• O que o Brasil pode aprender com os problemas europeus e as soluções sugeridas para reduzir a falta de motoristas
  • Demanda de motoristas na Europa já cresce 44% de janeiro a setembro deste ano, com mercado atrativo para condutores brasileiros
  • 30% dos motoristas se aposentarão até 2026, mas a taxa de substituições mais jovens é 4 a 7 vezes menor 
  • Escassez total na Europa pode chegar a dois milhões até 2026
  • O novo relatório da IRU (União Internacional do Transporte Rodoviário) inclui dados importantes sobre acesso e recurso de motoristas e soluções do setor 

Um novo relatório da IRU mostra que a escassez de motoristas de caminhões, ônibus e ônibus na Europa está fora de controle, alimentada pelo aumento da demanda de transporte e pelo envelhecimento dos profissionais, a principal causa da falta de motoristas.

O abismo crescente entre a aposentadoria e os novos motoristas deve triplicar a taxa de vagas de motorista de caminhão não preenchidas, para mais de 60% até 2026, e aumentar em mais de cinco vezes para motoristas de caminhões e ônibus, para quase 50% até 2026.

O novo relatório avalia seis países que representam dois terços do total do setor de transporte rodoviário da Europa e quatro países para o transporte de passageiros, representando 28% do total. 

Sem ações para tornar a profissão de motorista mais acessível e atraente, a Europa pode não ter mais de dois milhões de motoristas até 2026, impactando metade de todos os movimentos de carga e milhões de viagens de passageiros.

Apesar de os salários dos motoristas serem até cinco vezes superiores aos salários mínimos médios (no Brasil é apenas duas vezes), o relatório traz dados alarmantes sobre as dificuldades de acesso à profissão de motorista, principalmente para os jovens, e sua atratividade, principalmente para as mulheres. 

O secretário-geral da IRU, Umberto de Pretto , disse: “A crise de falta de motoristas na Europa está se acelerando rapidamente, representando uma grande ameaça ao continente se nada for feito. Os caminhões transportam 75% da carga da Europa em volume e 85% de seus produtos perecíveis, de alto valor e médicos, como vacinas e alimentos. Os serviços de ônibus, o modo de transporte coletivo mais utilizado na UE, são fundamentais para os objetivos de descarbonização da Europa.”

“Sem motoristas, a economia, a mobilidade social e o plano climático da Europa vão parar. Mas existem soluções comprovadas, especialmente se a indústria e o governo trabalharem juntos”, acrescentou.

Mulheres e jovens desaparecidos

Há uma baixa proporção de motoristas jovens (6% para carga e 5% para transporte de passageiros), apesar dos bons salários dos motoristas e do desemprego juvenil persistentemente alto em muitos países.

As mulheres também representam apenas uma pequena porcentagem dos caminhoneiros, apesar dos níveis significativos de desemprego feminino em alguns países. A Espanha, por exemplo, tem uma das maiores taxas de desemprego feminino da Europa (14%), mas uma das menores taxas de motoristas de caminhão (2%), em contraste com as motoristas de ônibus (12%). 

Chave de acesso e atratividade

A idade mínima de qualificação ainda é de 21 anos para motoristas de caminhão em cinco países da UE e entre 21 e 24 anos para a maioria das funções de motorista de ônibus em toda a UE, uma enorme barreira para os que abandonam a escola.

Os altos custos de licença e treinamento também são um obstáculo. Na França, uma licença de caminhão custa 5.300 euros, mais de três vezes o salário mínimo médio mensal, enquanto na Alemanha, uma licença de ônibus custa em média 9.000 euros, mais de quatro vezes o salário mínimo mensal.

A segurança, principalmente para as mulheres motoristas, é fundamental para tornar a profissão mais atraente, com 95% dos caminhoneiros e 94% das empresas de transporte colocando-a como sua principal prioridade. No entanto, apenas 3% dos lugares de estacionamento de caminhões existentes na UE são certificados como seguros. 

Soluções na mesa

Os setores público e privado precisam trabalhar juntos para combater a escassez de motoristas. O relatório apresenta 20 soluções que estão sendo implementadas por associações de transporte rodoviário, empresas e transportadores.

As autoridades públicas também precisam tomar medidas para evitar que a escassez aumente, incluindo:

  • Definir a idade mínima de condução aos 18 anos, com formação a partir dos 17
  • Subsidiar os custos de licença e treinamento para novos motoristas
  • Construir áreas de estacionamento mais seguras e protegidas

Os relatórios completos estão disponíveis para os membros da IRU. Estão disponíveis resumos executivos para transporte de carga e passageiros. A NTC & Logística é a representante do Brasil dentro da IRU.

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Marcos Villela
Jornalista técnico e repórter especial no site e na revista Transporte Mundial. Além de caminhões, é apaixonado por motocicletas e economia! Foi coordenador de comunicação na TV Globo, assessor de imprensa na então Fiat Automóveis, hoje FCA, e editor-adjunto do Caderno de Veículos do Jornal Hoje Em Dia e O Debate, ambos de Belo Horizonte (MG).