter acrescenta que todas as marcas que possuem seu banco próprio tem um diferencial no momento por poder oferecer soluções diferenciadas ao usualmente, bem como pacotes de consórcio, seguro e condições de financiamento. “O momento é de expectativas, mas, aos poucos, os clientes vão entender o processo de mudanças e as alternativas para eles”, finaliza Valter.